Prêmio ABRE da melhor tese – 2020

Dos 25 candidatos concorrendo ao prêmio ABRE da melhor tese sobre o Brasil no ano 2020 havia uma vencedora

Nathalia Capellini Carvalho De Oliveira – Université Paris-Saclay

Historicizar as barragens da Amazônia brasileira: meio ambiente, conflito e política na planificação e na construção de Tucuruí (1960 – 1985)

e duas menções honrosas

Fernanda Odilla Vasconcellos de Figueiredo – King’s College London
Oversee and punish: Understanding the fight against corruption involving government workers in the federal executive branch in Brasil   
Alessandra Rondini – Université Jean Moulin Lyon 3 – Università di Genova
Per una traduzione di immagini. Il Nordest degli anni Trenta in Italia. Jorge Amado, Graciliano Ramos e José Lins do Rego: il libro-archivio

 

Nathalia Capellini Carvalho De Oliveira – Université Paris-Saclay

Historicizar as barragens da Amazônia brasileira: meio ambiente, conflito e política na planificação e na construção de Tucuruí (1960 – 1985)

A minha tese Historiciser les barrages en Amazonie brésilienne : environnement, conflit et politique dans la planification et la construction de Tucuruí (1960-1985), feita na Université de Versailles SQY sob a direção do Prof. Gregory Quenet é fruto de uma longa reflexão sobre o papel das hidrelétricas no território Amazônico no Brasil. Eu tenho interesse pela questão energética no Brasil, do ponto de vista das ciências humanas e sociais, desde os meus primeiros anos de graduação em ciências sociais na USP. Foi nesse período que visitei o Pará e o rio Tocantins pela primeira vez e também ouvi falar dos impactos da barragem hidrelétrica de Tucuruí. Porém, foi com as discussões sobre a construção de Belo Monte e seus impactos é que eu decidi começar a minha tese com o objetivo de pensar historicamente a implantação desse tipo de infraestrutura na Amazônia, e o espaço preponderante da hidreletricidade na matriz energética brasileira.
A minha tese trata então do planejamento e da construção da hidrelétrica de Tucuruí no rio Tocantins, situado no estado do Pará. Essa infraestrutura, primeira grande barragem do mundo construída em uma floresta tropical, foi uma das grandes obras civis da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Sua implementação foi realizada por uma empresa pública de eletricidade criada especialmente com esse fim, a Eletronorte.
Partindo de uma multiplicidade de fontes – desde a documentação cinzenta produzida pelo Estado, documentos técnicos, passando pelos arquivos da repressão e pela produção dos movimentos sociais – este estudo reflete sobre a experiência de Tucuruí como um ponto nodal do desenvolvimento dos rios amazônicos e da planificação estatal na região.  Esse processo se inscreve e se constrói em um espaço onde múltiplas temporalidades e escalas se cruzam na produção de uma Amazônia sujeita ao controle do Estado, interesses capitalistas, lógicas econômicas e técnicas, imaginários simbólicos, questões geopolíticas, movimentos sociais, mas também processos biofísicos e hidrológicos.
Este trabalho evidencia assim as relações entre o Estado brasileiro e os recursos naturais da Amazônia a partir de uma perspectiva histórica, enfocando, por um lado, a maneira pela qual um projeto político (aqui o dos militares) engendra um processo de transformação material do espaço através da realização de infraestruturas. Por outro lado, as formas pelas quais uma infraestrutura (aqui hidrelétrica) pode materializar uma visão política específica. No entanto, se a ditadura militar foi um momento crucial durante o qual foram instaladas barragens na Amazônia, meu trabalho mostra que essas infraestruturas fazem parte de uma longa história de desenvolvimento fluvial na região. Nessa perspectiva mais ampla, as relações entre o estado central e as elites regionais, bem como a dinâmica do capital em relação aos recursos amazônicos, foram  centrais. Por fim, essa tese pretendeu ser uma reflexão sobre o lugar de Tucuruí no legado deixado pela ditadura militar na Amazônia, como modelo para os grandes desenvolvimentos da região até hoje.
Convido a todas e todos a ler o meu trabalho e espero que a sua publicação em breve em livro possa ser um subsídio às discussões sobre o futuro Amazônico a partir de uma perspectiva histórica.