Prêmio ABRE da melhor tese – 2019

Havia dois vencedores do prêmio ABRE da melhor tese sobre o Brasil no ano 2019.

Octavie Eugénie Paris – Université Jean Moulin Lyon 3 – Université de Lyon

Habiter un logement populaire locatif du centre-ville: la place des cortiços à São Paulo, Salvador et Belém

 

Daniel Belik – University of St. Andrews

Indigenous Routes: Interfluves and Interpreters in the upper Tapajós (c.1750 to c.1950)

 

 

Octavie Eugénie Paris – Université Jean Moulin Lyon 3 – Université de Lyon

Habiter un logement populaire locatif du centre-ville: la place des cortiços à São Paulo, Salvador et Belém

As moradias populares, como o cortiço ou a pensão, nas cidades brasileiras são pouco estudadas no campo da geografia. Isso se explica, em parte, pelo enfoque dado sobretudo à favela. Esta tese de doutorado procura preencher essa lacuna nos estudos científicos sobre habitação, com base nos discursos dos seus moradores. O cortiço pode ser definido como uma moradia popular de aluguel, coletiva e plurifamiliar, cujo desenvolvimento se faz nos bairros antigos das cidades brasileiras, denominados como “centrais”. Ele é uma solução de moradia anterior à favela e tem, ainda hoje, um lugar importante na paisagem urbana.

Nesta tese, escolhemos estudar o lugar do cortiço em três contextos metropolitanos diferentes: São Paulo, Salvador e Belém do Pará. Isso nos permite abordar a realidade urbana do cortiço em sua diversidade. Além disso, adotamos uma abordagem micro-escalar, entrando nos cortiços e nos quartos para encontrar os moradores e recolher seus depoimentos. A questão do lugar do cortiço – na cidade e para os seus moradores – nos permite desenvolver problemáticas ligadas ao direito à cidade e à manutenção de uma função residencial popular no centro da cidade.

Daniel Belik – University of St. Andrews

Indigenous Routes: Interfluves and Interpreters in the upper Tapajós (c.1750 to c.1950)

Essa tese é uma descrição etnográfica da história indígena e da colonização do rio Tapajós, na Amazônia Brasileira. Ela considera a pacificação dos índios que ocorreram ao longo dos séculos 18 e 19 fornecendo material etnográfico e histórico dos grupos indígenas que circularam pelo Alto e Médio Tapajós examinando suas lógicas de contato interétnico. A pesquisa se baseou em material arquivístico militar e missionário, lido através das concepções que traziam sobre rotas e movimentações tanto dos indígenas como dos colonizadores. Durante o período de penetração na região conhecida, pela geografia da época, como “Mundurucânia”; diversos grupos nativos que viviam nos Campos e à beira dos rios passaram a ser usados não só como mão de obra mas, de modo mais importante, como guias e intérpretes, facilitando a ocupação estrangeira desses áreas de acesso remoto.  Se, por um lado, os grupos indígenas nativos foram explorados pelo movimento colonizador na Amazônia, de outro modo, foram eles que guiaram e direcionaram por onde essa penetração seria feita e com quais grupos teria contato, demonstrando envolvimento ativo e protagonismo nesse processo histórico. Com a chegada dos Frades Franciscanos e o estabelecimento da Missão do Cururu já no inicio do século XX, novas trocas passam a ocorrer entre colonizadores e indígenas, desta vez, através de narrativas de origem daquele espaço e das pessoas que lá habitam. Tal dinâmica de desvios e encontros entre grupos indígenas – direcionando a colonização de uma região – e a valorização de sua práticas locais ainda é um tema pouco explorado dentro da antropologia. Esse trabalho buscou sintetizar a história de colonização de um região da floresta Amazônica Brasileira a partir da lógica nativa de deslocamento. Eu analiso fragmentos de cultura material, míticos e de nomeação entre grupos tal qual aparecem na literatura de viagem de modo a rastrear as dinâmicas espaciais dos grupos indígenas na Amazônia e suas transformações efetuadas na paisagem.