Coordenador(a): Henrique Grimaldi Figueredo (Universidade Federal de Juiz de Fora / Brasil)
Coordenador(a): Paula Guerra (Universidade do Porto / Portugal)
A socióloga Maria Lucia Bueno (2010) argumenta que a moda não é um movimento irracional e aleatório, ao contrário, ela se desenvolve em estreita sintonia com o universo imaginário corrente, constituindo-se em um objeto privilegiado para se desvendar questões que atravessam o contemporâneo ou que condicionaram outros períodos históricos. Essa ideia, que encontra eco no trabalho do sociólogo do imaginário, Frédéric Monneyron (2001), versa na realidade sobre o papel dicotômico corporificado por este campo de conhecimento. Para Monneyron, a moda não se resume a uma resposta cultural, um retrato do mundo social, ela também ajuda a trazer à tona uma nova mentalidade que emerge como simulação de um arranjo social novo. Assim, “se as roupas são uma forma de antecipação social, os estilistas são os visionários dos novos tempos” (Bueno, 2010: 16). Pensar a moda nesses termos – e em particular a moda brasileira em seus trânsitos e diálogos com outras áreas criativas – significa engendrar protocolos de investigação que, com seriedade e empenho, descortinam as complexas condicionantes sociais, políticas e econômicas responsáveis por um certo estado das coisas. Dito de outra maneira, focalizar cientificamente este campo é também a forma de desvelar os poderes responsáveis por sua interdição ou sucesso, permitindo, ademais, apreender os regimes de produção e consumo das “identidades brasileiras” no mundo globalizado. Posto isto, o objetivo deste painel será o de reunir pesquisas das ciências humanas (particularmente da sociologia, antropologia e história social) cujo o interesse seja pensar a moda brasileira na mundialização – isto é, num recorte diacrônico a partir da década de 1990 – diagnosticando e cartografando as suas estéticas, discursos, instituições, agentes e mercados, gerando em consequência um retrato complexo de sua natureza na contemporaneidade.
Até o final da década de 1980 o Brasil não figurava nos circuitos mundiais de moda. A produção interna, muito incipiente e dispersa, recai sobre os ombros de alguns costureiros – em sua maioria autodidatas – e aos quais geralmente se acusava de cultivar uma cultura da cópia, cujo referencial permanecia sendo as passarelas parisienses. A ideia de uma “moda brasileira”, cujo lastro histórico encontra-se na abertura econômica experienciada durante os anos 1990, possui, como constata Miqueli Michetti (2009), condicionantes culturais e econômicos relacionados à globalização, isto é, a moda nacional, diante da entrada de marcas estrangeiras no país e em reação à crescente importação de produtos asiáticos, sobretudo chineses, buscou engendrar algumas soluções.
Ao refletir sobre o projeto de modernização do setor neste período, é possível argumentar que as estratégias mobilizadas foram de duas ordens. De uma perspectiva econômica, houve o investimento de cerca de U$11 bilhões na modernização do parque têxtil nacional e, segundo o catálogo de 2008 do Brasil Fashion, até 2010 mais U$8 bilhões foram disponibilizados para adequar a indústria brasileira às especificidades do circuito internacionalizado. Já do ponto de vista daquilo que podemos chamar de “aspectos simbólicos” da moda, foi notável também o ‘projeto’ para se criar diferenciais que valorizassem as grifes nacionais frente ao competitivo mercado global. Esse programa de enobrecimento simbólico da moda dos trópicos respondeu a um momento muito específico de fins do século XX no qual a diversidade cultural e as identidades nacionais passam a ser identificadas como valores positivos: frente a indistinção cultural de um mundo que se homogeneizava, a ideia de “nação” é retomada como uma operação resolutiva, uma forma de grafar a diferença num circuito de símbolos indistinguíveis (Netto, 2019).
Datar a ideia de um campo da moda nacional nos anos 1990 constitui, todavia, uma ingenuidade tanto histórica como sociológica. Como bem mostram Bonadio (2005) e Michetti (2015), entre 1963 e 1970, a FENIT (Feira Nacional da Indústria Têxtil), teria sido responsável por promover anualmente desfiles no Brasil de importantes nomes franceses como Courrèges, Ted Lapidus, Pierre Cardin e Guy Laroche. Acolhendo nessas mesmas ocasiões espetáculos “brasileiríssimos” organizados por Lívio Rangan junto à Rhodia – “com a participação de músicos nacionalmente célebres, em uma tentativa de emprestar da música brasileira, historicamente ligada à identidade nacional, uma imagem própria para a moda do país” (Michetti, 2015: 174) – é possível então concordar com Elizete Messias (2009) quando ela argumenta que os desfiles da Rhodia organizados por Rangan constituem, decerto, o mito fundador da história do campo da moda no Brasil. Embora historicamente mais acurada, essa ideia, retomada inclusive por Paulo Borges na construção discursiva da São Paulo Fashion Week “como forma de fortalecer e ratificar a semana de moda nacional” (Messias, 2009: 20), pode ser colocada em perspectiva a partir de uma noção de ‘atualização’ que atravessou os anos 1990: reunião entre a materialidade (as marcas, os desfiles, as revistas de moda) e o símbolo (um certo ‘brasilianismo’), essa novo campo encontra-se ancorado num substrato material, sem o qual ele não poderia se expressar (Ortiz, 1991: 29).
Uma espécie de “negociação dinâmica” entre cosmopolitismo e brasilidade (Michetti, 2015: 367), figuras como Alexandre Herchcovitch – que nos anos 1990/2000 desfilou na semana de prêt-à-porter de Paris, na Semana de Moda de Nova York e que pertencia ao calendário fixo da SPFW (Guerra & Figueredo, 2020) – despontaram então como os agentes brasileiros da mundialização ao incorporarem, através de uma codificação temática/estética de seu trabalho e de uma adequação cronológica ao padrão europeu/estadunidense, o ritmo dessa nova modernidade. Reivindicando um caráter “global” para suas criações sem perder, no entanto, uma identidade brasileira responsável por os “distinguir”, criadores como Herchcovitch, Marcelo Sommer, Reinaldo Lourenço, Glória Coelho, Clô Orozco, Ronaldo Fraga, Walério Araújo, Dudu Bertholini e Rita Comparato (Neon), João Pimenta, Lino Villaventura, Amir Slama, Jum Nakao, entre outros, tornaram-se os veículos dessa nova mensagem, uma geração que parecia estar, por fim, ajustando os ponteiros da moda nacional. Tema rico mas ainda pouco explorado na produção científica, este painel visa agregar pesquisadores interessados em colaborar com a escrita da história recente da moda brasileira e das “brasilidades” como vistas, circuladas e consumidas no mercado global.
BONADIO, Maria. Cláudia. O fio sintético é um show!: moda, política e publicidade. (Rhodia S.A. 1960-1970). Campinas, SP, 2005. Tese. (Doutorado em História) Unicamp.
BUENO, Maria Lúcia. Por que ler…Frédéric Monneyron? d’Obras – Revista da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda, 4(10), 15-17, 2010.
GUERRA, Paula & FIGUEREDO, Henrique Grimaldi. Prosopografias clubbers em São Paulo e Londres: moda, estilo, estética e cenas musicais contemporâneas. Revista Tomo, 37(1), pp. 215-252, 2020.
MESSIAS, Elizete Menezes. Tufi Duek e a marca Forum: uma leitura da moda no Brasil. São Paulo, 2009. Dissertação (Mestrado em Moda, Cultura e Arte). Centro Universitário SENAC-SP.
MICHETTI, Miqueli. Moda Brasileira e mundialização: mercado mundial e trocas simbólicas. Campinas, SP, 2015. Tese. (Doutorado em Sociologia) Unicamp.
MONNEYRON, Frédéric. La Frivolité Essentielle. Paris: Presses Universitaires de France, 2001.
NETTO, Michel Nicolau. Do Brasil e outras marcas: nação e economia simbólica nos megaeventos esportivos. São Paulo: Intermeios, 2019.
ORTIZ, Renato. Cultura e Modernidade. São Paulo: Brasiliense, 1991.
Coordenador(a): Luiz Fernando Valente (Brown University / Estados Unidos da América)
Coordenador(a): Clara Rowland (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa / Portugal)
Ao se aproximar o 70º aniversário (2026) da publicação de Grande sertão: veredas e de Corpo de baile, de João Guimarães Rosa (1908-1967), este painel propõe congregar especialistas na obra do grande escritor mineiro, tanto jovens quanto veteranos, para uma reavaliação dessas duas obras primas à luz de diversas metodologias críticas. Estudos comparativos serão especialmente bem-vindos. Embora nossa preferência seja por comunicações em português, o painel está também aberto a trabalhos escritos inglês, espanhol e francês. O objetivo último é a publicação, em revista especializada (Brasil/Brazil: A Journal of Brazilian Literature), das comunicações apresentadas no V Congresso da ABRE como parte das celebrações planejadas para 2026.
Coordenador(a): Carlos Benítez Trinidad (Universidad de Salamanca / Espanha)
Coordenador(a): Poliene Soares dos Santos Bicalho (Universidade Estadual de Goiás / Brasil)
O Brasil se posiciona como um caso paradigmático para o estudo da história indígena e da ecologia política na América Latina. A expansão do extrativismo, o avanço do agronegócio e a implementação de grandes infraestruturas geraram conflitos socioambientais em territórios indígenas, configurando um terreno fértil para a análise da relação entre sociedade e natureza. Este painel propõe reunir apresentações que explorem, a partir de uma perspectiva histórica e multidisciplinar, as tensões e convergências entre políticas públicas, a luta pelos commons e a agência indígena diante impacto ambiental causado pelo desenvolvimento econômico no Brasil.
A história do Brasil está profundamente marcada pela exploração de seus recursos naturais, desde a colonização até o atual contexto de globalização econômica. As políticas extrativistas, centradas na extração e exportação de commodities como minerais, soja e petróleo, promoveram uma transformação radical do território, afetando diretamente as comunidades indígenas. Essas dinâmicas geraram, por um lado, um contínuo processo de expropriação territorial e, por outro, o surgimento de resistências indígenas que, ao longo dos séculos, têm reivindicado o direito à terra, aos recursos e à autodeterminação. Esse contexto de desencontro interétnico e conflitos socioambientais oferece uma oportunidade única para analisar o impacto histórico dessas políticas e as estratégias de agência indígena.
O painel propõe analisar, a partir de uma perspectiva histórica e multidisciplinar, a interação entre políticas públicas, a gestão dos commons e a agência indígena no Brasil, com enfoque específico no impacto sobre os territórios indígenas. Por um lado, serão examinadas as formas como as políticas de desenvolvimento econômico e de conservação ambiental afetaram historicamente as comunidades indígenas, explorando casos emblemáticos em que essas iniciativas resultaram em expropriações territoriais, alterações ecológicas e conflitos socioambientais. Por outro lado, será investigado o papel dos territórios indígenas como espaços de gestão comunal de recursos, desafiando os modelos extrativistas e privatizadores que promovem a mercantilização da terra e da natureza. Nesse contexto, o painel também destacará a agência indígena, analisando as estratégias de resistência, adaptação e negociação desenvolvidas por essas comunidades frente às pressões extrativistas, bem como sua contribuição para o debate sobre sustentabilidade ambiental e justiça ecológica. Por meio dessa discussão, busca-se sublinhar a centralidade das comunidades indígenas na configuração de alternativas mais justas e sustentáveis diante da crise climática e dos desafios do desenvolvimento no Brasil.
A relevância deste painel reside na necessidade de repensar a história do Brasil a partir de uma perspectiva que integre as experiências indígenas e as dinâmicas ambientais. Em um contexto de crise climática global, o estudo dos conflitos socioambientais no Brasil não apenas contribui para a compreensão do impacto histórico do extrativismo, mas também oferece insights para o desenvolvimento de políticas mais inclusivas e sustentáveis. Além disso, este painel busca destacar a agência indígena como um ator-chave na luta pela preservação dos commons e na construção de alternativas ao modelo hegemônico de desenvolvimento.
Espera-se acolher contribuições que abordem estudos de caso históricos e contemporâneos sobre o Brasil, a partir de diversas disciplinas como história, antropologia, estudos culturais, sociologia e geografia. Em particular, serão valorizadas apresentações que se concentrem em:
Conflitos socioambientais em territórios indígenas brasileiros.
Políticas públicas e seu impacto histórico sobre os povos indígenas.
Lutas pela terra e a defesa dos commons em contextos de expansão desenfreada do extrativismo, da agroindústria e da agropecuária.
Estratégias de resistência e organização indígena diante do extrativismo.
Contribuições indígenas para o debate sobre a crise climática e a ecologia política no Brasil.
Este painel busca contribuir para o debate acadêmico sobre história ambiental e ecologia política, promovendo uma abordagem que visibilize as experiências indígenas na configuração do Brasil contemporâneo.
BARRETO FILHO, Henyo Trindade. Populações tradicionais: introdução à crítica da ecologia política de uma noção. Sociedades caboclas amazônicas: modernidade e invisibilidade. São Paulo: FAPESP, 2006, p. 109-143.
BICALHO, Poliene Soares dos Santos. Protagonismo indígena no Brasil: movimento, cidadania e direitos (1970-2009). 2010. 464 f., il. Tese (Doutorado em História) -Universidade de Brasília, Brasília, 2010.
CAVALCANTE, Thiago Leandro Vieira. Etno-história e história indígena: questões sobre conceitos, métodos e relevância da pesquisa. História (São Paulo), 2011, vol. 30, p. 349-371.
CORRÊA, Ângelo Alves. Longue durée: história indígena e arqueologia. Ciência e Cultura, 2013, vol. 65, no 2, p. 26-29.
CORRÊA, Dora Shellard. História ambiental e a paisagem. Historia Ambiental Latinoamericana y Caribeña (HALAC) revista de la Solcha, 2012, vol. 2, no 1, p. 47-69.
DA CUNHA, Manuela Carneiro. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. Editora Companhia das Letras, 2013.
DE ALMEIDA, Maria Regina Celestino. Os índios na história do Brasil. Editora FGV, 2010.
DE CARVALHO, Ely Bergo. A História Ambiental e a” crise ambiental” contemporânea: um desafio político para o historiador. Esboços: histórias em contextos globais, 2004, vol. 11, no 11, p. 105-116.
DOS SANTOS, Maria Cristina. Caminhos historiográficos na construção da História Indígena. Revista de História da Unisinos, 2017.
MARTINEZ, Paulo Henrique. Brasil: Desafios para uma história ambiental. Nómadas (Col), 2005, no 22, p. 26-35.
ZHOURI, Andréa. O ativismo transnacional pela Amazônia: entre a ecologia política e o ambientalismo de resultados. Horizontes Antropológicos, 2006, vol. 12, p. 139-169.
Coordenador(a): Guita Grin Debert (UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas / Brasil)
Coordenador(a): Isabel Georges (IRD – Institut de Recherche pour le Développement, UMR 196 – CEPED – Centre Population et Développement / França)
O objetivo do painel é repensar os nexos, as fronteiras e as formas de articulação entre os domínios público e privado a partir de novos enquadramentos teóricos e empíricos, numa abordagem multi-situada e multi-escalar. Com essa finalidade, são contemplados tanto trabalhos que mobilizem novas chaves analíticas sobre o assunto, quanto etnografias e outras pesquisas empíricas qualitativas, preferencialmente, de objetos específicos que impõem a revisão da relação entre eles.
O interesse é dar continuidade ao painel apresentado na ABRE 2023 de modo a discutir os avanços das pesquisas que problematizam a relação entre os domínios públicos e privados e suas implicações teórico-metodológicas e políticas. As novas configurações do público e do privado nas suas diversas escalas e dimensões serão abordadas, sobretudo, por meio da discussão de temas como os discursos de ódio; as características do cuidado comunitário; o mercado financeiro e endividamento dos setores mais carentes da população e como políticas públicas são vivenciadas e configurados por diferentes atores e setores da população, nas suas interseções com os movimentos sociais e formas do ativismo de diferentes gerações.
Os trabalhos apresentados teriam como horizonte de pesquisa o estudo dos deslocamentos permanentes das fronteiras borradas do público e do privado, mais recentemente também visíveis pela gestão privada do social, fruto das conjunturas globais, nacionais, regionais e locais atuais e de suas múltiplas imbricações no espaço, e no tempo. Nesse contexto do capitalismo contemporâneo e seus corolários, como as crises múltiplas e os mercados políticos, religiosos, morais, identitários, observa-se a emergência de certo número de temáticas novas, como, por exemplo, formas de extrativismo diversas, a serem analisadas à partir de estudos empíricos qualitativos, notadamente, e suas reflexões teórico-metodológicas e epistemológicas correspondentes, serão especialmente bem-vindas.
Debert, G. G. e Felix, J, “A financeirização da velhice e a convergência entre Estado e mercado”. Estudos Avançados v. 38 n.111, 2024. Disponível em:
GEORGES, Isabel, “The commodification of poverty in the Global South: the emergence of a social policy market (São Paulo, Brazil)”, Global Social Policy, 2024, Vol. 24(2), pp. 302-321,https://doi.org/10.1177/14680181241263586
Georges, I., & Araújo Filho, T. P. (2024). In between lived life and a social policy agenda: the Global South social question from the inside (Brazil). Work in the Global Economy (published online ahead of print 2024). Retrieved Nov 17, 2024, from
Coordenador(a): Juliana Chatti Iorio (Instituto de Geografia e Ordenamento do Território – Universidade de Lisboa / Portugal)
Coordenador(a): Katielle Susane Do Nascimento Silva (Universidade Federal de Roraima / Brasil)
O trinómio “saúde-trabalho-habitação” destacou-se como o principal desafio para a integração da população migrante no município de Lisboa, de acordo com o diagnóstico do mais recente Plano Municipal de Integração de Migrantes de Lisboa (PMIML) 2023-2026.
Apesar de Portugal reconhecer a universalidade do direito à proteção e o acesso à saúde às pessoas nacionais e migrantes, tal depende, entre outras, da capacidade económica que estas têm para aceder aos serviços de saúde (Levesque et al., 2013). De acordo com o PMIML 2023-2026, muitas crianças migrantes possuem o índice de massa corporal abaixo do esperado em Lisboa, podendo isto estar relacionado com o facto do menor rendimento das famílias dificultar uma alimentação saudável. As condições de trabalho árduas de muitos migrantes, frequentemente refletidas nos seus rendimentos (Craveiro et al., 2019), ajudam a explicar diversos casos de progressiva deterioração da sua saúde no destino (Hosper et al., 2007). O emprego precário insere-se, portanto, num conjunto de determinantes contextuais que impactam a saúde, com efeitos nas suas dimensões física e mental (Agudelo-Suárez et al., 2020).
A isto associa-se a habitação, componente que também interfere na saúde das populações, designadamente migrantes (Malheiros, Nunes e Possidónio, 2009). Habitações precárias e mobilidades limitadas implicam numa menor capacidade para a procura-utilização dos serviços de saúde (Pandey et al., 2022). Em Lisboa, segundo o PMIML 2023-2026, a concentração de pessoas migrantes em situação menos favorecida tem sido especialmente marcante nalguns territórios, com destaque para os bairros sociais e algumas áreas centrais onde os processos de gentrificação se conjugam com habitações envelhecidas e degradadas. Muitos dos migrantes vivem em alojamentos sobrelotados, existindo situações de subaluguer de quartos e, nalguns casos, das próprias camas, potenciando a insalubridade.
Neste sentido, este painel convida à apresentação de comunicações que explorem as interseccionalidades de fatores que contribuam, ou se apresentam como barreiras, para a integração de migrantes (brasileiros e outros) em Portugal e/ou na Europa, com destaque para as áreas da saúde, trabalho e habitação.
Levesque, J.-F.; Harris, M.F.; Russell, G. (2013). Patient-centred access to health care: Conceptualising access at the interface of health systems and populations. International Journal of Equity Health 12 (18).
Craveiro, D.; Oliveira, I. T. de.; Gomes, M. C. S.; Malheiros, J.; Moreira, M. J. e Peixoto, J. (2019). Back to replacement migration: A new European perspective applying the prospective-age concept. Demographic Research 40: 1323-1344, 2019.
Hosper, K.; Nierkens, V.; Nicolaou, M. & Stronks, K. (2007). Behavioural risk factors in twogenerations of non-Western migrants: do trends converge towards the host population? European Journal of Epidemiology, 22(3), 163–172. https://doi.org/10.1007/s10654-007-9104-7
Agudelo-Suárez, A. A.; Vargas-Valencia, M. Y.; Vahos-Arias, J.; Ariza-Sosa, G.; Rojas-Gutiérrez, W. J.; Ronda-Pérez, E. (2020). Precarious employment and health: A qualitative study in Venezuelan immigrant population in Colombia. Journal of Migration and Health 1–2.
Malheiros, J.; Nunes, S.; Possidónio, D. (2009). Immigrants in the European Union: Features, Trends and Vulnerabilities in A. Fernandes e J.P. Miguel, Health and migration in European Union: better health for all in an inclusive society. Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, Lisboa, pp.33-52.
Pandey, M.; Kamrul, R.; Michaels, C. R.; McCarron, M. (2022). Identifying Barriers to Healthcare Access for New Immigrants: A Qualitative Study in Regina, Saskatchewan, Canada. Journal of Immigrant and Minority Health 24, 188–198.
Coordenador(a): Rosana Baeninger (Universidade Estadual de Campinas / Brasil)
Coordenador(a): Érika Masanet Ripoll (Universidade de Valencia / Espanha)
Os processos migratórios internacionais passaram a compor as agendas acadêmicas e governamentais nos últimos dez anos, indicando o Brasil no século XXI como espaço migratório global; fenômeno que, por sua vez, também reconfigura a emigração brasileira nas últimas décadas, em especial rumo à Europa. Os desafios para as migrações internacionais – contemplando sua face da emigração – implicam em revisões conceituais acerca das novas mobilidades, modalidades e explicações desse fenômeno social, com análises teórico-conceituais que contemple uma abordagem global. O painel busca-se analisar o lugar do Brasil na nova ordem geopolítica global das migrações internacionais e seus desafios para a emigração brasileira e para sujeitos migrantes: brasileiras e brasileiros vivendo no exterior e o acirramento do preconceito e do racismo. A problemática central do painel se assenta nas novas rotas da emigração brasileira, suas modalidades migratórias e os desafios de permanência, trânsito e interação social na sociedade de destino, com a crescente discriminação, preconceito e xenofobia.
O objetivo principal é conhecer e analisar as transformações nos processos migratórios internacionais, neste século XXI, contemplando, particularmente, a face complementar de tais processos e suas modalidades migratórias: a emigração internacional brasileira, suas características, composição e ampliação de espaços da migração. Focaliza o contexto das migrações internacionais considerando um olhar ampliado para a compreensão do Brasil na rota das migrações internacionais: desde as migrações fronteiriças até o crescente incremento da emigração brasileira para o Norte Global. O painel busca debater a complexidade dos processos migratórios atuais com as novas modalidades migratórias e suas configurações, incluindo a dimensão de gênero e raça, nos diferentes países de destino da emigração brasileira.
A relevância do painel, do ponto de vista teórico, é contribuir para debates referentes aos processos migratórios transnacionais, calcados em apreender as novas mobilidades da população (Wenden, 2001; Peixoto, 2020) e as modalidades migratórias (Domenach e Picouet 1995; Wenden, 2001) presentes nos processos migratórios Do ponto de vista metodológico, o painel traz a necessidade de enfrentar os desafios das fontes de dados e das metodologias mistas (Ariza e Velasco, 2012) para apreender o fenômeno migratório no século XXI, em especial a emigração.
As novas mobilidades (Wenden, 2001) conformam e constituem os heterogêneos processos no âmbito da “era da mobilidade” (Castles e Miller, 2003; Urry, 2000). De acordo com Canales (2015) o modelo migratório da era global participa da reprodução da sociedade como reprodução demográfica, como reprodução da economia e do capital, como reprodução da estratificação e das desigualdades sociais. A realidade atual evoca complexidades entre o local e o global (Giddens, 1991), transformando e reconfigurando as migrações internacionais.
A relevância da migração como um sistema global translocal e transnacional de reprodução social permite “articular el proceso de reproducción social de la población nativa en los lugares de destino con la reproducción social de la población en los lugares y comunidades de origen” (Canales, 2015, p. 154). Nesse sentido, estas articulações ocorrem como mecanismos de reprodução social na origem e no destino migratório, por meio de um sistema transnacionalizado. As redes sociais e as remessas produzem, de um lado, um sujeito migrante específico – “al trabajador cuyo trabajo consiste precisamente dar sustento a la reproducción social de clases sociales medias y altas en los países de destino” (Canales, 2015, p. 155) – e, de outro, a reprodução das famílias na origem. Assim, a reprodução social passa também a ser globalizada, com a migração internacional produzindo a intersecção entre os processos locais de reprodução social, interconectando a reprodução social de uns e outros no contexto global das desigualdades sociais.
Essas análises nos conduzem, portanto, à discussão sobre os limites do “nacionalismo metodológico” (Wimmer e Glick-Schiller, 2003) para o entendimento dos processos migratórios. Autores como Wimmer e Glick-Schiller (2003), Sassen (2010), Guarnizo et al (2003) apresentam conceitos que transplantam o Estado-nação como o detentor dos processos sociais. Levitt e Glick-Schiller (2007) apontam a emergência de processos sociais que cruzam as fronteiras geográficas, culturais e políticas dos países de origem e de destino, a partir do envolvimento simultâneo dos migrantes, ou ainda, “transmigrantes”, nessas duas sociedades. De Haas (2005) enfatiza a necessidade de se reconhecer nos movimentos migratórios internacionais da atualidade a possibilidade para os migrantes e suas famílias viverem transnacionalmente e adotarem identidades transnacionais. Castles e Miller (2003) apontam cinco tendências gerais no panorama das migrações internacionais contemporâneas: a globalização da migração com crescimento das áreas de origem dos migrantes; a aceleração do volume de migrantes; a diversidade de modalidades migratórias; a feminização crescente dos fluxos; e, a politização da imigração com a adoção de políticas nacionais, bilaterais e regionais.
Assim, este painel busca discutir as novas mobilidades e suas modalidades na emigração brasileira contemporânea, que trazem ao debate as dimensões transnacionais (Guarnizo, Portes e Haller, 2003; Glick-Schiller, 2007), o sistema migratório (Peixoto, 2004), a circulação de pessoas ( Castles e Miller, 2004), a circulação de cérebros (De Haas, 2010), o reassentamento dos imigrantes refugiados, as deportações, dentre outros que não estão presentes nas noções clássicas de integração e ordem correspondentes no Estado-nação (Wimmer e Glick-Schiller, 2003).
Nesse sentido, o painel pretende incorporar diferentes modalidades migratórias presentes na emigração brasileira, a partir das quais se identifica distintas formas de instalação e permanência na sociedade de destino, de acordo com o tipo de migrante, gênero, raça, a modalidade da migração e a forma de interação social que estabelece.
Portanto, a relevância deste painel se assenta no desafio teórico e metodológico dos estudos acerca da emigração brasileira, que se impõe pela diversidade de fluxos, de situações, de permanência, de seletividade, de afinidades eletivas, da não-formação de comunidades, de idas-e-vindas, de reemigração, remessas, de reversibilidades (Domenach e Picouet, 1990), imersos em espaços de vida (Courgeau, 1990) e em multiespacialidades (Ariza e Velasco, 2012) que transcendem as fronteiras do Estado-nação.
ARIZA, M.; VELASCO, L. (ed.). Métodos cualitativos y su aplicación empírica: por los caminos de la investigación sobre migración internacional. México: Instituto de Investigaciones Sociales-UNAM; El Colegio de la Frontera Norte, 2012.
BAENINGER, R. Contribuição da Academia para o Pacto Global da Migração: o olhar do Sul. In: BAENINGER, R. et al. (org.) Migrações Sul-Sul. Campinas, SP: – NEPO/UNICAMP, 2018, p. 17-22.
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URRY, J. Sociology beyond societies: mobilities for the twenty-first century. Florence, KY, USA: Routledge, 2000.
WENDEN, C. W. Un essai de typologie des nouvelles mobilités. Hommes & Migration, Paris, n. 1233, p. 5-12, 2001.
WIMMER, A; GLICK-SCHILLER, N. Methodological nationalism, the social sciences, and the study of migration: an essay in historical epistemology. International Migration Review, New York, NY, v. 37, n. 3, p. 576-610, 2003.
Coordenador(a): Fabiana Marchetti (Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP-ASSIS) / Brasil)
Coordenador(a): Nuno Medeiros (Centro de Estudos Comparatista – Universidade de Lisboa / Portugal)
O livro se afirma, cada vez mais, como um objeto de pesquisa para os historiadores, sociólogos, beletristas e outros pesquisadores das ciências humanas e sociais. Os trabalhos das respectivas áreas se diversificam nas perspectivas econômica, política, e cultural, e essa realidade não poderia ser diferente para os estudos brasilianistas. A história do Brasil passa pela relação da sociedade com as mídias impressas. Estas, por seu turno, dinamizam desde atividades do comércio e da indústria, passando pelas redes educacionais e culturais que promovem o seu consumo, até chegarmos em instituições e organizações políticas nas quais o livro se torna um instrumento de ação. Em todas essas esferas os circuitos do impresso e, de modo particular, do livro estabelecem redes que conectam a realidade brasileira e seus sujeitos nacional e internacionalmente.
Consideramos para este painel a ideia de economia do livro, tal como a conceberam Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, em O Aparecimento do Livro, de 1958. O livro, a partir dessa abordagem, deve ser entendido como fermento que mobiliza relações humanas de produção e sociabilidade, podendo contribuir para o surgimento de processos de transformação social. No que diz respeito à tradição brasileira, e brasilianista, é preciso lembrar o estudo clássico de Laurence Hallewell, cuja análise se voltou preferencialmente para os profissionais do livro, com especial atenção para os editores.
Com a proposta do painel, pretendemos reunir pesquisadores que se dedicam a construir uma história do livro no Brasil. A este campo de estudos interessa agregar pesquisas de diferentes áreas em uma perspectiva de debate sobre o livro e seu papel em relação aos circuitos de produção e circulação livreira, trajetórias individuais e coletivas de intelectuais e profissionais do livro, circulação de ideias, conceitos e debates a partir de edições, bem como a relação do livro com trocas diplomáticas, movimentos sociais, bibliotecas e instituições.
BARBIER, F. História do Livro. São Paulo: Paulistana, 2008.
CANDIDO, A. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: Martins, 1959.
CANDIDO, A. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro Sobre o Azul, 2010.
CHARTIER, R. & ROCHE, D. ‘O Livro: uma Mudança de Perspectiva’. In: LE GOFF, J. & NORA, P. (orgs.). História: Novos Objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
DARNTON, Robert. O Beijo de Lamourette. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
FEBVRE, Lucien & MARTIN, Henri-Jean. O aparecimento do Livro. São Paulo: Edusp, 2017.
GRAMSCI, A. Os Intelectuais e a Formação da Cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1979.
HALLEWELL, Laurence. O Livro no Brasil: sua história. São Paulo: Edusp, 2012.
LAJOLO, M. & ZILBERMAN, R. A formação da Leitura no Brasil. São Paulo, Ática, 1996.
MACHADO, U. História das Livrarias Cariocas. São Paulo: Edusp, 2012.
MACHADO, U. Pequeno Guia Histórico das Livrarias Brasileiras. Cotia, Ateliê Editorial, 2009.
MCKENZIE, D. F. Bibliografía y Sociología de los Textos. Madrid: Ediciones Akal, 2005.
MICELLI, Sérgio. Intelectuais e Classe Dirigente no Brasil (1920-1945). São Paulo: Difel, 1979.
MOLLIER, J. Y. O Dinheiro e as Letras: História do Capitalismo Editorial. São Paulo: Edusp, 2010.
Coordenador(a): Beatriz Teixeira Weber (Programa de Pós-graduação em História – Universidade Federal de Santa Maria / Brasil)
Coordenador(a): Natacha Klein Kafer (Centre for Privacy Studies – University of Copenhagen / Dinamarca e Lund University / Suécia)
A proposta de painel visa agregar trabalhos que reflitam o papel feminino em diferentes contextos sociais, levando em conta a manifestação de mulheres enquanto agentes históricos no mundo transatlântico. A constituição de propostas possíveis de intervenção feminina em várias situações diferentes, seja como migrantes, como escravas, atuando em atividades profissionais possíveis, como redatoras em periódicos e curandeiras em momentos históricos diversos, demonstrando um protagonismo para além das condições de opressão dos mundos coloniais e patriarcais. Há formas de sobrevivência às violências de gênero que estabeleceram possibilidades de intervenção social, criando conhecimentos e espaços de agência mesmo em estruturas opressivas. Usando um âmbito temporal amplo, desde o período do Brasil colonial até hoje, o painel utilizará exemplos de mulheres que demonstram o poder transformativo de seus saberes, ações e engajamentos em vários grupos e comunidades.
A temática de gênero tem sido fundamental para a discussão da sociedade contemporânea, com seus muitos desafios. O estudo da atuação feminina em diversos contextos traz a possibilidade de refletirmos como a agência dessas personagens foi fundamental para a compreensão das relações sociais ao longo da história. Não visamos apenas a perspectiva feminina, mas a possibilidade de entendermos como os agentes sociais interagem, pensando as condições de gênero, etnia, condição social, dentre os vários aspectos complexos que compõe as relações. São múltiplas relações que precisam adquirir visibilidade para compreendermos como mantêm-se dificuldades ainda contemporâneas, como relações patriarcais e variadas discriminações. A opção por um recorte temporal amplo visa oferecer a possibilidade de compararmos como essa atuação ocorreu em situações diversificadas, pensando nos elementos comuns que possam tê-las aproximado.
Cook, Harold J., and Timothy D. Walker.‘Circulation of Medicine in the Early Modern Atlantic World’. Social History of Medicine 26, no.3 (1 August 2013): 337–51.
Gurgel, Cristina. Doenças e Curas: O Brasil Nos Primeiros Séculos. São Paulo: Editora Contexto, 2010.
Käfer, Natacha Klein, and Natália da Silva Perez. Women’s Private Practices of Knowledge Production in Early Modern Europe. Cham: Springer International Publishing AG, 2024.
Mignolo, Walter D. Local Histories/Global Designs: Coloniality, Subaltern Knowledges, and Border Thinking. Princeton: Princeton University Press, 2012.
Miranda, Carlos Alberto Cunha. A arte de curar nos tempos da Colônia: limites e espaços da cura. 2a ed. rev., Ampliada e atualizada. Recife: Editora Universitária UFPE, 2011.
Morgan, Jennifer L. Reckoning with Slavery: Gender, Kinship, and Capitalism in the Early Black Atlantic. Durham: Duke University Press, 2021.
Schiebinger, Londa L. Secret Cures of Slaves: People, Plants, and Medicine in the Eighteenth-Century Atlantic World. Stanford, California: Stanford University Press, 2017.
Schiebinger, Londa L. Plants and Empire: Colonial Bioprospecting in the Atlantic World. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 2004.
Seth, Suman. “Race, Seasoning, and Strangeness: The Problem of Mobility in Early Modern Science and Medicine.” Global Intellectual History 8, no. 4 (June 14, 2022): 1–19.
Scott, Joan W., and Nazarian, E. A fantasia da história feminista. Belo Horizonte: Autêntica, 2024.
Coordenador(a): Rita Olivieri-Godet (Université Rennes 2 / França)
Coordenador(a): Rubelise da Cunha (Universidade Federal do Rio Grande / Brasil)
O pensamento indígena e suas produções no âmbito filosófico, literário e artístico ocupam, definitivamente, um lugar de destaque no cenário cultural contemporâneo brasileiro. A proposta do painel está voltada para a análise da abrangência da contribuição dessa produção. Dos múltiplos questionamentos e reflexões que dela emanam destaca-se a revisão da história colonial, denunciando a espoliação dos territórios indígenas no processo de formação dos Estados-Nações e a persistência da herança colonialista na violência do Estado-Nação capitalista. O embate político, no entanto, não está dissociado do embate epistemológico, pelo contrário, os artefatos literários e artísticos indígenas são atravessados por uma perspectiva cosmopolítica que desconstrói a ontologia naturalista e critica a lógica de expansão capitalista.
Por conseguinte, inauguram novos paradigmas no campo das ciências ambientais e humanas. Suas cosmovisões integram relações especiais de conexão entre corpo e território, munindo de agência os seres não humanos. Preocupam-se com a transmissão da cultura ancestral, com destaque para as questões linguísticas, as crenças e as práticas tradicionais. No campo literário, contribuem para a introdução e circulação de produções discursivas que renovam as discussões em torno dos gêneros literários, das relações entre oralidade e escritura, das questões relativas à autoria individual e coletiva, dos problemas relativos à tradução. Contribuem, sobretudo, para promover travessias imaginárias que nos conectam com outras formas de ser e de estar no mundo. Todas essas questões são comuns às produções indígenas que circulam na contemporaneidade, embora, evidentemente, cada etnia possua suas próprias singularidades históricas e culturais. A proposta do painel estrutura-se em quatro grandes eixos:
– Parâmetros da crítica do pensamento indígena à epistemologia ocidental
– Características e principais atores do “artivismo” indígena
– A intensificação da circulação das textualidades indígenas e seus desdobramentos inovadores no sistema literário brasileiro
– Leituras críticas da produção da literatura indígena contemporânea no Brasil
CARVALHO, Fábio Almeida de; FONSECA, Isabel Maria; RAPOSO, Celino Andrade (orgs.). Leitura e textos indígenas. Boa Vista, RR: Editora da UFRR, 2019.
CUNHA, Rubelise da. “O arco em palavra: a reinvenção do presente nas crônicas de Daniel Munduruku”. Pontos de interrogação – Revista de Crítica Cultural 4(2):71, p. 71-84, novembro 2015.
https://www.researchgate.net/publication/323671493OarcoempalavraareinvencaodopresentenascronicasdeDanielMunduruku
DESCOLA, Philippe. L’écologie des autres. L’anthropologie et la question de la nature. Versailles: Editions Quae, 2011.
ESCALANTE, Emilio del Valle. Teorizando las literaturas indígenas contemporâneas. Raleigh, NC: Editorial A Contracorriente, 2015.
FIOROTTI, Devair. «Taren, eren e panton: poetnicidade oral Macuxi”. Estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 53, p. 101-127, jan./abr. 2018, p. 101-127.https://www.scielo.br/j/elbc/a/fzmLm7XjJsvFCzNRYcHgxdD/?lang=pt
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
KRENAK, Ailton e ROLNIK, Suely. «Constelações insurgentes: fim do mundo e outros mundos possíveis”. Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, 11 de outubro de 2019.
KOPENAWA, Davi e ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Tradução de Beatriz Perrone Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
LATOUR, Bruno. Face à Gaïa. Paris: La Découverte, 2015.
LÖWI, Michel. O que é ecossocialismo. São Paulo: Cortez, 2014.
MIGNOLO, Walter. La désobéissance épistémique. Rhétorique de la modernité, logique de la colonialité et grammaire de la décolonialité. Bruxelles: Peter Lang, 2015.
OLIVIERI-GODET, Rita. Vozes de mulheres ameríndias nas literaturas brasileira e quebequense. Rio de Janeiro: Edições Makunaima, 2020.
http://www.edicoesmakunaima.com.br/wp-content/uploads/2022/07/vozesdemulheres-amerindias.pdf
THIÉRION, Brigitte. “Trajetórias improváveis e polêmicas de um mito originário: de Makunáima a Macunaíma e Makunaimã. Histórias e identidades. In: DIAS, André; JOBIM, José Luís; GARCIA, Mireille; OLIVIERI-GODET, Rita (org.). Modernismo brasileiro: prenúncios, ecos e problemas. Rio de Janeiro, RJ: Makunaima, 2022, p. 88-106.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem – e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
Coordenador(a): Renata Ferreira Costa (Universidade Federal de Sergipe / Brasil)
Coordenador(a): Marcus Dores (Universidade de Évora / Portugal)
Este painel explorará práticas filológicas e de crítica textual aplicadas a documentos em português, destacando sua importância para a preservação da memória cultural e a valorização do patrimônio textual histórico em uma língua pluricêntrica que, em um movimento de expansão e interação, se espalhou por vários continentes e contextos socioculturais. Ao reunir pesquisadores de diferentes áreas, nosso objetivo é promover um diálogo interdisciplinar sobre os desafios e avanços, inclusive tecnológicos, que impactam a preservação e interpretação de textos, sublinhando a relevância da Filologia no cenário das humanidades globais.
A Filologia, como prática de análise, preservação e interpretação de documentos, desempenha um papel essencial na mediação cultural e na construção de narrativas históricas. Em Os poderes da filologia, Hans Ulrich Gumbrecht define a Filologia como uma forma de mediação cultural, onde o ato de preservar e interpretar textos conecta passado e presente (Gumbrecht, 2021). Essa abordagem é especialmente pertinente em relação aos documentos em língua portuguesa, cuja diversidade e complexidade exigem metodologias que articulem desafios locais e globais.
César Nardelli Cambraia (2005) reforça que as práticas filológicas são indispensáveis tanto para a preservação de textos quanto para a compreensão de suas relações com os contextos socioculturais de origem, resgatando memórias e valorizando identidades culturais. Além disso, Segismundo Spina (1994) destaca que a crítica textual vai além da reconstrução de textos, revelando as múltiplas dimensões históricas, sociais e culturais dos documentos e as intenções subjacentes à sua escritura.
Nesse contexto, a preservação e edição de documentos em língua portuguesa — incluindo textos literários, cartas, manuscritos científicos, registros jurídicos e outros tipos de textos — tornam-se práticas fundamentais para garantir o acesso ao patrimônio histórico e para fomentar novas narrativas sobre a diversidade cultural associada à língua.
Este painel propõe reunir comunicações orais que explorem práticas filológicas e de crítica textual aplicadas a documentos oriundos de diferentes regiões do mundo lusófono, abrangendo não apenas o Brasil, mas também países e comunidades que compartilham a língua portuguesa em seus variados contextos históricos e contemporâneos. Ferramentas de digitalização e preservação digital ampliam o acesso a fontes e otimizam as práticas filológicas, mas também levantam questões éticas sobre a reprodução de conteúdos sensíveis e a integridade dos documentos originais. Assim, as reflexões de Gumbrecht sobre curadoria textual dialogam diretamente com as demandas contemporâneas de preservação e disseminação do patrimônio histórico e cultural, em escala transnacional.
O painel buscará, portanto, estimular um diálogo interdisciplinar e internacional sobre a relevância dessas práticas, sublinhando como o trabalho filológico, ao lidar com a língua portuguesa em suas múltiplas variantes e em seus diversos contextos, contribui para o fortalecimento das humanidades globais.
Blecua, A. (1983). Manual de crítica textual (reimpr. 1990). Madrid: Ed. Castalia.
Cambraia, C. N. (2005). Introdução à crítica textual. São Paulo: Martins Fontes.
Castro, I. (1990). Editar Pessoa (Edição Crítica de Fernando Pessoa, Coleção Estudos, Vol. 1). Lisboa: Imprensa Nacional; Casa da Moeda.
Gumbrecht, H. U. (2021). Os poderes da filologia: dinâmica de conhecimento textual (G. P. Bellin & C. R. Camargo, Trads.). Rio de Janeiro: Contraponto.
Spaggiari, B., & Peruggi, M. (2004). Fundamentos da crítica textual. Rio de Janeiro: Lucerna.
Spina, S. (1994). Introdução à edótica: crítica textual (2ª ed.). São Paulo: Ars Poética; Edusp.
Coordenador(a): Mônica Schpun (CRBC EHESS / França)
Coordenador(a): Sónia Ferreira (CRIA NOVA FCSH / Portugal)
Este painel temático busca reunir pesquisadores tratando da experiência urbana dos (i)migrantes, nos séculos XIX a XXI, que sejam estrangeiros no Brasil ou brasileiros pelo mundo. Interessa confrontar estudos de caso em que tais atores deixam suas marcas no espaço urbano. Trata-se, em primeiro lugar, de trazer à tona as formas de hospitalidade, os conflitos e as barreiras que se impõem e permeiam essa entrada de forasteiros nas cidades. E, em segundo lugar, de enfocar dinâmicas urbanas graças às quais, através das quais ou apesar das quais, segundo estratégias individuais e/ou coletivas, os (i)migrantes inserem-se no tecido urbano, agindo sobre ele, transformando-o e reagindo às normas que, em muitos casos, buscam circunscrever e regular sua presença, limitar sua visibilidade. O processo é duplo: parte das formas tomadas pela vida urbana e, também, do agir dos (i)migrantes que, enquanto atores sociais ativos, intervêm, reagem, ocupam o espaço das cidades e fazem-se mais ou menos visíveis segundo os contextos, as conjunturas, as sobre-determinações históricas mais ou menos favoráveis. Os estudos de caso podem contemplar, também, as migrações internas no Brasil que, são, muitas vezes, prévias às migrações internacionais de brasileiros, ou indicadoras dos primeiros momentos da experiência de estrangeiros no país, tanto quando os estudos que destacam marcadores de diferença como raça, gênero, gerações, entre outros, para além da nacionalidade.
Consideramos o estudo das migrações brasileiras e das migrações no Brasil em contexto urbano um campo de estudo particularmente importante e profícuo e nesse sentido, desde a constituição da ABRE, que temos vindo a propor um painel (com várias sessões) sobre esta temática. O congresso apresenta-se como a oportunidade de reunir os estudiosos de forma presencial e também permite aos doutorandos e jovens investigadores apresentarem os seus trabalhos e aderirem à ABRE. No último congresso reunimos 5 sessões (desdobramentos do painel) graças ao interesse que o tema suscita, abrindo a porta não só aos investigadores séniores como aos jovens, num importante momento presencial de partilha.
Blanc-Chaléard, Marie-Claude et al., org. 2007. Les Petites Italies dans le monde. Rennes: Presses Universitaires de Rennes.
Ferreira, Sónia. 2020. “Producteurs des médias et entrepreneuriat ethnique à Rio de Janeiro, Revue Brésil, 17, Maison des Sciences de l’Homme, 1-22.
Margolis, Maxine L. Little Brazil. 1994. An Ethnography of Brazilian Immigrants in New York City. Princeton (NJ): Princeton University Press.
Paulo, Heloísa. 2000. Aqui também é Portugal: a colônia portuguesa do Brasil e o Salazarismo. Coimbra, Quarteto.
Pinto, Paulo H. R. 2010. Árabes no Rio de Janeiro: uma identidade plural. Rio de Janeiro: Cidade Viva Editora.
Schpun, Mônica Raisa. 2011. Justa. Aracy de Carvalho e o regarte de judeus: trocando a Alemanha nazista pelo Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Coordenador(a): Aldenor Batista da Silva Junior (Universidade Federal da Grande Dourados / Brasil)
Coordenador(a): Francisco José Rebordinos Hernando (Universidade de Salamanca / Espanha)
En este trabajo nos preguntamos por el sentido social del museo dedicado a la educación, de los muchos museos pedagógicos que entre nosotros han aflorado por doquier en las últimas décadas, con más y menos fortuna. Un museo pedagógico debe desempeñar una función de apoyo al investigador en historia de la educación, pero sin dejar de lado la tarea educativa de los miembros de la comunidad, sea cual fuera su edad y formación. El museo pedagógico debe concebirse como una institución educativa abierta al disfrute de toda la comunidad, y a su servicio social, incluso económico. Más allá de las modas culturales y coyunturas científicas o políticas, y con independencia de las modalidades de museos pedagógicos que podemos identificar cerca de nosotros, conviene prestar atención al valor social y comunitario que posee el recurso patrimonial que representa un museo pedagógico.
La incorporación del método etnográfico a la investigación en educación, en particular al ámbito histórico educativo, y la llamada etnografía educativa han despertado en el seno de nuestra comunidad científica de historiadores de la educación un creciente interés lector e investigador por este campo, y han generado en los estudios de historia de la educación nuevas formas de análisis y hermenéutica, complementarias de otras ya exploradas o insertas en ese proceso.
Pero si nos referimos de manera concreta al movimiento del museísmo pedagógico, la visibilidad del concepto que acoge este sintagma, y el tipo, diversidad y calidad de prácticas educativas y de expresiones institucionales pedagógicas y culturales que representa, nos conduce a la percepción de una imagen sorprendente, la de un movimiento que en España apenas balbuceaba solo dos décadas atrás, y hoy se ha erigido en un campo atractivo e imprescindible en nuestra historiografía. Algunos de los trabajos de J. Ruiz Berrio (2006, 2010), V. Peñ a Saavedra (2003, 2004.), J. M. Hernández Díaz (1993, 1997, 2000, 2003a, 2003b, 2009, 2010, 2011), P. L. Moreno (2010), V. Juan Borroy (2008), C. Agulló (2011), y las actas de los coloquios o jornadas organizadas por la creada Socie- dad Española para el Estudio del Patrimonio Histórico Educativo (nacida oficialmente en 2004 y promovida de forma incansable y certera por Julio Ruiz Berrio), entre otros muchos textos, monografías y artículos de revistas, nos permiten entrar de lleno en un campo vasto, de amplia y densa información, pero necesario para comprender en directo la rápida evolución que ha vivido el tema del museísmo pedagógico en España, así́ como también en otros países de Europa, Asia y América Latina y del Norte. El nuevo museísmo pedagógico viene caminando muy rápido, desarrollando varias direcciones y ámbitos educativos y se sitúa dentro, pero también más allá́, de la cultura escolar explícita. El museo de la educación, el museo pedagógico ha comenzado a erigirse en una oportunidad para la mirada de un espectador que no solo es experto en educación, o en historia de la educación en concreto, sino que también es un ciudadano normal, con cierto grado de cultura, y con un creciente nivel y capacidad de explorar y apropiarse de una lectura con sentido emotivo y esté tico hacia un objeto y ambiente de significación pedagógica, del pasado y de la actualidad.
Un museo en general, y un museo pedagógico en concreto, que no suscite sensibilidad, emoción, sugerencias interpretativas, sensaciones nuevas, placer intelectual y esté tico que invite a una nueva mirada al visitante, que no cale en el corazón y las emociones de quienes acuden no merecería la condición de ser reconocido como museo. Por ello, el museo debe ser concebido como un espacio de sentido (Zunzunegui, 1990), y, si adopta el adjetivo de pedagógico, el museo debe lograr alcanzar sentido educativo, formativo para quien se aproxime a su disfrute. Así́ se puede situar en la raí z de lo que desde el origen de los museos resulta decisivo, como es la capacidad de suscitar creatividad, preguntas, como espacio de originalidad, de búsqueda de sentido, de invitación a la hermenéutica. De esa forma se aproxima a lo que en su origen fuera el primer Museo de Alejandría, el lugar de las musas en sentido literal original (mouseion), el lugar por excelencia en la Antigüedad para el cultivo de la sensibilidad, el espacio adecuado para la inspiración del saber y la oportunidad visible para la creación original en todos los campos del saber y la ciencia.
La importancia de la propuesta se justifica, pues su construcción resulta de la continuidad y ampliación de la trayectoria formativa e investigativa, enfocada en políticas, planificación, gestión educativa e historia de la educación en Iberoamérica, especialmente la Investigación en curso, con énfasis en el proceso de desarrollo tecnológico de Educación actual.
CANDAU, Vera Maria (Org.). Diferenças culturais e educação: construindo caminhos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2011.
DÍAZ, Hernández, J. M. “MUSEISMO PEDAGÓGICO, CONTEXTO Y CIUDADANIA.” Aula: revista de ensenanza e investigacion educativa, vol. 22, annual 2016, pp. 159+. Gale OneFile: Informe Académico, link.gale.com/apps/doc/A545669578/IFME?u=anon~438f4c21&sid=googleScholar&xid=318 10d7e. Acesso em: 15 mai. 2023.
SILVA JUNIOR, Aldenor B.; URT, Sonia C. O enfrentamento da violência na escola: o que as produções científicas apontam como medidas?. Psicol. educ. [online]. 2021, n.53, pp. 55-65. ISSN 1414-6975. Disponível em: http://dx.doi.org/10.23925/2175-3520.2021i53p55-65. Acesso em: 28 mai. 2023.
Coordenador(a): Artur Simões Rozestraten (Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo (FAUUSP) / Brasil)
Coordenador(a): Eduardo Paschoal (EHESS – Paris / França)
Este painel tem por intuito o compartilhamento e o diálogo a respeito de pesquisas dedicadas às representações e aos imaginários em vários campos do conhecimento, que buscam abordar as relações e as experiências com as cidades. Tais pesquisas enraízam-se no Grupo de Pesquisa CNPq “Representações: Imaginário e Tecnologia” RITe, associado ao Centre des Recherches Internationales sur l’Imaginaire CRI2i. Para isso, propomos uma reflexão transdisciplinar acerca das expressões dos imaginários, das formas subjetivas de interação com os ambientes urbanos, das representações das cidades e dos corpos em contextos hegemônicos e não-hegemônicos, das interações e participações coletivas. Incluem-se estudos em Arquitetura, Urbanismo, Comunicação Audiovisual, Ciências Sociais e áreas afins.
Ao olharmos para as imagens geradas a partir das cidades e seus sujeitos, propomos compreender as dinâmicas de produção, circulação e interpretação dos objetos culturais a partir dos contextos e territórios em que são feitos. Da mesma maneira, nos interessam as disputas e tensionamentos políticos a partir dessas diferentes formas de mobilização dos imaginários e das representações.
Em uma perspectiva contemporânea, nos motivam ainda questões críticas sobre a circulação dos imaginários e representações em rede, na construção de uma experiência sensível das cidades, seja em uma perspectiva de memória, seja no presente e nos anseios projetuais para o futuro. Nesse sentido, a abordagem tecnológica está presente nas análises da relação com as cidades em uma dimensão das experiências e das interações, tanto em lugares concretos, físicos, quanto na elaboração simbólica e subjetiva dos ideais urbanos.
As cidades e suas relações com os corpos nos parecem ter uma centralidade nos debates contemporâneos acerca dos imaginários e das representações. Suas imagerias são atravessadas por questões políticas, sociais, culturais e históricas, em esferas concretas e simbólicas. O impacto da convivência em espaços múltiplos, cada vez mais atravessados por limitações, fronteiras e embates, está presente tanto nas dinâmicas físicas quanto virtuais dos espaços urbanos.
Refletir sobre essas questões e expandir os olhares para as diversas possibilidades de abordagem do urbano, dos corpos e de seus tensionamentos, atravessadas por inúmeros aspectos projetuais e teóricos, é uma forma de expandir as representações e mobilizar outros imaginários, elaborar mundos possíveis e diversos. Por isso, ao buscar reunir pesquisas que tratam das temáticas da cidade, sujeitos, imaginários, representações e tecnologias, tentamos suscitar essas dinâmicas de reflexão e proposição crítica.
CHOAY, Françoise. Urbanismo, utopias e realidades. São Paulo: Perspectiva, 1979.
FOUCAULT, Michel. O corpo utópico, as heterotopias. São Paulo: n-1 Edições, 2013.
PRECIADO, Paul B. Dysphoria Mundi. Le son du monde qui s’écroule. Paris: Grasset,
2022.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível. São Paulo: Editora 34, 2009.
ROZESTRATEN, Artur Simões. Representações: imaginário e tecnologia. 2017. Tese (Livre Docência em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
SAILLANT, Francine; KILANI, Mondher; GRAEZER BIDEAU, Florence. Manifeste de Lausanne – pour une anthropologie non hégémonique. Montreal: Liber, 2011.
SANSOT, Pierre. Poétique de la ville. Paris: Éditions Klincksieck, 1973.
SANTOS, Milton. Da totalidade ao lugar. São Paulo: Edusp, 2014.
TRILOGIA Imaginários Urbanos. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2025.
VERGÈS, Françoise. Une théorie féministe de la violence. Pour une politique antiraciste de la protection. Paris: Éditions La Fabrique, 2020.
Coordenador(a): Maria Renilda Barreto (Universidade Federal da Bahia / Brasil)
Coordenador(a): Juanma Sánchez Arteaga (Spanish National Research Council / Espanha)
O painel tem a intencionalidade de agregar estudos historiográficos que abordam o imbricamento entre ciência, educação e saúde a partir de ideias, saberes, desenhos políticos e de poderes, evidentes nos projetos de grupos sociais e instituições. As abordagens devem partir de reflexões sobre o Brasil, circunscritas tanto em dimensões globais quanto em contextos locais, plurais e transversais, evidenciando paralelos, circulações, cruzamentos e rupturas.
Durante as cinco últimas décadas a historiografia das ciências que trata do Brasil ampliou as pesquisas assim como a repercussão dos resultados destas. Esse movimento está associado a ampliação dos programas de pós-graduação, da internacionalização de pesquisas, da circulação de investigadores, dos projetos em redes transnacionais, da organização de arquivos e acesso a novas fontes, da pluralidade metodológica e inclusão de recursos tecnológicos, do maior financiamento estatal e, por fim, da ampliação e fortalecimento da comunidade de historiadores e historiadoras da ciência.
Neste cenário diverso e em constante renovação deseja-se conhecer as pesquisas que problematizam as diversas concepções de ciências e como essas se refletem no binômio saúde-educação.
Estimula-se alguns recortes, tais como: a) o papel das ciências na construção da nação a partir de intelectuais, médicos, naturalistas, filantropos/as, educadores e juristas; b) a relação entre raça, racismo e ciências; c) as questões de gênero na organização das profissões de saúde, especialidades médicas e educação; d) projetos educacionais pautados em higiene e eugenia; e) mediações entre ciência, escravidão, educação e democracia.
O recorte temporal é alargado, cobrindo a tradicional periodização da história do Brasil: Colônia, Império e República.
Quanto aos temas, serão aceitos trabalhos com abordagens tanto globais quanto locais, podendo contemplar a história das ciências vinculadas à saúde e educação no Brasil a partir de um amplo leque de perspectivas e níveis de análise, desde estudos que ressaltem o caráter transnacional da cultura científica brasileira até estudos de contextos locais específicos de produção científica ou encontros interculturais na história da produção de conhecimento científico vinculado saúde e educação no Brasil.
ANDERSON, Warwick (2014). “Racial Conceptions in the Global South,” Isis 105: 782–92.
BARAHONA, Ana; Raj, Kapil (2022) “A Historiography of the Life Sciences and Medicine in Latin America in Global Perspective.” Handbook of the Historiography of Latin American Studies on the Life Sciences and Medicine. Cham: Springer International Publishing. 1-15.
BARRETO, Maria Renilda Nery e FREIRE JUNIOR, Olival. (December 2023). Social History of Science and Historiography: Where are We in Brazil? HoST – Journal of History of Science and Technology 17, no. 2 (1-5.
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Coordenador(a): James N. Green (Brown University, Emeritus / Estados Unidos)
Coordenador(a): Maud Chirio (Université Gustave Eiffel, Champs-sur-Marne / França)
Há uma vasta quantidade de estudos acadêmicos sobre a história da ditadura militar brasileira, tanto no país quanto internacionalmente. Na verdade, é quase impossível citar a gama de temas que foram estudados nos últimos quarenta anos ou mais.
No entanto, aqui estão algumas das perguntas que foram feitas e debatidas ao longo dos anos. Qual era a natureza das forças internacionais envolvidas no apoio ao golpe de estado de 1964 e ao regime nos 21 anos seguintes. O golpe militar foi uma ação contrarrevolucionária para evitar grandes mudanças socioeconômicas iminentes no país? O regime foi uma ditadura militar ou uma ditadura civil-militar? Ou podemos descrevê-lo de outras maneiras? Quais eram as diferentes facções e disputas internas entre as forças armadas? Como a oposição legal operou? A luta armada foi uma resistência a um regime autoritário ou um meio de estabelecer um regime revolucionário pós-ditadura? Qual foi a natureza da transição e as forças políticas envolvidas no estabelecimento da Lei de Anistia de 1979 e suas consequências políticas posteriores.
Na última década, a Comissão Nacional da Verdade e as dezenas de comissões estaduais e locais que foram formadas após 2012 produziram uma série de relatórios importantes sobre a ditadura e seu impacto na sociedade brasileira. O Projeto Memórias Reveladas do Arquivo Nacional e iniciativas internacionais como Opening the Archives ajudaram a disponibilizar fontes primárias e novos arquivos para pesquisas.
Recentemente, o surgimento de forças políticas que defendem o regime militar tornou a pesquisa sobre esse período da história brasileira ainda mais importante. Isso é especialmente o caso, dada a recente tentativa de setores das forças armadas de tentar anular os resultados eleitorais de 2022 por meio de um golpe militar.
O conjunto de painéis organizados em torno do título “Novas abordagens para compreender a ditadura militar brasileira e seus legados hoje” busca organizar um debate entre acadêmicos sobre as formas inovadoras como os estudiosos estão examinando esse período e seus impactos no Brasil contemporâneo.
Coordenador(a): Gisele Sanglard (Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz / Brasil)
Coordenador(a): Sören Jens Brinkmann (Uniwersytet Wrocławski / Polônia)
Alimentação e saúde é um tema fulcral na assistência à pobreza, que ganha contornos específicos a depender de cada contexto histórico. Um prato de comida era, muitas vezes, o maior “remédio” para o indivíduo enfraquecido. A alimentação foi o ponto central da assistência oferecida pelos hospitais durante boa parte de sua história. O alimento era uma importante medida de recuperação da “saúde” do pobre que buscava o hospital para recuperar suas energias. O hospital era o lugar de buscar o alimento para o corpo (agasalho e comida) e para alma (religião) – tal vocação perdurou por muito tempo, mesmo quando o conhecimento médico começou a transformar o espaço hospitalar.
No início do século XX o leite, graças aos estudos físico-químicos, é alçado à categoria de alimento completo, não mais restrito à dieta de crianças, idosos e convalescentes. Com isso passou a ser mais frequente na mesa das famílias pobres, garantindo a todos, a base de proteína diária por ser um alimento barato e facilmente acessível. Este painel tem, então, como objetivo discutir como se deu, em diversos contextos latino-americanos, a adoção do leite e as preocupações de médicos, filantropos, poderes públicos e a indústria alimentícia na sua distribuição e comercialização.
A condição prévia para o triunfo definitivo do leite como elemento básico da alimentação diária era superar a grave crise de confiança que prejudicou a sua reputação no final do século XIX. À luz da teoria dos germes e do estabelecimento da bacteriologia, que desde a década de 1880 revolucionou o conhecimento médico, argumentou-se que, se não fosse tratado com os cuidados necessários, o leite poderia facilmente tornar-se um transportador ideal para todos os tipos de agentes patogénicos e um veículo para a transmissão de numerosos doenças. Na verdade, os controlos bacteriológicos realizados em diferentes cidades rapidamente confirmaram as piores suspeitas sobre as realidades higiénicas presentes em grande parte do comércio de lacticínios. Assim, ao mesmo tempo em que eram destacadas as suas propriedades nutricionais, o leite fluido era apontado como uma grave ameaça à saúde pública, cuja expressão mais alarmante era a responsabilidade que lhe era atribuída pelos elevados índices de mortalidade infantil. Não surpreende, portanto, que a chamada “questão do leite”, ou seja, o problema de garantir a qualidade higiênica do leite que abastecia as cidades do mundo ocidental, tenha se tornado uma das grandes preocupações sanitárias da época, mobilizar setores importantes da sociedade civil em favor de intervenções rigorosas do Estado (Rosenau, 1912; Dwork, 1987; Atkins, 1992; Wolf, 2001; Koslow, 2004).
Este painel irá discutir como, em diferentes contextos, a questão da alimentação e saúde ganhou a agenda de médicos, filantropos e dos poderes públicos. Interessa sobretudo a alimentação infantil: a boa alimentação resolvia todos os problemas da criança; conquanto a alimentação inadequada levava ao óbito e concorria para a alta mortalidade infantil. Neste contexto, o leite desponta como a principal preocupação: tanto no uso das amas de leite, no leite de vaca fornecido às cidades ou mesmo os produtos lácteos industrializados.
Os estudos sobre história da alimentação têm crescido bastante no Brasil e já é campo consolidado na Europa. Contudo, os estudos que correlacionam “alimentação” e “saúde” ainda são tímidos nos estudos históricos. Este painel justifica-se, então, por reunir um grupo de estudiosos que se debruçam sobre a temática da “alimentação & saúde”, como forma de difundir e consolidar estes estudos.
A fome e a pobreza, bem como todos os aspectos da vida humana, têm história, e tem desempenhado papeis diferentes ao longo dos tempos. A modernidade econômica caracterizou-se pela transformação do estatuto social da pobreza e da fome, sendo uma época de estratificação social acelerada, com grandes camadas de excluídos, reduzidos à desnutrição crônica. Desta forma, é possível pensar a alimentação em suas dimensões técnicas, por meio de estatísticas; em sua dimensão cultural, a partir do relato de partícipes do período em estudo, ou pelas impressões de médicos e cientistas sociais sobre os padrões de nutrição de determinadas populações (Meneses e Carneiro, 1997).
Desta forma, a história da modernidade tornou-se parcialmente organizada em torno do combate à fome para regiões que ainda aguardavam um desenvolvimento, como as colônias em processo de independência e os países periféricos. Assim, entender melhor as políticas públicas e as ações filantrópicas, será importante para pensar sobre os caminhos que estas questões têm no tempo presente.
ARAÚJO, Maria Marta Lobo de; LÁZARO, António Clemente; RAMOS, Anabela; ESTEVES, Alexandra. O tempo dos alimentos e os alimentos no tempo. Braga: CITCEM, 2012.
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Coordenador(a): Tania Regina de Luca (Unesp / Brasil)
Coordenador(a): Ana Claudia Suriani da Silva (University College London / Grã-Bretanha)
O simpósio tem por objetivo reunir pesquisadores de diferentes áreas das Ciências Humanas que, independentemente da temática e da periodização, partilhem o desafio de se valer de fontes periódicas, sejam almanaques, boletins, folhetos, revistas e/ou jornais. Trata-se de discutir as possibilidades analíticas e os desafios metodológicos que o uso desse tipo de documentação coloca para aqueles que dela se valem. Não se pode ignorar que parte significativa das consultas passaram a ser feitas por meios digitais, o que a um tempo abre novas perspectivas, mas também coloca questões que merecem reflexão crítica. A troca de experiências entre os participantes de diferentes áreas visa aprofundar a discussão sobre circulação e apropriação de conteúdos digitalizados e o acesso remoto às hemerotecas, práticas que ultrapassam os sempre mencionados inegáveis ganhos em termos de democratização e facilitação das consultas. Há que considerar, por exemplo, as limitações em termos da seleção do que se escolhe digitalizar e o a proibição, vigente em diversas instituições, da consulta ao suporte papel de tudo o que foi disponibilizado em meio virtual. Também se abordará como novas formas de acesso às fontes periódicas possibilitam comparações nacionais e internacionais e convidam a mobilizar outros aparatos analíticos.
O interesse em torno dos impressos periódicos sempre existiu, mas é negável que a multiplicação de hemerotecas digitais contribuiu para o incremento das pesquisas com esse tipo de fonte. Assim, títulos produzidos no suporte papel passaram a ser consultados e analisados nas telas dos computadores, o que, de saída, foi saudado em função da facilidade de acesso e enquanto importante meio para democratizar a consulta aos acervos. Entretanto, tais aspectos estão longe de esgotar a questão, uma vez que há implicações de diferentes ordens, seja na proposição do problema a ser investigado, nas formas de realizar a pesquisa e nos resultados alcançados, tendo em vista que é possível percorrer milhares de páginas em segundos e localizar termos específicos com a ferramenta OCR (Optical Character Recognition), para citar apenas um dos procedimentos antes irrealizáveis por meios analógicos. Sujeitos, acontecimentos e pequenos fatos do cotidiano, que permaneceram adormecidos nas páginas das publicações, passaram a ser analisados graças aos motores de busca. Acrescente-se que comparações em âmbito nacional e transnacional também ganharam significativo incremento, pois se conta com coleções digitalizadas e disponibilizadas por bibliotecas nacionais e arquivos de diferentes países, que permitem consultar edições antes pouco acessíveis. Problemáticas associadas à circulação e apropriação em termos de títulos, conteúdos e sua estruturação, soluções e projetos gráficos, material iconográfico, se não estiveram ausentes das preocupações, agora assumem o centro da cena. A discussão desses aspectos interessa aos que trabalham com impressos periódicos e espera-se frutífera troca de experiências entre os participantes.
BROKER, Peter; THACKER, Andrew (ed.). The Oxford Critical and Cultural History of Modern Magazines. Britain and Ireland 1880-1955. Oxford: Oxford University Press, 2009.
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STEAD, Évanghélia; VÈDRINE, Hélène (dir.). L’Europe des revues II (1860-1930). Réseaux et circulations des modèles. Paris: Maison de la Recherche Université Paris-Sorbonne, 2018.
ULANOVSKY, Carlos. Paren las rotativas. Diarios, revistas y periodistas (1920-1969). Buenos Aires: Emecé Editores, 2005.
Coordenador(a): Alan Cordeiro Fagundes (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG / Brasil)
Coordenador(a): Gustavo González Calvo (Faculdade de Educação Palência – Universidade de Valhadolide / Espanha)
Este projeto de pesquisa tem por objetivo analisar as implicações das novas tecnologias diante do trabalho docente no Ensino Superior. Principalmente, tendo em vista as reverberações das inovações tecnológicas de interação e comunicação, e de inteligência artificial, e suas implicações no campo da educação. O nosso estudo será trilhado à luz do pensamento de Karl Marx. Autor que possibilita a abordagem efetivamente crítica de que maneira a introdução de processos tecnológicos digitais se dá no sentido de promover o estabelecimento da forma capital como centro determinativo das atividades educativas. A tese que se sustentará, nesse sentido, é de que as diversas mediações digitais de informação e comunicação no campo da educação significa um movimento de reelaboração das relações e rotinas de controle no sentido de sua capitalização completa. Por conseguinte, as tecnologias digitais, simultaneamente à sua mobilização como meios de atividade docente, também se efetivam como mediação de controle multidimensional do exercício da força de trabalho docente. As relações entre a exploração da força de trabalho e as tecnologias se dão desde que o capital atingiu, como sistema de maquinaria, a consolidação de seu padrão, o industrial, de subsunção do trabalho a si em termos reais. Nessa perspectiva, o referencial teórico deste trabalho tem como principal vigamento a crítica marxiana da forma social de existência capitalista das tecnologias e dispositivos tecnológicos. Nesse modo de existir como capital, os meios de trabalho assumem o papel simultâneo, àquele de mediações do trabalho, igualmente o de controle e direção dos processos produtivos. O que caracteriza uma inversão social entre sujeito e objeto, entre indivíduos ativos e os mediadores de suas objetivações. Os lineamentos conceituais marxianos assim articulados orientarão a investigação empírica dos modos pelos quais este tipo de relação invertida pode verificar-se também no contexto da atividade educativa. Afinal, os processos tecnológicos no campo educacional, no horizonte da sociedade capitalista, podem assumir aquela forma de existência? Nesse contexto, para melhor delimitação do tema optou-se por um recorte empírico focado nos docentes em cursos de graduação e pós-graduação de instituições públicas. Com o fito de proceder a um cotejamento da realidade social de economias capitalistas que, conquanto suas particularidades, podem apresentar similitudes em termos de desenvolvimento das formas do capital: Espanha e Brasil. Essa aproximação empírica permitirá uma melhor observação da intensificação do trabalho docente de forma extensiva e intensiva, através do uso de “novas tecnologias” no contexto do trabalho docente.
Por que se deve pesquisar isso? Qual a importância dessa pesquisa? A pesquisa faz parte de um itinerário formativo no qual se buscou e se busca a formação em termos de competência científica.
A investigação tem a intenção de abordar, colateralmente, na medida em que se coloca como essencial ao entendimento do problema, o modo como as políticas públicas e a regulamentação do ensino superior têm influenciado as condições de trabalho docente e quais medidas podem ser tomadas para garantir a qualidade da educação superior e a valorização da profissão nesse universo digital. Nesse sentido, acredita-se que este projeto de pesquisa sobre a precarização do trabalho docente no ensino superior é fundamental para ajudar a compreender o cenário atual do trabalho docente frente as novas tecnologias, propondo investigar a precarização, que é crucial para compreensão dos impactos na formação dos futuros profissionais e no desenvolvimento da sociedade contemporânea. Outro aspecto relevante é que a pesquisa busca ampliar o conhecimento sobre a temática, fornecendo subsídios para a discussão sobre políticas públicas, valorização profissional e o fortalecimento do debate sobre a nova morfologia do trabalho (Antunes, 2014).
Alguns dos resultados esperados na investigação são: a compreensão aprofundada da relação entre as novas tecnologias e a precarização do trabalho docente no ensino superior; a identificação dos principais fatores que contribuem para a precarização, incluindo aspectos tecnológicos, mercadológicos e regulatórios nas Instituições Ensino Superior Públicas; por fim, o levantamento de pontos e elementos que possam servir de subsídios aos debates e às propostas de resistência ativa da docência em suas relações com as formas da capitalização.
Coordenador(a): Šárka Grauová (Universidade Palacký de Olomouc / República Tcheca)
Coordenador(a): Filip Vavřínek (USP / Brasil)
A obra de Clarice Lispector representa um ponto de interseção entre o profundamente individual e o universal. Suas narrativas mergulham em temas como o silêncio, a existência humana e feminina, o tempo, a morte, o amor e o sentido da vida — questões que, embora emanem de uma subjetividade singular, ressoam com leitores de diferentes culturas e épocas. Essa universalidade, no entanto, na o se constrói à custa da especificidade: ao contrário, ela e alimentada por uma escrita que explora a singularidade da experiencia humana e feminina, alcançando uma conexa o profunda e compartilhada.
Nos últimos anos, a obra clariciana tem sido objeto de um interesse renovado, suscitando dia logos entre múltiplas perspectivas críticas, métodos analíticos e contextos de recepção. Sua produção, marcada por uma rica tessitura de significados, desafia as fronteiras entre gêneros, linguagens e culturas, abrindo-se a novas formas de interpretação e estudo.
Entre as abordagens mais frutíferas destacam-se o close reading, as análises fundamentadas nos estudos de tradução, estudos intermídia e interartes, estudos de gênero e estudos animais, entre outros. Essa multiplicidade de perspectivas não apenas reflete a complexidade de sua obra, mas também reafirma sua relevância como um campo de investigação capaz de conectar diferentes campos do saber.
Com isso, o painel “Olhares Cruzados: Clarice Lispector e as Dimensões do Texto” tem como objetivo criar um espaço de reflexa o e troca entre estudiosos e tradutores da obra de Clarice Lispector. Ao integrar uma multiplicidade de enfoques e disciplinas, visa expandir os limites da interpretação de sua obra, revelando novas camadas de sentido e diferentes perspectivas. O painel, portanto, e um convite a renovação do olhar sobre Clarice Lispector, para que possamos continuar a descobrir, em sua escrita, o eco das questões que marcam a experiência humana, em sua complexidade e universalidade.
ALMEIDA, Joel Rosa de. A experimentação do grotesco em Clarice Lispector. São Paulo: Edusp‒Nankin, 2004.
ARÊAS, Vilma. Clarice Lispector com a ponta dos dedos/a trama do tempo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de Sa o Paulo, 2020.
CIXOUS, Hélène. A Hora de Clarice Lispector. Trad. de Marcia Bechara. São Paulo: Nos, 2022.
GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: uma vida que se conta. São Paulo: Edusp, 2011.
HOMEM, Maria Lucia. No limiar do silêncio e da letra: traços da autoria em Clarice Lispector. São Paulo: Boitempo: Edusp, 2012.
KADOTA, Neiva Pitta. A Tessitura Dissimulada: O Social em Clarice Lispector. São Paulo: Estação Liberdade, 1997.
LADEIRA, Antonio; ROSENBAUM, Yudith; PEREIRA, Eliane Fittipaldi (orgs.). Personagens de Clarice Lispector: figurações do humano e do não humano em obras de Clarice Lispector. Sa o Paulo: Hucitec, 2023.
MOSER, Benjamin. Clarice: uma biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
NASCIMENTO, Evando. Clarice Lispector: uma literatura pensante. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
PEIXOTO, Marta. Ficções apaixonadas: gênero, narrativa e violência em Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2004.
PONTIERI, Regina. Clarice Lispector: uma poética do olhar. Cotia: Ateliê Editorial, 2001.
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ROSENBAUM, Yudith. Clarice Lispector. Sa o Paulo: Publifolha, 2002.
. PASSOS, Cleusa Rios (orgs.). Um século de Clarice Lispector: ensaios críticos. Sa o Paulo: Fósforo, 2021.
. Metamorfoses do mal: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo: Edusp: Fapesp, 2006.
SANTOS, Roberto Corre a dos. Clarice, ela [livro eletro nico]. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012. p. 90.
. Na cavidade do rochedo [livro eletro nico]: a pós-filosofia de Clarice Lispector. Sa o Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.
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SOUSA, Carlos Mendes de. Clarice Lispector: figuras da escrita. Sa o Paulo: Instituto Moreira Salles, 2012.
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Coordenador(a): Ana Nemi (Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) / Brasil)
Coordenador(a): Juan Antonio Rodríguez Sánchez (Universidade de Salamanca / Espanha)
Durante o século XX o Brasil viveu uma República aristocrática (1889-1930), duas ditaduras (1937-1945, 1964-1985) e dois momentos de fortes iniciativas democratizantes nos quais a sociedade organizada teve grande relevância e participação (1946-1964; 1988 aos nossos dias). E foi neste turbulento século, marcado, ainda, pelos contornos da Guerra fria e os avanços de políticas neoliberais na organização dos poderes públicos a partir do final dos anos de 1970, que se desenvolveram múltiplas formas de associação por meio das quais as populações portadoras de enfermidades raras e/ou estigmatizadas buscaram conquistar direitos vinculados à assistência à saúde, como atendimento em consultórios, postos e hospitais, cuidados em suas rotinas diárias, práticas sanitárias, educação, promoção e prevenção em saúde, e mesmo visibilidade política para suas vidas, lutas e dificuldades.
Mas essa não é uma história apenas do Brasil e seus brasis. Na história da medicina e da saúde pública do século XX, mesmo quando observadas as escolhas políticas nacionais e os sistemas de saúde criados, é possível destacar alguns aspectos que se articulam e interessam a esta proposta:
– O fortalecimento de um modelo de filantropia que aliava cuidados em saúde com privilégios fiscais para instituições como hospitais, laboratórios, escolas médicas e de enfermagem, entre outros cursos, que se dedicassem a acolher populações pobres e desassistidas. Nesta lógica, o Estado fornecia recursos para que instituições consideradas de caridade e/ou filantrópicas, atuassem segundo suas intenções políticas, já que também aportavam recursos, criando processos de exclusão e discriminações sociais para os não acolhidos;
– A ação de agências filantrópicas privadas internacionais fundadas a partir grandes instituições capitalistas, como a Fundação Rockefeller e a Milbank Memorial Fund. Essas agências propunham ações baratas e focalizadas para populações pobres, em oposição aos projetos de medicina integral, considerados caros. Sua finalidade era evitar a pauperização excessiva no mundo capitalista em meio aos conflitos da Guerra fria. Nesta lógica, desenvolveram-se, ainda, as fundações, também caracterizadas pela isenção fiscal e a escolha discriminatória de clientelas, o que permite formular o conceito de filantrocapitalismo para ações de instituições como o Rotary International e a Bill & Melinda Gates Foundation;
– A expansão de organismos internacionais especialmente ligados à Organização Mundial para a Saúde (OMS) e que recolhiam fundos para investir no atendimento à saúde em países considerados pobres, principalmente em ações de vacinação, saneamento básico e endemias. No âmbito da Guerra fria, a OMS acolheu sanitaristas que aliavam o desenvolvimento econômico à saúde dos povos, entre eles Juan César Garcia, muito presente no Brasil e na América Latina;
– O crescimento de movimentos associativistas por meio dos quais populações desassistidas, estigmatizadas e portadoras de doenças raras buscavam se expressar e garantir seus direitos. Esses movimentos são importantes para a pesquisa em história da medicina e da saúde pública, já que as ações que vinham dos Estados nacionais, das agências internacionais e das instituições filantrópicas não produziam boas políticas públicas para o acolhimento de doenças raras, como a síndrome pós-polio, e de doenças estigmatizadas, como são as doenças denominadas de mentais e para as quais normalmente se oferecia “terapias de internação” e de “eletroconvulsão”. Trata-se, assim, de observar a movimentação da sociedade civil em sua luta pela universalização do acesso à saúde;
– O Associacionismo internacional de pacientes, como resposta às necessidades das enfermidades minoritárias para criar redes extensas que permitam conhecer pessoas com os mesmos problemas em qualquer parte do mundo e possibilitar, assim, a investigação e as diferentes propostas para fazer frente a problemas complexos. Feitas essas considerações, propomos um painel no qual as experiências brasileira, espanhola e portuguesa possam estabelecer diálogos e observar os avanços e retrocessos no atendimento à saúde de populações portadoras de doenças raras e estigmatizadas. Espera-se, desta forma, contribuir para os debates sobre a saúde global, não apenas pela sua relevância em nosso tempo presente, marcado por endemias e epidemias que desafiam a pesquisa científica e as aproximações com os saberes populares, mas pelos riscos de construir uma globalização cujos fluxos de saberes, medicamentos e produtos sejam para setores privilegiados dos diferentes territórios nacionais do planeta.
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Coordenador(a): Annita Costa Malufe (Universidad de Salamanca / Espanha)
Coordenador(a): Silvio Ferraz (Universidade de São Paulo / Brasil)
Difícil tarefa a de separar os caminhos da poesia e da música no Brasil, sobretudo após a Semana de Arte Moderna de 1922. Mário de Andrade já mesclava os dois lugares: poeta e músico, professor de História de Música do Antigo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, autor de diversos livros sobre música e defensor da ideia de polifonia na escrita do poema. Os anos 1950, por sua vez, assistiram à invenção da Poesia Concreta com os irmãos Campos, os quais teriam sido os responsáveis por introduzir aos jovens compositores paulistanos a música da Neue Musik alemã e sua vertente francesa. Daí seguirão caminhos como o da Tropicália na Bahia, tendo como produtor de sua marca sonora o compositor Rogério Duprat, signatário do Manifesto Música Nova, junto a Gilberto Mendes, Willy Correa de Oliveira e outros.
Os anos 1970 e 80 verão a música unir-se à poesia entre os poetas Marginais, muitos dos quais letristas de MPB, como Torquato Neto, presente desde as canções tropicalistas, ou ainda Waly Salomão, Cacaso, Capinan. E, de fato, talvez seja impossível separar uma certa MPB da poesia modernista, basta pensar em Chico Buarque e a poesia de Drummond e Bandeira – e, ainda, as melodias por ele compostas para o auto de João Cabral Morte e vida severina. Na direção oposta, poetas contemporâneos muitas vezes encontram mais referências para seus versos nessa mesma MPB do que na própria tradição poética brasileira.
É certo que tais cruzamentos não se deram sem o cinema, os importantes momentos dos Seminários de Arte da Bahia com H. J. Koellreuter, Lina Bardi convivendo com jovens como Glauber Rocha, Gilberto Gil, Maria Bethânia etc. Ou a poesia dos livros de um Vinícius de Moraes, com a música de Claudio Santoro e Tom Jobim. A poesia mineira, a força musical do Nordeste, e as linhas vindas de além-mar. Ou, em outra vertente, a Poesia Sonora, como por exemplo aquela de Philadelpho Menezes, em seus diálogos com a tecnologia e a música eletroacústica; o campo aberto de indiscernibilidade entre os gêneros e a performance, que vemos hoje em um poeta como o mineiro Ricardo Aleixo.
De um lado, a música e a poesia marcadas pelas ideias de ritmo, pelas referências à arte popular do Norte, Nordeste; de outro, a ideia estruturalista que atravessou músicos e poetas Concretistas, e ainda a arte do som vinda da música eletroacústica.As referências às melodias e sonoridades, às músicas da terra – da banda de pífano à melódica indígena (em uma produção como no disco Joia de Caetano Veloso) – que atravessarão tanto as canções como os poemas, em um entrelaçamento contínuo. Assim é que podemos dizer que no Brasil a poesia está no cancioneiro e transborda os limites de erudito e popular, como ainda em Caetano na sua concretista Pulsar.
Daí a proposta deste painel ser justamente a de despertar esses inúmeros caminhos de pesquisa, que estimulem e revelem cruzamentos, contaminações: a influência mútua, muitas vezes nada linear, e que também traz à encruzilhada os métodos distintos de pesquisa e narrativa de poetas, musicólogos, literatos, compositores e instrumentistas, e os artistas da performance sonora eletroacústica. Pensar nos “trânsitos e experimentações” implica, portanto, em considerar a mão dupla, e de fluxo e refluxo, entre essas áreas: tanto os modos de a música incorporar a poesia, quanto de a poesia recorrer à música; seja em seus aparatos compositivos, suas estruturas, conteúdos, seja em seus pensamentos conceituais ou teóricos.
Trata-se de não somente reunir como estimular pesquisas que relacionem música e poesia nas suas mais diversas possibilidades, levando-se em conta sobretudo uma certa escassez desses estudos no contexto brasileiro universitário mais contemporâneo. Se ao pensar no século XX podemos encontrar diversos exemplos mais explícitos dessa relação, ao se ter em vista o XXI parece que um certo recuo se faz notar, tanto nas pesquisas acadêmicas quanto no que se refere ao surgimento de novos grupos que coloquem música e poesia de invenção em um sistema de troca que chegue ao nível estrutural. De todo modo, talvez pelas especificidades técnicas das áreas e suas disciplinas, arriscamos que o número de estudos situados entre música e poesia, nos contextos crítico e acadêmico brasileiros, talvez sempre tenham sido um pouco tímidos, sobretudo se comparados à profusão de entrelaçamentos presentes nas propostas dos artistas, músicos e poetas – tímidos, ainda, se comparados aos estudos que interseccionam a literatura com o cinema ou as artes plásticas, por exemplo. Assim, o painel justifica-se pela relevância em encorajar-se pesquisas que se deem nessa intersecção poesia e música, tanto na exploração de manifestações do século XX quanto naquela de revelar seus caminhos atuais, em um contexto em que se mergulha ainda mais nas experimentações sonoras e digitais, criando a necessidade de atualização das pesquisas e seus métodos.
AGUILAR, Gonzalo e CÁMARA, Mario. Máquina Performática: a literatura no campo experimental. Traduzido por Gênese de Andrade. Rio de Janeiro: Rocco, 2017.
ALEIXO, Ricardo. Modelos vivos. Belo Horizonte: Crisálida, 2010.
ANDRADE, Mário de. A escrava que não é Isaura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
CAMPOS, Augusto de. Música de invenção. São Paulo: Perspectiva, 1998.
CAMPOS, Augusto de. Verso, reverso, controverso. São Paulo: Perspectiva, 1978.
MENDES, Gilberto. Uma Odisséia musical: dos mares do sul à elegância pop/art-déco. São Paulo: Edusp/Giordano, 1994.
MENEZES, Philadelpho (Org.). Poesia Sonora – Poéticas Experimentais da Voz no Século XX. São Paulo: EDUC, 1992.
NETO, Torquato. Os últimos dias de paupéria. Rio de Janeiro: Eldorado, 1973.
SALOMÃO, Waly. Poesia total. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2012.
VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Coordenador(a): Paulo Fraga (INEAC-Universidade Federal Fluminense / Brasil)
Coordenador(a): Ximene Rego (Universidade do Porto / Portugal)
As substâncias psicoativas ilegais ocupam um ponto de convergência entre as esferas da saúde, do direito, das políticas públicas e das relações de classe, gênero e raça. Longe de serem entidades essencialistas, sua relevância reside nas reações que provocam em uma diversidade de atores e sistemas de significação (Pin, 1972). Este fenômeno demanda uma abordagem acadêmica interdisciplinar que integre diferentes áreas científicas e profissionais, como Saúde Pública, Direito, Psicologia, Criminologia, Sociologia, Antropologia, Educação, Assistência Social e Segurança Pública, além de mobilizar reflexões de ordem moral, ética e sobre os Direitos Humanos (Bergeron, 2009).
Embora a complexidade do tema imponha uma urgência acadêmica, as políticas públicas muitas vezes refletem vieses repressivos, distanciando-se de abordagens baseadas em evidências científicas. No Brasil, o paradigma da Redução de Riscos e Minimização de Danos (RRMD) tem gerado avanços importantes na saúde das Pessoas que Usam Drogas, ao mesmo tempo em que iniciativas como a proposição de penas alternativas à prisão para crimes relacionados a drogas que não representem riscos à sociedade começam a ganhar espaço. Contudo, há indícios preocupantes de retrocessos nesse campo. O encarceramento massivo por delitos relacionados a drogas resulta em uma população prisional superior a 150 mil pessoas, majoritariamente composta por mulheres negras e homens negros, jovens, moradores de periferias, réus primários com baixa escolaridade e inserção precária no mercado de trabalho (Fraga, 2012). Apesar de recentes mudanças jurisprudenciais que buscam reduzir a criminalização relacionada às drogas, seus efeitos sobre a privação de liberdade ainda são limitados.
Por outro lado, Portugal implementou, em 2001, uma política de descriminalização do uso, aquisição e posse de todas as drogas ilegais, deslocando a resposta ao fenômeno do âmbito da justiça para a saúde pública. Entretanto, as virtudes do modelo português vão além da descriminalização em si, abrangendo um conjunto de dispositivos complementares, como a regulação de políticas de RRMD. Ainda assim, desafios significativos permanecem: a implementação limitada de salas de consumo assistido e serviços de drug checking, previstos em lei há mais de duas décadas, é um exemplo. Além disso, o acesso restrito à prescrição de cannabis medicinal e a criminalização do autocultivo, mesmo para uso pessoal, evidenciam contradições no modelo. A controvérsia política e social, bem como a relutância em adotar abordagens mais abrangentes, parecem revelar a resistência em considerar políticas públicas voltadas ao bem-estar e à agência das Pessoas que Usam Drogas.
Diante desse cenário, esta chamada busca acolher trabalhos que dialoguem com a questão das políticas de drogas em contextos comparativos ou nacional. Reconhecemos que as ações do Estado possuem impactos profundos sobre indivíduos, grupos e populações, e buscamos fomentar uma reflexão crítica e interdisciplinar que contribua para avanços nessa área, nomeadamente:
Os impactos das políticas de regulação das drogas sobre os comportamentos das populações
A relação entre droga e crime
O acesso à canábis medicinal
O autocultivo para uso pessoal
Políticas de drogas e direitos humanos
Mudanças nas legislações nacionais
Bergeron, H. Sociologie de la drogue. Paris: La Découverte, 2009.
Fraga, P.C.P. Les actions d’éradication des plantations considérées illicites en Amérique Latine et au Brésil. Déviance et Société, 36: 115-135, 2012).
Pin, J-J. Approche sociologique du phénomène drogue. L’Homme et la société, n. 23, p. 167-176, 1972.
Rêgo, X., Oliveira, M., Lameira, C. & Cruz, O., 2021, “”, Substance Abuse, Treatment, Prevention and Policy, 16 (59).
Coordenador(a): Susana Maria Ramirez Martin (Universidad Complutense de Madrid (UCM) / Espanha)
Coordenador(a): Jaqueline Hasan Brizola (Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ / Brasil)
En el contexto de la pandemia Covid-19, los estudios sobre las vacunas y la vacunación ocupan un lugar prioritario. Este panel pretende abordar la historia de las vacunas y las prácticas de vacunación desde una perspectiva diacrónica. Para ello, se aceptarán comunicaciones que dialoguen con el tema de las vacunas y la prevención de enfermedades contagiosas en diferentes contextos históricos. Las experiencias relacionadas con la vacuna antivariólica de Jenner en el siglo XIX hasta las acciones modernas contra la tuberculosis, la poliomielitis o la gripe en el siglo XX deberán contribuir al debate en este panel. Serán bienvenidas las ponencias que aborden las dimensiones socioculturales, políticas y económicas relacionadas con el desarrollo de los programas de vacunación en diferentes épocas y espacios, las intervenciones estatales a nivel nacional o provincial, así como la injerencia de agencias y organismos internacionales en los programas de vacunación. También serán bienvenidas otras perspectivas de análisis, relacionadas con la medicina preventiva y el control de epidemias.
Disponer de vacunas de eficacia probada ha sido un largo proceso de acumulación y conocimiento, de esfuerzos económicos y políticos que han variado según el tiempo y el espacio. En este papel se pretende reunir investigaciones que analicen la historia de las vacunas desde la perspectiva multidisciplinar de la medicina preventiva y la salud pública. Al investigar sobre las medidas adoptadas para desarrollar e implementar las vacunas a lo largo de la historia, pretendemos revelar la importancia de la circulación del conocimiento científico en diferentes contextos y espacios, así como su adaptación y desarrollo, con el fin de «prevenir» los efectos devastadores de las enfermedades epidémicas. Por ejemplo, desde principios del siglo XX, los vaivenes en los procesos de producción y ejecución de vacunas en Europa y Estados Unidos, difieren del contexto latinoamericano (Armus, 2004) o africano. Es importante analizar la actividad realizada por organizaciones internacionales como la Fundación Rockefeller (Farley, 2004). Entender estas diferencias y similitudes, con sus dificultades y resistencias en la aplicación de vacunas contra enfermedades como la viruela, la fiebre amarilla, el sarampión, la poliomielitis y la gripe, entre otras, nos ayuda a comprender como se combate a estas enfermedades en la actualidad (Porras, 2013; Gazêta, 2001). En el primer cuarto del siglo XXI, las epidemias siguen asolando nuestras sociedades. En consecuencia, el tema propuesto es relevante y actual y, de ahí, la pertinencia de abordarlo. Al repensar sobre las respuestas ofrecidas a las vacunas en otros contextos históricos, podremos reflexionar sobre las epidemias y los conflictos que de ellas se derivan en la actualidad.
ARMUS, D. ‘Queremos a vacina Pueyo!!!’ Incertezas biomédicas, enfermos que protestam e a imprensa – Argentina, 1920-1940. In: HOCHMAN, G., and ARMUS, D., orgs. Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004. História e Saúde collection, pp. 392-425.
FARLEY, John. To cast out disease: a history of the International Health Division of the Rockefeller Foundation (1913-1951). Oxford: Oxford University Press. 2004.
GAZÊTA Arlene. A Campanha de Erradicação da Varíola no Brasil [dissertação]. Rio de Janeiro: UFRJ/CCS/ Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva; 2001.
PORRAS, María Isabel et al. (Coord.). El drama de la polio: un problema social y familiar en la España franquista. Madrid: Libros La Catarata. 2013.
RAMÍREZ, Mercedes; PORRAS, María Isabel. La vacunación contra la gripe y sus complicaciones en España (1918-2009). In: Campos, Ricardo et al. (Ed.). Medicina y poder político. Madrid: SEHM/Facultad de Medicina. p.191-195. 2014.
RODRÍGUEZ OCAÑA, Esteban. La intervención de la Fundación Rockefeller en la creación de la sanidad contemporánea en España. Revista Española de Salud Pública, v.74, p.27-34. 2000.
Coordenador(a): Daniel Azevedo Muñoz (Universidad Autónoma de Madrid / Espanha)
Coordenador(a): Gabriela Santi Pacheco (Universidade de Coimbra e Universidade Federal de Juiz de Fora / Portugal e Brasil)
O século XX foi marcado por diversas manifestações de autoritarismo no Brasil e no mundo. Esses autoritarismos conviveram com constantes disputas políticas, que pautaram as manifestações do que hoje se chama de período da Guerra Fria. Contudo, para além de um conflito entre o leste comunista e o ocidente capitalista, esse período foi assinalado pelas disputas entre vertentes autoritárias ou não das expressões políticas que se manifestavam para além das fronteiras das duas superpotências em conflito. Ilustramos essa dialética ao recordar que, em 2024, lembramos os sessenta anos do Golpe Civil-Militar de 1964 no Brasil, bem como os cinquenta anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim à mais longeva ditadura europeia do século XX: o Estado Novo português. Esses fenômenos, entretanto, não se restringiram ao Brasil e a Portugal, tendo características comparáveis em lugares como Espanha, Itália, Alemanha, Grécia, além de diversos países latino-americanos que sofreram militarismos de influência direta das políticas externas dos Estados Unidos, como Argentina, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Chile. Muitos regimes que surgiram neste período emularam princípios do fascismo europeu, em suas diversas expressões. No entanto, também desenvolveram novas vertentes autoritárias no militarismo latino-americano, que passou a influenciar o então chamado Terceiro Mundo. Entre os diversos modelos autoritários do século XX, houve um considerável grau de variação institucional. Algumas características, no entanto, foram recorrentes em grande parte deles, nomeadamente porque se organizou um amplo campo de circulação de ideias, possibilitando intercâmbios transnacionais.
Este painel propõe uma análise transnacional de características e vertentes dos autoritarismos que surgiram no Brasil e em países ao seu redor, considerando suas relações diretas ou indiretas com o caso brasileiro. O período analisado abrange desde a Revolução de 1930, passando pela influência brasileira na Segunda Guerra Mundial, os movimentos integralistas e comunistas que cresceram no país na primeira metade do século, o breve período democrático entre 1946 e 1964, e o plano de João Goulart para reformar o Estado e o capitalismo brasileiro. Aborda-se também o período militar em ambas suas fases — seja a vertente mais americanófila e repressiva, seja a vertente mais nacionalista e reformista — e os resquícios autoritários que ainda se manifestam na Nova República brasileira, após a lenta redemocratização da década de 1980. Não se pretende restringir o escopo de análises a projetos autocráticos que tenham efetivamente alcançado o poder, mas estendê-lo a projetos de autocracia que não chegaram a se efetivar, mas que conseguiram influenciar o período. Serão incorporados, também, trabalhos que discutam as relações entre o pensamento autoritário brasileiro e a Europa e os Estados Unidos, bem como aspectos econômicos, geopolíticos, sociais e culturais que influenciaram as características desenvolvidas por esses distintos regimes, incluindo políticas exteriores expansionistas e a busca por um viés de Terceira Via durante a polarização global, que ocorreu em mais de um momento da história do Brasil no século XX. Por fim, considera-se trabalhos que discutam as realidades de grupos minorizados e subalternizados nesses cenários, como populações indígenas, movimentos de mulheres, de negros, de LGBTQIA+, organizações de trabalhadores, entre outros.
Este painel oferece um espaço de diálogo em torno de análises sobre o passado autoritário do Brasil e suas correlações com ideais autoritários de diversas outras nações, especialmente a partir de influências dos Estados Unidos e da Europa. Ao mesmo tempo, busca-se trazer à luz reflexões referentes aos problemas atuais enfrentados por sistemas democráticos nesses espaços, com o crescimento de formas de pensamento e ação política antidemocráticas ou de regressão democrática — algo que não se via nesta magnitude desde a dissolução da União Soviética e a consolidação do mundo unipolar. Além desse breve período de hegemonia democrática, não se observava um retorno de ideais abertamente fascistas desde o período entreguerras, após a massiva crise do liberalismo na década de 1920. Com as mais recentes crises do sistema neoliberal, que acompanha o mais recente período de democracia representativa na maior parte das nações estudadas nesse esforço colaborativo, renasce a resposta autoritária, não só da vertente anticomunista da Guerra Fria, mas também dos ideais fascistas que surgiram no seio da anterior crise do modelo, no início do século.
A isso se soma o transnacionalismo, que contribui para a visualização mais ampla das formas de organização de grupos e regimes autoritários no século XX, uma vez que contempla componentes que marcaram a constituição de seus projetos de nação, além de influenciar suas formas de ação, como a circulação de ideias, a formação de redes intelectuais, as conexões e cooperações transnacionais.
Abreu, L. A. & Vannucchi, M. A. (Eds.). (2021). The Brazilian Revolution of 1930: The legacy of Getúlio Vargas revisited. Sussex Academic Press.
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Sternhell, Z., Sznajder, M., & Aheri, Maia. (1995). The birth of fascist ideology: From cultural rebellion to political revolution. Princeton University Press.
Coordenador(a): Miley Guimarães (Universidad de Salamanca / Espanha)
Coordenador(a): Paulo Osório (Universidade Aberta & Centro de Linguística da Universidade de Lisboa / Portugal)
Neste painel acolhemos trabalhos sobre o ensino e aprendizagem de português como língua estrangeira (PLE) sob uma perspectiva ampla, que abrange as seguintes linhas i) aquisição/aprendizagem no nível fonético-fonológico, morfossintático ou semântico-pragmático, ii) variação linguística e ensino, iii) literatura e ensino, iv) formação docente, v) produção de materiais didáticos, vi) ensino mediado pelas novas tecnologias e vi) políticas linguísticas.
O ensino-aprendizagem de PLE é uma área de prática e pesquisa multifacetadas. São de relevo, por exemplo, os trabalhos desenvolvidos a partir de perspectivas teóricas que consideram a língua em uso, os quais suscitam possibilidades e desafios no tratamento da variação linguística na sala de aula (Carvalho, 2002; Osório, 2017; Guimarães, 2023), as pesquisas que versam sobre novas metodologias e novas tecnologias, sobre a análise e produção de recursos didáticos, ou em que se reflexiona sobre processos de avaliação e proficiência (Scaramucci, 2012; Schoffen, 2021) e sobre a formação docente (Dell’Isola, 2005; Almeida Filho, 2014; Scaramucci & Bizon, 2020). Além destas linhas, sempre suscetíveis de maior debate e aprimoramento, seguimos com a necessidade, premente, de uma maior contribuição no que concerne à aprendizagem/aquisição de aspectos linguísticos (pesquisas que, por exemplo, tratem do desenvolvimento da interlíngua da pessoa aprendente, seja ela falante de língua próxima, seja distante), de pesquisas sobre o trabalho com o texto literário em sala de aula (Dell’Isola & Prazeres, 2012; González, 2018; Takahashi, 2015) e concernentes à elaboração/implementação de políticas linguísticas para o uso, difusão e promoção da língua portuguesa (Diniz, 2020). Para além destas, são enriquecedoras para a nossa reflexão e práxis, as pesquisas que estão na interface com a linguística de corpus, com os estudos interculturais (Mendes, 2008, 2010), discursivos e decoloniais (Amado & Reinoldes, 2021), com a relação entre identidades de gênero e ensino, as quais costumam inserir-se numa práxis de viés ainda mais problematizador.
Dentro do nosso eixo de vertentes (e para além dele), serão muito bem-vindas pesquisas teóricas e/ou aplicadas, concluídas ou em andamento, realizadas por estudantes de pós-graduação (mestrado/doutorado), pós-graduadas(os), professoras e professores atuantes no ensino formal/institucionalizado ou informal (empresas, cursos livres, ONGs) e das mais diversas geografias em que o português como língua estrangeira / adicional / de herança / de acolhimento é ensinado e aprendido.
Desejamos congregar as pluralidades dos saberes num fórum em modalidade presencial que nos servirá de oportunidade de encontro e de partilha de ideias e experiências diversas.
Este painel justifica-se pela necessidade de divulgação e compartilhamento das nossas diversas experiências docentes e investigadoras no âmbito de PLE. Temos desafios nas mais diversas linhas de atuação, sendo muitos deles por nós compartilhados. Visamos então promover discussões sobre perspectivas de pesquisa e práticas de ensino, potenciando, por meio da articulação dos nossos saberes, um maior conhecimento sobre princípios e procedimentos que facilitam a aprendizagem e que congregam para a elaboração de planos de ensino mais diversificados/inclusivos e para o aperfeiçoamento do nosso campo científico.
Almeida Filho, J. C. P. Competências de Aprendizes e Professores de Línguas. Campinas: Pontes Editores, 2014.
Amado, R. S.; Reinoldes, M. Por uma pedagogia decolonial e intercultural no ensino de Português como Língua de Acolhimento: desafios e possibilidades. In Souza, R. F.; Coura-Sobrinho, J.; Diniz, M. B. (Org.). Português como língua de acolhimento: práticas e perspectivas. São Paulo: Parábola, 2021. p. 17-22.
Carvalho, O. L. de S. Variação linguística e ensino: uma análise dos livros didáticos de português como segunda língua. In Bagno, M. (Org.). Lingüística da norma. 1ed. São Paulo: Loyola, 2002. p. 267-291.
Dell’Isola, R. L P. Em busca da formação continuada de professores de Português como língua estrangeira. In Júdice, N. (Org.). Ensino da Língua e da Cultura do Brasil para Estrangeiros. Niterói: Intertexto, 2005. p. 9-29.
Dell’Isola, R. L P.; Prazeres, L. A. Textos literários em livros didáticos de Português Língua Adicional. In Dell’Isola, R. L P. (Org.). Português Língua Adicional: ensino e pesquisa. Recife: Editora Universitária UFPE, 2012. p. 61-70.
Diniz, L. R. A. Para além das fronteiras: a política linguística brasileira de promoção internacional do português. Belo Horizonte: UFMG, 2020.
Gonzalez, I. O. A literatura nas aulas de PLE. Para aprender e comunicar sobre a memória cultural portuguesa. Diacrítica, v. 32, n. 2, p. 211–237, 2018.
Guimarães, M. A. A. A pedagogia da variação linguística e a sociolinguística educacional trasladadas ao âmbito do português como língua adicional. Letras de Hoje, v. 58, p. 1-14, 2023.
Mendes, E. Língua, cultura e formação de professores: por uma abordagem de ensino intercultural. In Mendes, E.; Castro, M. L. S. (Org.), Saberes em português: ensino e formação docente. Campinas: Pontes, 2008. p. 57-77
Mendes, E. Por que ensinar língua como cultura? In Santos, P.; Alvarez, M. L. O (Org.). Língua e Cultura: No contexto de Português Língua Estrangeira. Campinas: Pontes Editores, 2010. p. 79-100.
Osório, P. (Coord.). Teorias e usos linguísticos. Aplicações ao português língua não materna. Lisboa: Lidel, 2017.
Scaramucci, M. O exame Celpe-Bras e a proficiência do professor de português para falantes de outras línguas. Revista DIGILENGUAS, [S. l.], n. 12, p. 48-67, 2012.
Scaramucci, M.; Bizon, A. C. C. (Org.). Formação inicial e continuada de professores de português língua estrangeira/segunda língua no Brasil. Araraquara: Letraria, 2020.
Schoffen, J. R. O conceito de proficiência e o processo de avaliação da Parte Escrita do exame Celpe-Bras. Inventário, [S. l.], p. 9-26, 2021.
Coordenador(a): Karl Erik Schøllhammer (King’s College London / Inglaterra)
Coordenador(a): Luiz Guilherme Fonseca (Pontifícia Universidade Católica – RJ / Brasil)
O contemporâneo se caracteriza por uma complexa relação entre tempo e espaço que recebeu mais atenção pelas particularidades temporais e menos pelas características espaciais. Desde as primeiras críticas da modernidade e de seus cenários urbanos no fim do século XIX e início do século XX o alvo principal foi a aceleração do tempo histórico e as consequências para a experiência humana da relação com a tradição e com a natureza. Com a chamada “Virada Espacial” a partir da década de 1970 (Foucault, Lefebvre, Harvey, Jameson, Santos) a crítica do cotidiano nas grandes metrópoles acentua a experiência espacial globalizada da grande população marginalizada nas periferias ou nas favelas à luz da demanda que Milton Santos e Edward W. Soja chamaram de cidadania e justiça espacial.
Na esteira desse debate, nas últimas décadas a acentuação da crise climática medida pelos relatórios anuais do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem obrigado pesquisadores de ciências humanas e naturais a um novo olhar para o espaço. Sob o nome de Antropoceno (Crutzen e Stoermer), esse conjunto de crises vem sendo estudado não apenas por geólogos e climatologistas, mas também por antropólogos (Eduardo Viveiros de Castro, Bruno Latour), filósofos (Donna Haraway, Deborah Danowski, Isabelle Stengers) e escritores (McKenzie Wark, Amitav Ghosh).
Se a “Virada Espacial” proporcionou a emergência da questão relativa ao espaço na filosofia, geografia e crítica literária, a atual acentuação da crise climática aponta para um “espaço em estado de emergência”, e que reforça as demandas de Santos e Soja por cidadania e justiça espacial, agora também em contexto climático.
Apoiado nos fundamentos do geocríticismo (Westphal, Tally entre outros) nos estudos literários atuais e à premissa que a representação e expressão imaginária e ficcional (literária e artística no sentido amplo) são elementos fundamentais na produção e no reconhecimento da experiência do lugar, o painel tem como objetivo investigar as múltiplas perspectivas da experiência espacial na literatura brasileira, assim como os desafios que se impõem à produção literária atual.
Dando ênfase tanto à experiência em espaços marginalizados nas grandes metrópoles, como nos casos de “O sol na cabeça” e “Via Ápia”, de Geovani Martins, e “Becos da memória”, de Conceição Evaristo, quanto à experiência do espaço em emergência pela crise climática, como em “O riso dos ratos” e “A morte e o meteoro”, de Joca Reiners Terron, e “O deus das avencas”, de Daniel Galera, o painel busca mapear a emergência do espaço e o espaço em estado de emergência na literatura brasileira, e como isso se dá na experiência literária.
No início de uma conferência realizada em 1967, Michel Foucault disse que “A nossa época talvez seja, acima de tudo, a época do espaço” (FOUCAULT, p. 411, 2009). Passados mais de 50 anos, essa afirmação ganha imprevistas conotações, e pode ser vista de maneiras diferentes na importância dada ao espaço na literatura brasileira contemporânea. Da representação de espaços comumente silenciados na produção literária à especulação acerca de espaços em estado de emergência marcados pelo conjunto de crises que nos atravessam, é possível falar de uma volta do interesse pelo espaço nesta perspectiva temporal contemporânea.
Recentemente, em “O passado ainda está por vir”, Deborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro afirmaram que a época atual exigiria uma “‘virada espacial’ do pensamento” (p.20, 2023), e é inegável que essa preocupação vem contaminando e se espraiando entre as ciências humanas e naturais.
Os relatórios feitos por geólogos, climatologistas e demais cientistas naturais sobre a crise climática, assim como as crescentes especulações filosóficas, econômicas, políticas e artísticas acerca das crises políticas, econômicas, humanitárias e existenciais que vivemos são marcas da época atual. Encapsulado sob o nome de “Antropoceno” e suas importantes derivações conceituais, esse conjunto de crises tem impactado diretamente também a produção literária brasileira. Seja através da representação de espaços silenciados e acossados pela violência policial iminente (como em Geovani Martins), ou do uso estratégico da distopia (como em Joca Reiners Terron e Bernardo Carvalho), da ficção científica (Daniel Galera) ou da ficção especulativa (como no “Krakatoa” de Verônica Stigger), a narrativa contemporânea brasileira parece cartografar o conjunto de crises que caracterizam o contemporâneo, da existencial à planetária. Dessa forma, o painel “Experiência heterotópica na ficção brasileira: da emergência do espaço ao espaço em estado de emergência” tem como objetivo compreender as transformações estético-políticas que a literatura brasileira vem atravessando nas últimas décadas.
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Coordenador(a): Vera G. Centeno (Tampere University / Finlândia)
Coordenador(a): Flávio Eiró de Oliveira (Vrije Universiteit Amsterdam / Holanda)
Este painel tem como objetivo discutir o uso de conceitos genéricos (Centeno, Kauko e Candido, 2017) e quadros teóricos (Eiró e Lotta, 2023) que, embora possuam afiliação contextual e intelectual específica, são aplicados no estudo de contextos sociopolíticos contrastantes. O conhecimento científico está enraizado no seu contexto de desenvolvimento, sendo a atividade acadêmica contingente ao seu contexto histórico e sociopolítico. A afiliação intelectual e geográfica dos pesquisadores condiciona a produção de conhecimento (entre outros, Charle, Schriewer e Wagner 2004; Brah, Hickman e Mac an Ghaill 1999; Hess 1999).
Nas últimas décadas, estudos de várias disciplinas têm mostrado que conceitos e quadros teóricos do Norte frequentemente falham em capturar as complexidades e nuances das realidades do Sul, como as do Brasil. Por exemplo, Centeno e colegas (2017) identificaram o universalismo implícito, a generalização especulativa e o espelhamento como três obstáculos associados à aplicação de conceitos teóricos que, embora oriundos de contextos específicos, são aplicados no estudo de contextos completamente diferentes. Ao estudarem a educação brasileira, os autores argumentam que o principal risco em usar conceitos genéricos sem reflexão crítica diz respeito à reprodução de entendimentos que desconsideram desvios e contextualizações. No campo da administração pública e estudos da burocracia, Eiró e Lotta (2023) mostraram que a literatura dominante frequentemente ignora as tensões sociais que são mais explícitas em sociedades em desenvolvimento, resultando em um quadro analítico estruturalmente limitado. Ao argumentar a necessidade de descolonizar a pesquisa, os pesquisadores destacam as contribuições conceituais que estudos do e sobre o Sul Global podem oferecer.
Os coordenadores convidam brasilianistas de diversas disciplinas e áreas empíricas a compartilharem os seus estudos e ideias. Uma problematização construtiva e conjunta, traçando paralelos e divergências, contribuirá para o desenvolvimento de perspectivas mais sensíveis, que capturem melhor as realidades do Sul Global, e que contribuam significativamente para uma construção compartilhada do conhecimento científico.
Brah, Avtar, Mary J. Hickman, and Máirtín Mac an Ghaill. 1999. “Introduction: Wither the Global.” In Global Futures: Migration, Environment and Globalization, edited by A. Brah, M. Hickman, M. Mac an Ghaill, and Máirtin Mac an Ghaill, 3–26. Explorations in Sociology. New York and Houndsmills: St. Martin’s Press (Palgrave) and Macmillan.
Centeno, Vera G., Jaakko Kauko, and Helena H. D. Candido. 2017. Quality Assurance and Evaluation through Brazilian lenses: an exploration into the validity of umbrella concepts. Comparative Education, 54(2), 132–158. https://doi.org/10.1080/03050068.2017.1348084
Charle, Christophe, Jürgen Schriewer, and Peter Wagner. 2004. Transnational Intellectual Networks: Forms of Academic Knowledge and the Search for Cultural Identities. Frankfurt: Campus.
Eiró, Flávio and Gabriela Lotta, On the Frontline of Global Inequalities: A Decolonial Approach to the Study of Street-Level Bureaucracies, Journal of Public Administration Research and Theory, Volume 34, Issue 1, January 2024, Pages 67–79, https://doi.org/10.1093/jopart/muad019
Hesse, Barnor. 1999. “Reviewing the Western Spectacle: Reflexive Globalization Through the Black Diaspora.” In Global Futures: Migration, Environment, and Globalization, edited by Avtar Brah, Mary J. Hickman, and Máirtín Mac an Ghaill, 122–143. New York and Houndmills: St. Martin’s Press (Palgrave) and Macmillan.
Coordenador(a): Lidiane Soares Rodrigues (Universidade Federal do ABC (UFABC) / Brasil)
Coordenador(a): Clara Ruvituso (Ibero-Amerikanisches Institut / Alemanha)
Há pouco tempo, a agenda de pesquisa sobre a circulação internacional de pessoas, ideias, obras e práticas sofreu um giro de vetor. Durante décadas, pesquisadores reconstituíram a presença francesa, inglesa, americana, alemã, italiana na cultura brasileira. Recentemente, o sentido inverso do intercâmbio cultural tem suscitado mais atenção. Trata-se, não apenas, ou não mais, de avaliar o impacto de missões francesas, diplomacia cultural à americana, grandes autores e teorias, acordos de cooperação científica – dentre outros elementos, porém de reconstituir trajetórias de intelectuais e artistas brasileiros nos países do centro dominante da geopolítica do conhecimento. Particularmente, daqueles que lograram reordenar os espaços nacionais por meio de suas obras, ideias, estratégias de integração política e intelectual, contando, por vezes com aliados “nativos” dos países do “norte’. Nesse sentido, as trajetórias e as ideias de Gilberto Freyre, Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado, Roberto Schwarz, Paulo Freire têm motivado investigações empíricas e revelado dimensões inusitadas do intercâmbio simbólico entre periferia, semi-periferia e centro do espaço transnacional.
Trata-se de reunir pesquisas em curso, situadas no giro do vetor analítico, sofrido pela agenda de pesquisa voltada ao tema da circulação internacional de pessoas, ideias, obras e práticas. Durante décadas, pesquisadores reconstituíram a presença francesa, inglesa, americana, alemã, italiana na cultura brasileira. Recentemente, o sentido inverso do intercâmbio suscita mais atenção.
Em estreito diálogo com a história social da arte, trata-se, hodiernamente, de avaliar as condições de possibilidade de circulação, apropriação, difusão e, em alguns casos, consagração, de pessoas e bens simbólicos oriundos de polos dominados no espaço global (Buchholz, 2022). Ao invés de se ocupar do impacto de missões francesas, diplomacia cultural à americana, grandes autores e teorias, acordos de cooperação científica – dentre outras práticas – no Brasil (Leão, Farias, 2016), privilegia-se reconstituir trajetórias de brasileiros, e, em particular aqueles bem-sucedidos, nos países do centro dominante da geopolítica do conhecimento. Nesse sentido, as trajetórias e as ideias de Gilberto Freyre, Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado, Roberto Schwarz, Paulo Freire têm motivado investigações empíricas e revelado dimensões inusitadas do intercâmbio transnacional (Maia, 2014, Rodrigues, 2022, 2023, Ruvituso, 2020).
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Coordenador(a): Angela Torresan (University of Manchester / Grã Bretanha)
Coordenador(a): Neiva Vieira da Cunha (Universidade Estadual do Rio de Janeiro / Brasil)
Este painel convida a uma reflexão sobre como políticas públicas moldam a precariedade e a segregação socioespacial em territórios periféricos, perpetuando desigualdades históricas e limitando o acesso pleno à cidadania. A partir de análises baseadas em etnografias realizadas em diferentes contextos, exploramos como essas populações enfrentam os impactos dessas políticas, mobilizando-se em estratégias de resistência e reivindicando direitos fundamentais.
Este painel tem como objetivo analisar os processos de implementação de políticas públicas em territórios classificados como periféricos (Cunha e Feltran 2013), explorando suas diversas formas e contextos, bem como os impactos na reprodução de uma condição de precariedade de longa duração e de segregação socioespacial (Cunha, Carman, e Segura 2013), resultando em graves implicações materiais para sua sobrevivência. Precariedade, em suas várias formas, é entendida aqui como uma condição moldada por limitações historicamente e politicamente impostas, incluindo direitos restritos à cidadania (Fisher 2008, Holston 2008) e ao acesso à lei (de Soto 1989), que não decorre de uma falha no desenvolvimento econômico ou na eficiência da democracia, mas de um conjunto estratégico de técnicas de governança política. Essa condição, como resultado de um aparato administrativo do Estado, restringe populações específicas de acessar plenamente os direitos estabelecidos de cidadania (Lorey 2009, Torresan 2020). Assim, buscamos evidenciar as relações entre a construção das formas de representação social desses territórios e o contexto mais amplo de produção do espaço urbano, particularmente por meio de políticas de renovação urbana e habitação popular (Cunha 2018, Sassen 2016). À luz dessas análises, desejamos observar os efeitos dessas políticas que, ao reestruturarem o espaço urbano, perpetuam desigualdades sociais e reforçam a segregação socioespacial de populações pobres, racializadas e periferizadas. Essas ações do Estado frequentemente resultam não apenas na marginalização contínua dessas comunidades, mas também na intensificação de conflitos que afetam diretamente sua sobrevivência material e simbólica. Frente a essa realidade, essas populações desenvolvem estratégias de resistência e sobrevivência, expressas em denúncias, mobilizações coletivas e reivindicações públicas direcionadas às instituições estatais. Essas iniciativas não apenas desafiam as estruturas de opressão, mas também se alinham à noções de igualdade e direitos sociais, buscando visibilidade e reparação diante das injustiças impostas. Sob essa perspectiva, e ancorado na apresentação de pesquisas etnográficas realizadas em distintos contextos, o painel pretende problematizar os processos de reconfiguração das práticas do Estado em suas margens e a legibilidade das políticas de gestão de territórios direcionadas às populações pobres e outros grupos sociais identificados como vulneráveis. Tomando as noções de necropolítica de Mbembe (2019) e governança de precariedade (Torresan 2021) como guias analíticos, propõe-se refletir sobre como essas margens são produzidas pelo próprio Estado, conduzindo à emergência de movimentos sociais e ações coletivas que recorrem às instituições judiciárias para resolver litígios, obter reparações por danos morais e materiais, e reivindicar o reconhecimento de seus direitos (Fassin 1996, Paugan 1991). Convidamos contribuições para o painel que apresentem reflexões sobre esses temas, sustentadas por experiências de pesquisas etnográficas. Acreditamos que o trabalho etnográfico contribui significativamente para o debate sobre a reprodução de uma cidadania diferenciada (Holston 2008), ao oferecer nuances sobre os processos cotidianos de resistência e denúncia daqueles que sofrem com a discriminação promovida pelo Estado.
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Coordenador(a): Karen Macknow Lisboa (Freie Universität Berlin / Alemanha)
Coordenador(a): Amilcar Torrão Filho (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / Brasil)
Este painel temático pretende discutir o papel dos/das viajantes e a literatura de viagem, ou na definição de Ottmar Ette, a literatura em movimento, no contexto do (neo) colonialismo, do imperialismo e da globalização.
Ao longo do século XIX e início do século XX, a produção intelectual (escritos, pesquisas, coleções, iconografia, etc.) de viagens sobre África e América Latina contribuíram para a ciência, para os padrões de percepção e representações da cultura, natureza, sociedade. Com isso, essa documentação ocupa um importante papel na história cultural e científica. E ela é fundamental para compreender as relações políticas entre os diferentes espaços em questão, marcados a partir do início do século XIX pelo processo das independências políticas e o neocolonialismo (América Latina) e o imperialismo, na África, cuja divisão e tomada territorial pelas nações hegemônicas europeias se defiine entre 1884/85 até 1914. A partir da crítica descolonial e pós-colonial objetiva-se aqui problematizar as dimensões transculturais deste gênero híbrido e as diferentes tipologias e práticas de viajantes e viagens nos respectivos contextos históricos, focando preferencialmente o espaço Atlântico. Igualmente procura-se verificar como os/as viajantes oriundo/as do norte global contribuíram para representações sobre o sul global; e como essas representações se transformaram, muitas vezes, em imagens conceituais que definiram distinções entre culturas, etnias e sociedades.
Serão bem-vindas propostas que se dedicam aos seguintes temas específicos: circulação dos objetos e dos saberes, práticas da viagem, sociabilidade da viagem, materialidade da viagem, construção de redes de troca; questões de gênero, debate racial; tipologias de viajantes, de práticas da viagem, de narrativas.
No campo da historiografia, das ciências naturais, da antropologia, dos estudos literários e culturais, a literatura de viagem ou a literatura em movimento tem sido nas últimas décadas importante objeto de investigação, no sentido de ajudar a compreender as relações (desiguais) entre o norte global e o sul global. Neste amplo campo que ainda deixa espaço para investigação e novas problematizações, a atuação do/as própria/os viajantes e a sua produção (científica, literária, artística etc.) contribuíram para narrativas e representações sobre o supostamente estranho e estrangeiro bem como o conhecido e o próprio. Ao mesmo tempo, protagonizou a circulação de objetos e saberes, que auxiliaram no processo de institucionalização em alguns lugares. O caráter transcultural e transdisciplinar deste gênero híbrido justamente possibilita estudar essas relações transregionais e transnacionais de uma forma conectada.
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Coordenador(a): Andrea Oltramari (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Brasil)
Coordenador(a): João Areosa (Instituto Politécnico de Setúbal / Portugal)
A proposta ora encaminhada dá continuidade e busca consolidar estudos que problematizem especificamente a diáspora científica brasileira. Adicionalmente, esse grupo de trabalho/área temática visa promover estudos que tenham em seu cerne conhecer e analisar as transformações nos processos migratórios internacionais, contemplando os movimentos da diáspora científica brasileira nos mais diversos países, de modo a auxiliar na promoção e disseminação de estudos sobre o tema e integrar os pesquisadores de mestrado, doutorado e pós-doutorado.
As migrações internacionais no século XXI exigem um olhar que contemple a diversidade de processos, heterogeneidade e modalidades migratórias (Wenden, 2001) em curso. Entre elas, estão as migrações internacionais qualificadas (De Haas, 2024). Além das transformações ligadas à reestruturação produtiva e à expansão de empresas transnacionais (Harvey, 1992), considera-se também as relações geopolíticas e de governança das migrações contemporâneas (Baeninger, 2018) em um cenário de crescentes instabilidades políticas e econômicas em âmbito regional que coloca distintos contingentes de imigrantes em movimento. Se, por um lado, há preocupação em compreender os movimentos dessa diáspora, por outro lado, há uma constatação que essa perda de cérebros também pode-se constituir um problema para o Brasil e demais países que padecem com a perda de cérebros (Balbachevsky, 2012).
Adicionalmente, o fenômeno brain drain é reflexo de conjunturas econômicas e sociais que influenciam o fluxo dessa diáspora. São cidadãos que passam a produzir conhecimento em outro país, ao mesmo tempo transferem seu capital financeiro para o local de destino. Nações de hegemonia econômica buscam estrangeiros para todos os setores, dos mais comuns nos setores produtivos e bens de serviços (trabalho material) e aqueles classificados como superqualificados para compor o quadro de intelectuais da nação (trabalho imaterial). Tal é o fato de alguns países europeus, por exemplo. Entretanto, mesmo que se ressalte a importância de políticas de governo que incentivem a mobilidade acadêmica internacional visando um brain circulation, há que se atentar também para políticas que visem mapear e articular essa cooperação entre instituições nacionais e internacionais. Dessa forma, Carneiro et al. (2020) destacam que há um duplo desafio: não somente mapear e conectar essa rede de brasileiros no exterior, mas também construir ações estratégicas concretas que vise a colaboração, trazendo assim, benefícios também ao Brasil.
Com a globalização, as mobilidades acadêmicas e a internacionalização dos programas de pesquisa têm sido incentivadas. Para alguns autores, o foco não deve mais ser evitar o brain drain, mas sim promover o brain circulation (Murphy e Pacher, 2022; Khan e Oghenetega, 2021), um fluxo em que esses profissionais qualificados contribuem tanto para o país de origem quanto para o de destino, formando redes de pesquisa que transcendem fronteiras geográficas.
Para o pesquisador, a oportunidade de vivenciar uma experiência internacional é fundamental para o desenvolvimento de sua carreira, mas essa experiência também envolve desafios significativos. Trabalhos anteriores, como os de Malheiros e Padilla (2014), França e Oliveira (2021) e Tonelli, Oltramari e Casaca (2021), têm mostrado que a inserção laboral dos imigrantes apresenta diversas facetas, especialmente quando se considera as barreiras de inserção laboral e as marcas da colonialidade predominantes entre ex-colônias (Oltramari, Rainho e Oliveira, 2022).
Essa diáspora científica transita constantemente por labirintos de carreira (Komino et al., 2024) e frequentemente engendram modos de construção de trajetória profissional e sobrevivência nos países de destino que dizem de redes informais e bastante solidárias e solitárias (Oltramari, 2024). São muitas também as redes de associações da organização civil, de pesquisadores e estudantes no exterior que engendram suas redes, como forma de coletividade intensa para fortalecimento dessa diáspora. Portanto, pretende-se articular essas redes transatlânticas de colaboração e fomentar políticas públicas para a proposta de brain circulation ou redes de cérebros, ou ainda, de uma forma mais ampla e que contemple as redes internacionais da migração (Krissman, 2005). Acreditamos ser um objetivo importante deste eixo temático, em especial pela possibilidade de tanto descrever quanto compreender as formas de inserção na carreira de pesquisadores brasileiros engendradas no exterior, seus estudos e trabalhos, e assim articular formas de transferência e re-articulação desse conhecimento para o Brasil.
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Tonelli, M. J., Oltramari, A., & Casaca, S. F. (2021). Brazilian women as qualified immigrants in Portugal: Inclusion by stigma and resistance. In 11th Biennial International Interdisciplinary Virtual Conference Gender, Work & Organisation (pp. 56–70).
Wenden, C. W. Un essai de typologie des nouvelles mobilités. Hommes & Migration, Paris, n. 1233, p. 5-12, 2001.
Coordenador(a): Liz Rejane Issberner (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) / Brasil)
Coordenador(a): Philippe Léna (Institut de Recherche pour le Développement (UMR 208 IRD-MNHN Museu de História Natural da França) / França)
A obstrução climática já é bem definida na literatura (MILANI; 2023; CSSN, 2021). A proposta aqui é que essa mesma lógica seja adaptada ao contexto da região amazônica. Assim como no caso climático, a obstrução no contexto da Amazônia refere-se às práticas, ações, campanhas e outras medidas políticas adotadas por redes organizadas, corporações, governos e outros atores que, direta ou indiretamente, atrasam ou impedem a implementação de soluções que contrariam os seus interessas. Na região Amazônica, esses interesses são contrariados pelas política de proteção de sua sociobiodiversidade. A obstrução pode ser deliberada ou resultado de negligência, mas o objetivo é sempre salvaguardar interesses econômicos, políticos ou ideológicos. O negacionismo ambiental é, talvez, o mais evidente operador da engenharia informacional para a obstrução aos esforços de proteção do meio ambiente e das populações que dependem dele. Fearnside relatou (2017), usando o caso da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, como a destruição socioambiental na Amazônia está intimamente ligada ao negacionismo socioambiental. Exemplos de obstrução foram relatados na imprensa brasileira, como no caso da migração do site do Ministério do Meio Ambiente de 2019 a 2022, onde 30 anos informações foram perdidas e nem todas foram recuperadas (AMADO, 2024). Outro exemplo se deu com a publicação de dados alarmantes sobre queimadas na Amazônia no período de janeiro a setembro de 2019 (também detectadas pela NASA). Essa informação teve um impacto considerável, tanto nacional quanto internacionalmente. Sob pressão, o então presidente Bolsonaro questionou a credibilidade dos dados do INPE e demitiu seu diretor, Ricardo Galvão (MELO, 2020). Entre as abordagens possíveis, este painel trata das formas de obstrução à proteção da sociobiodiversidade na Amazônia. Entender o modus operandi da obstrução parece ser uma necessidade no momento em que a floresta amazônica está à beira de chegar ao seu tipping point (NOBRE; FABRÍCIO-NETO, 2021).
Considerando que a transição para uma economia/sociedade sustentável, mesmo que possível, ainda se encontra em estágios relativamente rudimentares e, portanto, longe do que o conhecimento científico recomenda (Issberner: Léna, 2018) vale a pena refletir sobre os obstáculos que impedem o real progresso, sejam eles políticos, legais, econômicos, sociais ou culturais. No centro do debate sobre essa transição está a defesa da Amazônia, vinculada a uma série de outras questões, como a redução dos gases de efeito estufa, a manutenção das condições agrícolas em outras regiões da América Latina, a exploração de petróleo (especialmente em áreas sensíveis) em um momento de transição energética e muitas outras. Dada a urgência da situação, as políticas ambientais e socioambientais na Amazônia se mostram inadequadas diante da dinâmica econômica predatória. A obstrução é um facilitador da destruição socioambiental, com seu repertório de práticas econômicas insustentáveis, que ignoram os direitos das populações locais e subestimam os impactos globais da degradação da floresta, perpetuando um ciclo de destruição e desigualdade. Combater o negacionismo é, portanto, essencial para promover uma abordagem sustentável e justa para a conservação da Amazônia.
A obstrução à defesa da sociobiodiversidade na Amazônia pode ser associado a uma série de comportamentos adotados por atores que veem oportunidades de ganho econômico/político na região amazônica. O comportamento típico frequentemente envolve a negação ou minimização das consequências das atividades humanas sobre a Amazônia, como o desmatamento, a mineração, os grandes empreendimentos de infraestrutura e a agropecuária extensiva. Argumentos como “a floresta é inesgotável” ou “o desmatamento é necessário para o progresso econômico” são usados para legitimar políticas e práticas que aceleram a destruição ambiental. Além disso, atores interessados na exploração tendem a desacreditar estudos científicos, como os alertas de desmatamento, que mostram os impactos do desmatamento e da mudança climática, o que dificulta a implementação de políticas públicas baseadas em evidências. Isso abre espaço para narrativas que priorizam interesses econômicos imediatos em detrimento da conservação, reforçando uma visão econômica que prioriza o uso intensivo dos recursos naturais, desconsiderando os custos sociais e ambientais a longo prazo.
Políticas que ignoram a necessidade de proteção ambiental tendem a aumentar a destruição de habitats, a perda de biodiversidade e a violação dos direitos das populações indígenas e ribeirinhas. Frequentemente os interesses de agentes econômicos desconsideram o papel central das populações tradicionais e indígenas na conservação da Amazônia. Tais populações são frequentemente estigmatizados por meio de estereótipos, preconceitos e discriminação, o que contribui para sua marginalização social, política e econômica. Isso resulta em políticas que ameaçam esses grupos, promovendo conflitos fundiários, violência e a perda de culturas e saberes locais.
Campanhas de desinformação são usadas, inclusive por autoridades governamentais para confundir a opinião pública sobre a gravidade da crise do bioma amazônico. Isso enfraquece a pressão por mudanças e reduz a conscientização sobre a importância da floresta para o equilíbrio climático global.
Sob ataques de autoridades públicas, corporações do agronegócio, da mineração e de outros interesses nacionais e internacionais, a Amazônia segue sendo devastada e assim contribuindo para as mudanças climáticas globais, pois a capacidade da floresta de atuar como um sumidouro de carbono é reduzida. O negacionismo ambiental, ao desconsiderar essa relação, dificulta os esforços globais para combater a crise climática, sendo também um componente da Obstrução Climática.
AMADO, Guilherme. Ministério do Meio Ambiente de Bolsonaro apagou 30 anos de documentos. Jornal Metrópolis online,13/07/2024. Disponível em: https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/ministerio-do-meio-ambiente-de-bolsonaro-apagou-30-anos-de-documentos. Acessado em 10 de nov 2024.
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Coordenador(a): Marcela Magalhães de Paula (Instituto Guimarães Rosa – Embaixada do Brasil / Itália)
Coordenador(a): Fernanda Nascimento (Universidade Estadual do Ceará / Brasil)
Nas últimas décadas, os fluxos migratórios entre Brasil e Europa têm se intensificado, impulsionados por uma complexa rede de fatores econômicos, políticos e culturais. Este fenômeno revela não apenas o movimento de brasileiros em busca de condições de vida mais dignas, oportunidades educacionais e inserção no mercado de trabalho, mas também o retorno de migrantes ao Brasil e a chegada de europeus ao território brasileiro. Esses deslocamentos, contudo, não se limitam a números e estatísticas. Eles carregam narrativas de resistência, pertencimento e exclusão, que se manifestam de forma pungente na produção artística, literária e nas representações culturais.
O presente painel propõe um espaço de debate interdisciplinar para examinar criticamente as formas de representação dos fluxos migratórios Brasil-Europa no campo das artes, da literatura, páginas em redes sociais e da sociedade. Sob esta ótica, serão analisadas as dinâmicas de inclusão e exclusão dos migrantes, os discursos midiáticos e institucionais que os cercam, as políticas migratórias vigentes e as negociações de identidade e pertencimento que emergem desses processos. Longe de uma análise neutra, o painel procura desvelar as relações de poder que estruturam a mobilidade humana e os mecanismos de controle e vigilância que recaem sobre corpos migrantes.
A centralidade das produções artísticas e literárias neste debate reside na sua capacidade de expor o universo subjetivo dos migrantes: suas dores, conquistas, lutas diárias e as múltiplas facetas do deslocamento. Mais do que fontes de interpretação, essas obras se configuram como instrumentos de denúncia e resistência. A literatura, o cinema, a música e as artes visuais tornam-se, assim, trincheiras simbólicas onde os migrantes rompem com as narrativas hegemônicas e reivindicam a visibilidade de suas existências.
Outro aspecto crucial a ser debatido é a condição jurídica e social do migrante. Os marcos legais que regulam a entrada e a permanência de brasileiros na Europa e de europeus no Brasil são atravessados por relações de poder assimétricas. Políticas de controle de fronteiras, regimes de vistos e autorizações de permanência funcionam como dispositivos que perpetuam a lógica excludente do Estado-nação, reforçando estigmas e a precarização das vidas migrantes. Da mesma forma, o retorno de brasileiros ao país de origem após a experiência europeia não ocorre sem tensões, já que a reintegração social frequentemente enfrenta barreiras culturais e econômicas. Ampliar o entendimento sobre os fluxos migratórios Brasil-Europa é essencial para construir políticas públicas mais justas e para dar visibilidade às vozes migrantes que são, frequentemente, silenciadas.
BAENINGER, Rosana. Migrações internacionais: teorias, políticas e mobilidades. Campinas: Editora da Unicamp, 2018.
SALES, Teresa Cristina de Novaes. Brasileiros longe de casa. São Paulo: Cortez, 1999.
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SAYAD, Abdelmalek. A Imigração ou os paradoxos da alteridade. São Paulo: EdUSP, 1998.
MARTINI, Nara. Imigração e políticas públicas na União Europeia: desafios e perspectivas. Revista de Estudos Europeus, 2021.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
GUIMARÃES, Manuel. Cinema e Migração: representações da diáspora brasileira na Europa. Lisboa: Colibri, 2022.
Coordenador(a): Sébastien Rozeaux (Université Toulouse Jean Jaurès / França)
Coordenador(a): Hebe Mattos (Universidade Federal Juiz de Fora / Brasil)
O painel propõe uma reflexão historiográfica sobre os procedimentos teóricos e metodológicos para escrever uma “história popular” do Brasil da época colonial à contemporânea. As propostas de comunicação deverão oferecer elementos de reflexão de teor metodológico, em diálogo com o objeto e o campo de investigação, valorizando os atores sociais subalternizados, bem como as dimensões de raça, gênero, classe, etc.
A presente mesa se insere no âmbito do projeto de pesquisa « Por uma história popular da América Latina » (financiado pelo Institut des Amériques, pelo Labex SMS Framespa/Université Toulouse Jean Jaurès, e pelo laboratório Pléiade da Universidade Sorbonne Paris Nord). Através da organização de encontros e jornadas de estudos, o objetivo final do projeto, coordenado por Franck Gaudichaud, Sébastien Rozeaux e Sílvia Capanema, é produzir uma obra coletiva que proponha a escrita de uma história popular da América Latina desde a época colonial até o tempo presente.
Nesse sentido, buscamos suscitar com esta mesa um debate sobre como seria pensar a escrita de uma história popular do Brasil, enfocando as relações sociais e raciais no tempo longo, desde a formação de uma sociedade colonial na América portuguesa, incluindo suas reconfigurações e evoluções na contemporaneidade. Nossa intenção é repensar a história do Brasil assumindo a perspectiva dos atores subalternizados, trabalhadores, classes populares, indígenas, migrantes, escravizados, negros, camponeses, sujeitos e sujeitas racializados e periféricos.
A escrita de « histórias populares » tem se tornado um novo fenômeno historiográfico na Europa, dando sequência à ampla recepção da obra The People’s History of the United States de Howard Zinn (livro publicado em 1980 mas traduzido para outras línguas, como o francês, somente a partir dos anos 2000). Na França, dois livros recentes marcaram o debate historiográfico e deram origem a novas publicações: Les Luttes et des rêves : une histoire populaire de la France (2016), de Michelle Zancarini Fournel, e Une histoire populaire de la France, de Gérard Noiriel (2019).
Na América Latina, a proposta claramente assumida como « uma história popular » não teve o mesmo impacto. No Brasil, em particular, o livro de Zinn não foi sequer traduzido. No entanto, como sabemos, a perspectiva da « história vista de baixo » (from below) foi e segue sendo bastante desenvolvida no país, de diferentes maneiras, em grande medida a partir dos trabalhos de Edward P. Thompson ou Eric Hobsbawn. Mais recentemente, as abordagens decoloniais ou levando em conta o conceito de sujeitos subalternizados têm orientado diversos estudos.
Mas como pensar na produção de uma história popular – ou história do povo – do Brasil numa perspectiva das produções brasileiras? Quais são as contribuições e abordagens recentes? Quais desafios? Quais seriam as questões próprias ao país? Como tratar da extensão territorial e da diversidade cultural numa obra que busque colocar em evidência o povo? Como estar atento tanto ao mundo do trabalho, quanto ao mundo das festas, dos rituais, das religiosidades, do cotidiano, da politização ordinária, mas também das lutas sociais e das inúmeras formas de resistência? Como pensar a raça, a classe e o gênero, como não dissociados das formas de poder, do racismo, do autoritarismo e da dominação? Como pensar nas diferenças entre mundo rural e urbano, bem como entre centros e periferias? Em que medida a mudança de perspectiva pode também possibilitar se repensarem conceitos, ideias e temporalidades consagradas?
Assim, buscaremos discutir, do ponto de vista historiográfico e metodológico, quais seriam as principais contribuições e referências « para a escrita de uma história popular do Brasil ». Mas também, temos interesse em trabalhos que apresentem análises e estudos originais, dentro da perspectiva de uma história do “povo”.
Assim, a mesa redonda se articulará em torno de duas temáticas principais:
Historiografia, metodologias, teorias na escrita de uma história popular do Brasil
Atores sociais subalternizados, diversidade de gênero, raça e classe no Brasil contemporâneo.
Os trabalhos apresentados podem analisar diferentes territórios e domínios culturais, bem como diversos períodos históricos.
Silvia Capanema, João Cândido e os navegantes negros: a revolta da chibata e a segunda abolição, Rio de Janeiro, Malê, 2022.
Sidney Chalhoub, Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Epoque, Campinas, Editora da Unicamp, 2012.
Manuela Carneiro da Cunha (org.), História dos índios no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1992.
João Paulo Peixoto Costa et al., Povos indígenas, independência e muitas histórias, Curitiba, CRV, 2022.
Mariana A. Dantas, Dimensões da participação política indígena. Estado nacional e revoltas em Pernambuco e Alagoas, 1817-1848, Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 2018.
Monica Dantas (org.). Revoltas, motins, revoluções: homens livres pobres e libertos no Brasil do século XIX. São Paulo, Alameda, 2018.
Monica Dantas, Fronteiras movediças. A comarca de Itapicuru e a formação do arraial de Canudos (relações sociais na Bahia do século XIX), São Paulo, Intermeios, 2020.
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Florestan Fernandes, A integração do negro na sociedade de classes, São Paulo, Biblioteca Azul, 2008.
Eric Hobsbawm, Uncommon People: Resistance, Rebellion and Jazz, London, Weidenfeld and Nicolson, 1998.
Hebe Mattos, Das Cores do Silêncio. Os significados da liberdade no sudeste escravista (Brasil, séc. XIX), São Paulo, ed. Unicamp, 1995.
Yuko Miki, Frontiers of Citizenship: A Black and Indigenous History of Postcolonial Brazil, New York & Cambridge, Cambridge University Press, 2018.
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Sébastien Rozeaux, « Habiter Belo Monte, éphémère communauté chrétienne dans le sertão de Canudos (Brésil, 1893‑1897) », L’ordinaire des Amériques, n° 231, 2023, en ligne.
E. P. Thompson, La formation de la classe ouvrière anglaise, Paris, Le Seuil, 1988 [1963].
Michelle Zancarini-Fournel, Les Luttes et les Rêves. Une histoire populaire de la France de 1685 à nos jours, Paris, La Découverte, 2016.
Hodward Zinn, A People’s History of the United States. 1492-Present, New York, Harper Collins, 2003 [1980].
Coordenador(a): Rogéria da Silva Martins (Universidade Federal de Juiz de Fora / Brasil)
Coordenador(a): María Esther Martínez Quinteiro (Universidad de Salamanca / Espanha)
A proposta do painel busca compreender os elementos que envolvem a dinâmica dos fluxos migratórios entre Portugal, Espanha e Brasil, notadamente, no que envolve o acesso à educação, em diferentes níveis de ensino, a partir de uma política de inclusão. Observar, também, nesses espaços, as supostas formas de compreender os fluxos migratórios, seja na adoção de uma política assimilacionista e/ou àquelas enquadradas no multiculturalismo, ambas reguladas pela condição de silenciamento cultural nos sistemas de ensino, considerando os obstáculos institucionais e simbólicos estabelecidos entre agências e estrutura nessa dinâmica da migração internacional. Nesse sentido, ações visando à desnaturalização das representações sociais da diversidade e os elementos de integração do ensino; buscando observar o desenvolvimento da relação educação/sociedade para o reconhecimento étnico; bem como a apresentação do universo institucional dos direitos civis, políticos e sociais na perspectiva das migrações internacionais nesses países; possibilitar compreender os saberes da cultura e da sociedade local, que diz muito sobre a experiência de migrantes nesses países.
O mundo está diante de novas formas de mobilidade humana, revelando crescente aumento de migrantes internacionais ao longo do tempo: de 100 milhões em 1960, para 155 milhões em 2000; de 214 milhões em 2010 e chega a marca de 281 milhões de pessoas em 2024 (UNDESA,2024). Esses dados destacam que este total, reflete uma acumulação de eventos migratórios ao longo de muitas décadas, e que esse processo estabeleceu mudanças significativas nos padrões de migração global. Países como Portugal e Espanha têm desenvolvido políticas de imigração, que marcam a experiência migratória de brasileiros na Europa central. Na Espanha, na atualidade, consolida-se como país de imigração e passa a se converter num espaço multicultural e pluriétnico, com implicações de diversas naturezas (econômicas, sociais, políticas e culturais). Em Portugal também revelam mudanças em contexto migratório, apresentando uma diversificação dos fluxos migratórios internacionais, como uma das características das migrações internacionais recentes.
No Brasil, esse processo também revelou mudanças significativas nos padrões de migrações internacionais. Elas passaram por diferentes etapas, idades, gerações e modos de geração, no sentido do movimento sincrônico e diacrônico das migrações, proposto na transnacionalização. Esses padrões incidem em mudanças em termos de crescimento, mudanças contínuas e graduais e desenvolvimento de novos ciclos.
Nesse cenário, como ficam os serviços universais (saúde, educação etc) que atendem migrantes em diferentes estados nações? Quais são os modos de incorporação, inclusive que inclui a política de governo, as atitudes institucionais que definem o acolhimento e tratamento de pessoas em situação de itinerância? Essa categoria em si, amplia o campo de percepção, quando se observa as diferentes configurações para compreender pessoas em situação de itinerância. A condição de itinerância abrange situações específicas e grupos diversos, cuja situação comum diz respeito à dificuldade da continuidade de estudos a pessoas que passam por situações, permanentes ou não, de deslocamentos. A transitoriedade acarreta uma circunstância, cuja reivindicação do direito à cidadania se compromete. Outro aspecto distintivo destes fluxos recentes e que adquire cada vez mais interesse entre os estudiosos sociais das migrações é o surgimento do campo transnacional ou as migrações transnacionais, que vem imprimindo novas formas de pensar os eventos migratórios, visto como um problema sociológico, revelando o fato do conceito nos permitir “olhar” para os dois lugares, a sociedade de destino e a de origem. Nesse sentido, a proposta do painel poderia colaborar para compreender as dinâmicas dos direitos civis, políticos e sociais, atrelado ao acesso à educação, uma vez que parte do fluxo migratório entre países como Espanha, Portugal e Brasil envolve o trânsito de pessoas mobilizado pela educação, na busca por formação mais qualificada.
CACHÓN. Lorenzo. Diez notas sobre a imigração na Espanha. In. ARANGO ET AL. Inmigrantes el continente móvil. Vanguardia Dossier, n.22, Enero/Marzo 2007.
CASTLES, Stephen, Mark J. Miller. La era de la migración: Movimientos internacionales de población em el mundo moderno. Universidad Autonoma de Zacatecas, Mexico:2004.
MONSMA, Karl; TRUZZI, Olwaldo. Amnésia social e representações de imigrantes: consequências do esquecimento histórico e colonial na Europa e na América. Sociologias, v. 20, n. 49, p. 70-108, 2018.
ASSIS, Gláucia de Oliveira – Estar aqui, estar lá… o retorno dos emigrantes valadarenses ou a construção de uma identidade transnacional? In Caderno de Ciências Sociais, vol.4, n.7, dez.1996.
SALES, Teresa – Imigrantes estrangeiros, imigrantes brasileiros: uma revisão bibliográfica e algumas questões para pesquisa, in Revista Brasileira de Estudos de População, São Paulo, ABEP, vol.9 nº1, pg.50-64, jan./jun. 1992.
Coordenador(a): Cleide Maria Amorim dos Santos (Universidade Estadual do Ceará / Brasil)
Coordenador(a): Luma da Silva Miranda (Universidade Eötvös Loránd / Hungria)
O painel propõe um diálogo acerca dos processos de internacionalização da literatura brasileira, enfatizando práticas, institucionalizadas ou não, que articulam autores, temáticas, personagens, gêneros e/ou estilos referenciados no Brasil, integrando-os aos processos contemporâneos de expansão e democratização da esfera literária e/ou aos circuitos clássicos de reconhecimento na World Literature.
A escrita em português, a ausência de políticas públicas voltadas à difusão literária, e o fluxo desigual entre traduções de autores estrangeiros no Brasil e publicação internacional de autores brasileiros, constituem entraves (PINTO-BAILEY, 2019) reconhecidos ao processo de internacionalização literária. Por outro lado, observa-se, à margem dessa estrutura impeditiva, a emergência/efervescência, no Brasil, de novos gêneros literários que trazem palavras interseccionalizadas por relações étnico-raciais e de gênero, bem como, no estrangeiro, a multiplicação de coletivos artístico-literários capitaneados por lusófonos, ou constituídos em torno da lusofonia, por meio dos quais, ainda que em pequena escala, um público leitor da produção brasileira tem sido formado e expandido. Este painel gostaria de dialogar com tais experiências e reflexões.
Parte-se da ideia da natureza coletiva (mundo da arte) da produção artística (BECKER, 2008), que requer cadeias de cooperação, distribuição e divulgação, envolvendo a ação coordenada de pessoas (agentes competentes) que a concebem e a executam, bem como daquelas que dão apoio logístico e as que constituem o público habilitado (reconhecimento das convenções) a consumir tal obra. Soma-se a perspectiva de expansão e democratização da esfera artística (arte ilimitada e culturas DIY), na qual a arte converte-se, de objeto de admiração, em força ativa na vida social dos indivíduos, pautando-se pela independência conceitual/operacional e multiplicidade de meios de expressão (GUERRA, 2019).
Desse modo, o painel abre-se para a apresentação de trabalhos, com especial interesse em Relatos de Experiência, que reflitam os variados formatos de circulação internacional da produção literária brasileira, desde ações de tradução/editoração de obras clássicas e contemporâneas até os clubes informais de leitura, passando por interações com outras linguagens artísticas, estudos acadêmicos, feiras literárias institucionalizadas, políticas e organismos de difusão transnacional e livrarias especializadas.
BECKER, H. Mundos da Arte. Lisboa: Livros Horizonte, 2008.
BENNETT, A.; GUERRA, P. Repensar a cultura DIY num contexto pós-industrial e global. Todas as Artes. Revista Luso-Brasileira de Artes e Cultura. Porto. Vol. 4, nº 2, 2021, pp 13-27.
BOURDIEU, P. As regras da arte. Lisboa: Presença,1996.
GUERRA, P. Artes Ilimitadas. De Vidas Artes, 376–381. (2019). https://doi.org/10.21747/9789898969187/DEVA22
HOLSTON, J. Insurgent Citizenship: Disjunctions of democracy and modernity in Brazil. Princeton: Princeton UP, 2008.
ORTIZ, Renato. Otro território: Ensayos sobre el mundo contemporáneo. Bogotá: Convenio Andrés Bello, 1998.
PINTO-BAILEY, C. F. A Internacionalização da Literatura Brasileira: Tradução, Política e Percepção Cultural. Revista ABRALIC, Associação Brasileira de Literatura Comparada. V.21. N. 37. (2019).
Coordenador(a): Leandro Leão (École des hautes études en sciences sociales / França)
Coordenador(a): Luciana Vieira (Universidade Estadual de Campinas / Brasil)
Este painel tem o objetivo de acolher pesquisas relacionadas às políticas diplomáticas culturais e científicas produzidas, praticadas e direcionadas ao cenário brasileiro do período pós-Segunda Guerra Mundial. Organizadas ainda no período entreguerras europeu, as políticas de diplomacia cultural congregavam estratégias voltadas a educação, ciências, técnicas e artes, impulsionando o movimento de pessoas, objetos e conhecimentos variados. Após a Segunda Guerra, com os novos arranjos produzidos pelos acordos e rupturas diplomáticas resultantes do período de conflitos, países como o Brasil passaram a reorganizar suas políticas externas culturais e científicas. A partir deste cenário, o presente painel busca promover o diálogo entre pesquisas que analisem os diferentes campos da diplomacia brasileira do período, com ênfase nos processos de organização e especialização das políticas externas culturais e científicas. São bem-vindas desde perspectivas gerais sobre políticas diplomáticas, até estudos específicos de edifícios, eventos temporários e agentes.
A partir da segunda metade da década de 1940, o campo das políticas externas brasileiras foi significativamente reestruturado. De um lado, o período marcou o fim da ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945). De outro, em nível internacional, era o fim da Segunda Guerra Mundial. Criações de instituições transnacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), bem como as disputas da Guerra Fria, impulsionaram a reorganização de diversas chancelarias, como Departamento de Estado dos Estados Unidos, o Foreign Office britânico, o Quai D’Orsay francês, o Gaimuchô japonês, a Farnesina italiana, entre outros. No Brasil, um dos marcos foi a criação da Divisão Cultural do Itamaraty, em abril de 1946, a partir da reestruturação da antiga Divisão de Cooperação Intelectual, criada em 1938 após uma reforma promovida por Oswaldo Aranha.
Analisando a dinâmica de funcionamento da diplomacia cultural e científica brasileira do período, observamos uma regularidade nas frentes de trabalho, que envolviam: a) esforços no campo da literatura, com o fomento de tradução de autores brasileiros no exterior e de cátedras de estudos de literatura brasileira nas universidades da Europa, sobretudo na Universidade de Coimbra; b) recepção, no Brasil, de professores, estudantes e pesquisadores estrangeiros, bem como incentivo ao envio de professores, estudantes e pesquisadores brasileiros ao exterior; c) mapeamento de estudos realizados sobre o Brasil em outros países; d) aquisição de materiais sobre o Brasil a ser distribuído pelo MRE nas embaixadas e em instituições de ensino, como livros e mapas. Nas décadas seguintes as exposições de arte e arquitetura brasileiras no exterior ganham fôlego. Quando nos anos 1960, elas vão ser um dos protagonistas dessa diplomacia, sobretudo na promoção da nova capital, Brasília, símbolo de modernidade do país naquela época. A diplomacia científica por sua vez, se torna cada vez mais uma política nacional com agenda própria, com agentes, lugares e ações específicas, ou seja, não mais diretamente vinculadas às culturais necessariamente. A partir destas frentes de trabalho, observamos de que modo as políticas culturais e científicas se alinhavam para atenderem a objetivos comuns, ao mesmo tempo em que passavam por processos de especialização.
CASTRO, Flávio Mendes de Oliveira. História da organização do Ministério das Relações Exteriores Brasília: Ed. UNB, 1983.
DUMONT, Juliette. Le Brésil et l’Institut international de coopération intellectuelle (1924-1946): le pari de la diplomatie culturelle. Paris: IHEAL, 2009.
RUFFINI, Pierre-Bruno. Diplomatie scientifique. De quelques notions de base et questions-clés. Philosophia Scientiæ, v. 23, n. 3, p. 67-80, 2019.
SUPPO, Hugo Rogelio. La Politique culturelle française au Brésil 1920-1930 Tese (Doutorado em história) Université Paris III Sorbonne-Nouvelle, 2000.
TURCHETTI, Simone; ADAMSON, Matthew; RISPOLI, Giulia; Olšáková, Doubravka; ROBINSON, Sam. Introduction: Just Needham to Nixon? On Writing the History of ‘Science Diplomacy’. Historical Studies in the Natural Sciences, v. 50, n. 4, p. 323-339, 2020.
Coordenador(a): Irene Vicente-Martín (Universidad de Salamanca / Espanha)
Coordenador(a): Pablo I. Magalhães (Universidade Federal do Oeste da Bahia / Brasil)
O painel “Resistência, Negociação e Participação: os indígenas e o Brasil colonial (1500-1800)” tem como objetivo investigar a diversidade de estratégias e as formas de agenciamento das populações indígenas frente aos imperativos da sociedade colonial. Em um cenário permanente de “conquista”, imposição de poder e construção de novas (des)ordens sociais, os povos indígenas desenvolveram formas complexas de resistência, adaptação e reorganização. Inspirados pela ideia de Baqueiro Paraíso de “reconhecer a historicidade das sociedades indígenas e seu papel ativo no processo de construção das relações estabelecidas”, buscamos reunir investigações que analisem as variadas respostas indígenas às pressões coloniais, desde práticas de negociação, alianças e resistência.
Convidamos também propostas de estudos que contemplem elementos da cultura indígena, a exemplo de estudos sobre manifestações de arte e cosmologias, e explorem a coexistência com as novas estruturas coloniais e suas reelaborações. Serão bem-vindos ainda trabalhos que investiguem as alianças indígenas com os colonizadores e que façam uma observação crítica do cotidiano da colonização, destacando como essas dinâmicas contribuíram para a autonomia e o protagonismo indígena. O painel visa discutir o papel ativo das sociedades indígenas no Brasil colonial, evidenciando suas práticas ativas, práticas de resistência e suas formas de negociação e adaptação dentro do sistema colonial. Por fim, serão bem-vindas propostas interdisciplinares, com abordagens que lancem novas perspectivas sobre as práticas culturais, formas de organização social e estratégias políticas e militares das comunidades indígenas.
A iniciativa de propor esse painel dá-se pela necessidade de reunir americanistas que abordem a história dos povos indígenas do Brasil. Desde a década de 1990 que o tema cresce exponencialmente e se estabeleceu como um campo interdisciplinar para reflexões e abordagens inovadoras sobre a história dos povos indígenas e do indigenismo.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.
ALMEIDA, Rita Heloisa de. O Diretório dos índios: um projeto de civilização no Brasil do século XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997.
BAQUEIRO PARAISO, Maria Hilda (org.). História Indígena na Bahia: Políticas, trajetórias, memórias e identidades. Salvador: Sagga Editora, 2024.
CASTELNAU-L’ESTOILE, Charlotte. Operários de uma vinha estéril: os jesuítas e a conversão dos índios no Brasil, 1580-1620. Bauru: Edusc, 2006.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil. Histórias, direitos e cidadania. São Paulo: Claro Enigma, 2012.
DANTAS, Mariana Albuquerque. Dimensões da participação política indígena. Estado nacional e revoltas em Pernambuco e Alagoas, 1817-1848. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2018.
DOMINGUES, Ângela. Quando os índios eram vassalos: colonização e relações de poder no Norte do Brasil na segunda metade do século XVIII. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000.
FARAGE, Nádia. As muralhas dos sertões: os povos indígenas no Rio Branco e a colonização. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1991.
GALINDO, Marcos. O governo das almas: A expansão colonial no país dos tapuias (1651-1798). São Paulo: Hucitec, 2017.
GARCIA, Elisa Frühauf. As diversas formas de ser índio: políticas indígenas e políticas indigenistas no extremo sul da América portuguesa. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2009.
METCALF, Alida. Os papéis dos intermediários na colonização do Brasil 1500-1600. São Paulo: Editora Unicamp, 2019. (orig. Go-Betweens and the Colonization of Brazil, 1500-1600. Texas: University of Texas Press, 2005).
MEUWESE, Mark. Brothers in Arms, Partners in Trade. Dutch-Indigenous Alliances in the Atlantic World, 1595-1674. Leiden/Boston: Brill, 2012.
MONTEIRO, John. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Reinventando a autonomia: liberdade, propriedade, autogoverno e novas identidades indígenas na Capitania do Espírito Santo, 1535-1822. São Paulo: Humanitas, 2019.
POMPA, Cristina. Religião como Tradução: Missionários, Tupi e Tapuia no Brasil Colonial. São Paulo: Edusc, 2003.
Coordenador(a): Antonio Luciano Tosta (University of Kansas / Estados Unidos)
Coordenador(a): Samuel Figueira-Cardoso (University of Warsaw / Polonia)
O painel tem como objetivo abordar as experiências da fome no contexto socioeconômico brasileiro e suas representações culturais e (tecno)discursivas de forma multidisciplinar. Entendemos a urgência em refletir sobre a dimensão global da fome. Cerca de 733 milhões de pessoas tiveram seu direito humano à alimentação adequada violado em 2023, o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África, de acordo com o último relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI, 2024), publicado por cinco agências especializadas das Nações Unidas. Ainda segundo este relatório, divulgado em 24 de julho de 2024, no Rio de Janeiro, houve crescimento da fome na África e permanência relativamente inalterada na Ásia, com progressos na América Latina. A África continua a ser a região com a maior proporção da população que enfrenta a fome (20,4%, em comparação com 8,1% na Ásia, 6,2% na América Latina e Caribe, e 7,3% na Oceania). Ainda neste relatório, é possível verificar que a insegurança alimentar severa no Brasil caiu 85% em 2023. Em números absolutos, 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome no país neste ano. Percentualmente, a queda foi de 8% para 1,2% da população em insegurança alimentar. Diante da urgência em ampliar os debates e aliados ao texto dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Nações Unidas da Agenda dos 17 (ONU, 2015), destacamos o objetivo 2 que se refere às políticas públicas para erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, agricultura sustentável e melhorar a nutrição. Diante do exposto, propomos este painel para construir um diálogo multidisciplinar que possibilite uma compreensão holística do tema, indo além da identificação das causas e explorando suas implicações nas políticas públicas e práticas sócio-comunicativas. A partir de uma perspectiva integradora, busca-se reunir contribuições de pesquisadores das Humanidades-Médicas de áreas como saúde coletiva, nutrição, ciências sociais, linguística, literatura, educação, estudos culturais e artes. Acreditamos que a interseção desses campos do conhecimento permite o aprofundamento das discussões sobre como a fome é percebida, representada e enfrentada pelas populações vulneráveis, instituições públicas e privadas, e pelo imaginário artístico-cultural. O enfoque será dado à forma como diferentes saberes e práticas dialogam entre si para compreender e combater a fome no Brasil. Por fim, o painel se propõe como um espaço de construção coletiva e convergência das contribuições multidisciplinares para a discussão de estratégias viáveis e reflexões críticas para o combate à fome. Dessa maneira, busca-se não apenas problematizar a fome como uma questão social e política, mas também reconhecer seus múltiplos sentidos, ampliando as possibilidades de enfrentamento desse desafio.
A relevância do painel sobre fome no contexto brasileiro se manifesta na urgência de compreender um fenômeno que afeta milhões de pessoas, especialmente em um país caracterizado por sua diversidade cultural e socioeconômica. A fome não é apenas uma questão alimentar, mas uma problemática complexa que abrange dimensões sociais, políticas e econômicas. A obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas, constituem a Sindemia Global que afeta a maior parte das pessoas em todos os países e regiões do mundo e refere-se à interconexão e interação simultânea de múltiplas epidemias que afetam populações em uma escala global, exacerbadas por fatores sociais, econômicos e ambientais. O termo Sindemia Global é utilizado para descrever como diferentes doenças interagem entre si e como suas consequências são amplificadas por condições de desigualdade, pobreza, deslocamento populacional e outras influências sociais. Destaca-se, ainda, a importância de abordar esses problemas de saúde de maneira integrada, considerando não apenas os aspectos biomédicos, mas também os determinantes sociais e estruturais que afetam a saúde das populações, enfatizando que a solução para crises de saúde deve ser multidisciplinar e global (SWINBURN et al 2022). Ao abordar as experiências da fome no contexto socioeconômico brasileiro e suas representações culturais e (tecno)discursivas de forma multidisciplinar, o painel busca explorar como essa realidade é vivenciada e interpretada em diferentes contextos, revelando assim a necessidade de políticas públicas eficazes e inclusivas. Além disso, a integração das Humanidades Médicas no debate proporciona uma visão multidimensional que enriquece as discussões e permite a identificação de soluções mais abrangentes. Com a crescente insegurança alimentar global e os alarmantes dados apresentados nos últimos relatórios da ONU, a discussão torna-se ainda mais premente. Este painel propõe ser um espaço crítico de diálogo e colaboração entre pesquisadores, visando fomentar reflexões sobre estratégias que não só mitiguem a fome, mas também promovam a dignidade e a igualdade social. Portanto, sua realização é fundamental para mobilizar esforços e sensibilizar a sociedade sobre um tema que impacta diretamente o desenvolvimento humano e social.
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Coordenador(a): Véronique Boyer (CNRS/EHESS / França)
Coordenador(a): Eduardo Ferreira (Museu Paraense Emílio Goeldi / Brasil)
Este painel se interessa por acolher contribuições etnográficas sobre reformulações de relações interpessoais e modalidades de formação de coletivos em contextos de grandes projetos de desenvolvimento, zonas de expansão da agroindustria ou de infraestruturas para ampliação do capitalismo. Com frequência essas mudanças estão associadas a conflitos sobre territórios e seus recursos, disputas por água, subsolos, recursos florestais, e vir acompanhada por violências como ameaças, expropriações.
Interessa-nos as estratégias mobilizadas por atores sociais locais, entendidos aqui de maneira abrangente e em diferentes escalas desde famílias, comunidades ou mesmo movimento social organizado, que são capazes de criar condições de oposição, resistência ou convivência em seu respectivo contexto. Incluem na área de interesse o papel de pessoas que, com sua capacidade de mobilização e carisma, conseguem criar ou reformular coletivos e assim viabilizar essas estratégias. Destacam-se nesse quesito líderes indígenas e quilombolas que, conjugando elementos de prestígio tradicionais e com o contexto histórico são capazes de realizar verdadeiras reformas sociais (FAUSTO, XAVIER, WELPER, 2016; FAUSTO, 2008). Pessoas que, por disporem de uma infraestrutura, são capazes de reunir pessoas e criar comunidades, assim como a ascensão de lideranças femininas ou organizações de mulheres reposicionam atores, rompendo com lógicas tradicionais de fazer coletivos (BOYER, 2025). Chefes de família que, por meio de reelaborações sobre sua trajetória e lembranças, lastreiam o reposicionamento étnico de seus parentes (FERREIRA, 2024). Jovens que em contato com movimento negro ou indígenas nas grandes cidades introduzem novas leituras e lógicas sociais em suas comunidades (BOYER, 2017; BOYER 2022). Gostaríamos que as contribuições apresentadas permitissem entender melhor como essas estratégias desencadeiam mudanças nas configurações sociopolíticas, reinserindo pessoas e comunidades no jogo de poder regional.
As análises costumam se concentrar sobre a dimensão coletiva, coesa e unívoca das mobilizações socais. Além disso, mesmo quando são observados dissonâncias e conflitos em torno de projetos concorrentes, a literatura raramente os toma como tema de reflexão em si. Por isto, achamos importante propor um painel que enfoque esse ponto cego nas análises. Ao reunir apresentações sobre a dimensão interpessoal, negociada e friccional das mobilizações sociais, nós buscamos observar como vão adquirindo sentido e força novos referenciais.
BOYER, V. Liderança ou cacique: figures d’autorité et dynamiques de pouvoir dans la région de Belo Monte (Amazonie brésilienne). Ethnographiques. À paraitre.
BOYER, V. Le puzzle amazonien: Positionnements ethniques et mobilisations sociales. Paris: CNRS Éditions, 2022.
BOYER, V. Ethnoterritorial reconfigurations of social conflicts: from cultural difference to political fragmentation (brazilian Amazonia). Sociologia & Antropologia, v. 7, n. 2, p. 395–428, ago. 2017.
FAUSTO, C. Donos demais: maestria e domínio na Amazônia. Mana, v. 14, n. 2, p. 329–366, 2008.
FAUSTO, C.; XAVIER, C.; WELPER, E. Conflict, peace and social reform in indigenous Amazonia. Common Knowledge, v. 22, n. 1, p. 43–68, 11 jan. 2016.
FERREIRA, E. X. Arara da Volta Grande do Xingu: história, emergência étnica, mistura e rivalidade. Tese de Doutorado (Doutorado em Antropologia Cultural) —Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 13 maio 2024.
Coordenador(a): Gisella de Amorim Serrano (Universidade de Lisboa / Portugal)
Coordenador(a): Juliana Miranda Filgueiras (Universidade Federal de Minas Gerais / Brasil)
O painel pretende receber trabalhos que discutam as narrativas, conteúdos e didáticas das histórias ensinadas, transmitidos por manuais didáticos e outros suportes, que evidenciam as remontagens do passado por meio de distintas estratégias de ensino e divulgação histórica. Tem como objetivo debater pesquisas que abordem as teorias pedagógicas – os aspectos metodológicos que envolvem estratégias de ensino e aprendizagens -, as políticas para os currículos e os livros didáticos, como também estudos comparados enfatizando a história das editoras, dos autores e da circulação de modelos pedagógicos em diferentes temporalidades. Está voltado a comunicações que partem de uma abordagem crítica das pedagogias, das narrativas que divulgam, ensinam e narram sobre a memória e os patrimónios da história (anti)coloniais no espaço transatlântico de língua oficial portuguesa. Trabalhos interessados em abordar as ausências e os silêncios nos discursos normativos oficiais, assim como em outros materiais pedagógicos e didáticos e no património material e imaterial, no que diz respeito às relações de Portugal, do Brasil e dos PALOP com os seus passados (anti)coloniais.
Este painel pretende discutir conteúdos, manuais escolares e outros materiais para o ensino de história produzido pelos países de língua oficial portuguesa. Toma como referência autores centrais no campo de estudos dos saberes escolares e dos manuais didáticos, como Alain Choppin, André Chervel, Gabriela Ossembach, Circe Bitencourt, Kazumi Munakata, Agustín Escolano Benito, Antonio Viñao e Justino Magalhães. Parte da compressão de que os livros e outros materiais escolares são objetos culturais que integram as dinâmicas das instituições educativas desde a concretização da educação formal no processo de consolidação dos Estados Nacionais, analisados como objetos que possuem uma função pedagógica e integram a cultura escolar. Desse modo, possibilitam conhecer o passado e o presente das escolas e das culturas escolares (Escolano, 2017). Conforme destaca Choppin (2004), os manuais escolares podem ser tratados a partir de várias dimensões – dos aspectos ideológicos e a disseminação de valores e práticas -, como vulgatas das disciplinas escolares, suportes de conhecimento (Chervel, 1990), assim como instrumentos didáticos de difusão de metodologias. Os manuais didáticos podem ser entendidos ainda como referências culturais de uma época (Escolano, 2017).
Pretende-se problematizar ainda narrativas sobre a memória e o patrimônio construídas neste e sobre o espaço transatlântico, em diferentes tempos e espaços. Para tanto, as estratégias de divulgação e de organização de narrativas sobre o passado comum, a língua portuguesa, a cultura histórica e o conceito de patrimônio também serão abordados.
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TROUILLOT, Michel-Rolph. Silencing the Past: Power and the Production of History. Boston: Beacon Press, 1995.
VIÑAO FRAGO, Antonio. Sistemas educativos, culturas escolares y reformas. Madrid: Morata. 2006.
Coordenador(a): Wilson Fusco (Diretoria de Pesquisas Sociais – Fundação Joaquim Nabuco / Brasil)
Coordenador(a): Jorge Malheiros (Centro de Estudos Geográficos – IGOT – Universidade de Lisboa / Portugal)
Este painel propõe discutir as dinâmicas da migração brasileira na Europa, destacando a circulação intrarregional e as comparações entre diferentes processos de inserção em contextos nacionais. A mobilidade interna de brasileiros dentro da União Europeia tem se intensificado, refletindo, por um lado, as especificidades dos vários espaços de atração e, por outro, as oportunidades de regularização, o papel das redes de apoio, a busca por melhores condições de trabalho e as reconfigurações familiares (Uebel, 2024). Ao reunir estudos sobre brasileiros e brasileiras em diferentes países, o painel busca explorar e comparar as diversas formas de inserção social e laboral, redes sociais e acesso a direitos, além de considerar como as políticas migratórias e os marcos legais moldam essa mobilidade.
Ademais, o painel abre espaço para a apresentação de estudos que tragam informações quantitativas sobre a evolução dos fluxos migratórios de brasileiros na Europa. Espera-se abordar, com base em análises empíricas, as variações no volume de migrantes ao longo do tempo, assim como as mudanças nos perfis sociodemográficos e laborais, procurando incorporar elementos relativos à circulação no interior do espaço da UE. Essa dimensão quantitativa complementará as análises qualitativas e permitirá identificar tendências emergentes que influenciam a diáspora brasileira no continente europeu. O objetivo é fomentar uma discussão que não se restrinja aos países de maior concentração, como Portugal e Reino Unido, e traga à tona novas trajetórias, fluxos emergentes e processos de adaptação e pertencimento em todo o contexto europeu.
A inserção laboral dos brasileiros na Europa apresenta estratégias e variações significativas de acordo com o país de destino, setor econômico e perfil do migrante. Em alguns contextos, há uma predominância em setores como serviços, construção civil, cuidados e hotelaria, enquanto em outros observa-se uma crescente presença em posições qualificadas, resultado da migração de profissionais com ensino superior (Silva & Pereira, 2017). A mobilidade intrarregional, facilitada pelo quadro de livre circulação de pessoas no interior da UE, tem impulsionado a busca por melhores oportunidades. Contudo, a transição para fins laborais frequentemente demanda novos processos de regularização, refletindo as complexidades do mercado de trabalho europeu para migrantes brasileiros. Estudos de caso apontam para a importância das redes sociais e comunitárias e dos mecanismos informais na obtenção de emprego, bem como para os desafios enfrentados em relação à validação de diplomas e reconhecimento de competências adquiridas fora do continente europeu (Silva, 2020).
O acesso a direitos dos brasileiros na Europa é fortemente condicionado pelo status migratório, tempo de residência e políticas locais. Em países com acordos bilaterais com o Brasil, observa-se maior facilidade na regularização da permanência, enquanto em outros há relatos de dificuldades associadas a processos burocráticos prolongados. O painel também estimula a apresentação de estudos sobre a relação entre obtenção de cidadania, residência, possibilidades de regularização e autorizações de trabalho, além do acesso a serviços de saúde, educação e proteção social. Ademais, a questão do acesso a direitos é indissociável das iniciativas de advocacia e mobilização de coletivos migrantes que pressionam por políticas mais inclusivas e menos restritivas (Padilla & França, 2012).
A intensificação dos deslocamentos intrarregionais dentro da União Europeia reflete, por um lado das diferentes oportunidades conjunturais e estruturais dois vários países e regiões que a integram e, por outro, a busca contínua por melhores condições de vida e trabalho, especialmente em momentos de crise econômica. A comparação entre diferentes contextos nacionais permite identificar padrões de mobilidade que transcendem as fronteiras tradicionais da imigração, reconfigurando trajetórias e evidenciando novos fluxos. A perspectiva comparativa, tanto em termos espaciais quanto temporais, contribui para uma análise mais ampla das dinâmicas migratórias, permitindo observar as transformações nos perfis dos migrantes e os impactos das políticas europeias na circulação interna de brasileiros. Ao incorporar dados quantitativos sobre a evolução e o perfil sociodemográfico, o painel amplia sua capacidade de análise e identificação de novas tendências migratórias no espaço europeu.
Padilla, B., & França, T. (2012). Direitos dos brasileiros e brasileiras na União Europeia: O papel do Estado. In Economia, parlamentos, desenvolvimento e migrações: As novas dinâmicas bilaterais entre Brasil e Europa (pp. 175-193). Fundação Konrad Adenauer.
Silva, M. C. (2020). Migrações, Relações Interétnicas e Racismo na Europa: um estudo de caso em Portugal. Trabalho apresentado no 44º Encontro Anual da ANPOCS.
Silva, S. M., & Pereira, C. A. (2017). Os efeitos da crise económica na situação laboral dos imigrantes: o caso dos brasileiros em Portugal. Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, 25(50), 123-145.
Uebel, R. G. (2024). Migrações hiperdinâmicas e imigrantes de perspectiva: Novos conceitos, padrões e ciclos de mobilidade entre Brasil, Portugal e Reino Unido (2019-2023). Revista de Estudos e Relações Internacionais (REER), 11(2), 139-164.
Coordenador(a): Mathilde Moaty (Université Paris Nanterre / França)
Coordenador(a): João Sette Whitaker Ferreira (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo / Brasil)
Este painel oferece uma reflexão crítica sobre como a materialidade urbana, muitas vezes vista como um simples suporte físico, pode ser entendida como uma força ativa na construção de dinâmicas sociais e políticas de exclusão, e propõe uma análise integrada da forma social patrimonialista como um marco para repensar as práticas urbanas no Brasil. O painel propõe uma análise aprofundada da materialidade urbana no Brasil com foco nas suas dimensões físicas, simbólicas e políticas, integrando o conceito de “forma urbana patrimonialista” como um modo de compreender a produção urbana específica às cidades brasileiras. A partir da abordagem teórica de autores como David Harvey, Henri Lefebvre, Francesca Pilo e Rivke Jaffe, Antoine Picon, Mark Gottdiener, Lúcio Kowarick, Francisco de Oliveira, Flávio Villaça, Ermínia Maricato, ou Manuel Castells, entre outros, buscamos investigar como a materialidade urbana não é apenas um reflexo da sociedade, mas um elemento ativo nas relações de poder, na construção das identidades coletivas e na formulação de conflitos urbanos. A proposta também incorpora o conceito de “forma social patrimonialista” (Ferreira, 2023), especialmente no contexto urbano brasileiro, onde a lógica patrimonialista molda as relações sociais, as práticas de ocupação do solo e a segregação espacial. A análise de casos específicos permite observar como a materialidade urbana reflete e reforça as dinâmicas de exclusão e marginalização. Também são relevantes discussões mais teóricas.
Objetivos do Painel
Explorar a materialidade urbana como conceito multifacetado: Discutir as dimensões físicas, sensoriais e simbólicas da materialidade urbana e como elas influenciam a formação das cidades e suas práticas sociais.
Refletir sobre a materialidade como agente político e social: Analisar o papel da materialidade urbana na mediação das relações de poder e na construção de dinâmicas de segregação e exclusão social no Brasil, com ênfase na lógica patrimonialista.
Integrar a forma social patrimonialista à materialidade urbana: Propor uma análise crítica sobre como as práticas de ocupação do solo e as infraestruturas urbanas são moldadas por um sistema patrimonialista que reforça a exclusão, a desigualdade e o conflito urbano.
Aproximações teóricas e práticas para o estudo das cidades brasileiras: Investigar como a teoria da materialidade pode ser aplicada para entender as contradições e as dinâmicas de poder presentes nas cidades brasileiras, especialmente na periferia urbana.
Continuação: reunir os artigos dos participantes para um número especial numa revista de urbanismo ou de ciências sociais, e considerar a continuação destes intercâmbios sob a forma de uma jornada de estudo.
A materialidade urbana, frequentemente tratada como um simples suporte físico das práticas sociais e políticas, possui uma relevância muito maior na produção e reprodução das dinâmicas de poder dentro das diversas facetas do desenvolvimento capitalista e nas relações sociais dentro da cidade. David Harvey já apontava que a materialidade não é apenas um “cenário” das relações sociais, mas a substância mesma por meio da qual essas relações são construídas e transformadas. Mais do que isso, pode-se dizer que a materialidade urbana é em si uma forma social, que Lefebvre já denominara de “forma urbana”. As formas sociais derivam de determinada sociabilidade, por isso, ao integrar o conceito de “materialidade patrimonialista”, é possível entender como se dá uma “forma urbana patrimonialista” em que certos grupos de poder (como grandes proprietários de terra e empresários do setor imobiliário) e o próprio Estado, instrumentalizado pelas elites proprietárias, com sua atuação limitada e seletiva, moldam o espaço urbano de maneira a reforçar uma estrutura social excludente, à margem da legislação urbana e da intervenção pública. O conceito de forma urbana patrimonialista, derivado de uma sociabilidade em que dominam as relações patrimonialistas, como introduzido por João Sette Whitaker Ferreira, permite uma análise das forças em jogo na produção do espaço urbano, focando nas permanências históricas que sustentam a exclusão e as desigualdades sociais. A relação entre o mercado imobiliário privado, os limites do Estado e a exclusão dos cidadãos mais vulneráveis das zonas planejadas se traduz na construção de uma cidade fragmentada, onde a materialidade urbana reflete e reforça esses conflitos.
Contribuições esperadas: Este painel espera trazer uma visão mais ampla sobre a relação entre a materialidade urbana e as formas sociais que estruturam as cidades, com um foco específico nas lógicas patrimonialistas que persistem no Brasil. A proposta de integrar a análise da materialidade com a forma social patrimonialista oferece uma ferramenta valiosa para entender como as práticas de planejamento urbano, a atuação do Estado e o mercado imobiliário contribuem para a produção de cidades excludentes e segregadas. Ao final, espera-se que os participantes adquiram uma nova perspectiva sobre a inter-relação entre espaço físico, poder político e relações sociais, e como as dinâmicas de materialidade urbana podem ser analisadas e transformadas para promover uma cidade mais justa e inclusiva no Brasil e além.
Eixos possíveis:
Introdução à materialidade urbana e patrimonialismo:
Definições de materialidade urbana, com base nas contribuições de autores como Picon, Harvey e Latour, entre outros.
Introdução ao conceito de “forma social patrimonialista” e sua aplicação na análise da cidade brasileira, com ênfase nas desigualdades espaciais e sociais.
A materialidade como agentividade política e social:
Discussão sobre como a materialidade urbana atua como mediadora nas relações de poder, especialmente na configuração e manutenção das desigualdades urbanas.
Reflexão sobre a “materialidade política” e como ela se manifesta nas infraestruturas urbanas, nas relações entre os diferentes grupos sociais e na segregação espacial.
A forma social patrimonialista na prática urbana:
Análise do caso de Vila Leopoldina como uma exemplificação da forma social patrimonialista, onde a materialidade urbana reflete as dinâmicas de poder e a exclusão social.
Discussão sobre o papel do Estado e dos grandes proprietários de terra na configuração do espaço urbano e como isso se reflete na materialidade e no uso do solo.
Abordagens práticas para a transformação do patrimonialismo urbano:
Propostas de como as teorias da materialidade podem ser usadas para repensar a cidade e as práticas urbanas de modo a promover uma maior inclusão e justiça social.
Reflexão sobre como os urbanistas e planejadores podem atuar para alterar as dinâmicas patrimonialistas que regem a produção do espaço urbano, utilizando a materialidade como ferramenta de transformação social.
Público-alvo: Este painel é destinado a urbanistas, arquitetos, sociólogos, antropólogos, historiadores, planejadores urbanos, estudantes e acadêmicos interessados nas relações entre materialidade, poder e exclusão social nas cidades brasileiras, especialmente nas áreas periféricas e em contextos de urbanização desigual.
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Coordenador(a): Christian Azaïs (LISE UMR 3320 CNRS/CNAM / França)
Coordenador(a): Cibele Saliba Rizek (Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU), Universidade de São Paulo / Brasil)
O que podem nos informar os processos de comparação das transformações do trabalho nos contextos dos países centrais e periféricos? Quais ferramentas podem facilitar a comparação dos mercados e formas de trabalho plataformizado e suas configurações no Norte – especialmente a Região Metropolitana de Paris – e no Sul – especialmente as Regiões Metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro? As zonas cinzentas do trabalho e do emprego expressam a dinâmica dos seus processos, no seu caráter indeterminado, instável e inseguro. Elas são espaços pluridimensionais que ultrapassam o que tradicionalmente se entende por relações de emprego e as configurações sociais (D’Amours et al., 2023). Tais configurações estão em maior ou menor grau definidas e instituídas e sua extensão e duração estão em constante movimento. Comparar zonas cinzentas, no interior de seus ambientes e contextos em constante transformação, se constitui em ferramenta que permite justapor, esquadrinhar e incluir cada termo e momento dos fenômenos a serem examinados, apreendendo os processos que lhe são subjacentes em sua complexidade (Bureau, Corsani, Giraud, Rey, 2019; Carelli, Cingolani, Kesselman, 2022). Quais são as interações e limitações das comparações Norte/Sul a partir da transposição de noções preconcebidas e eurocêntricas (especialmente empresariamento, nação, as binaridades das formas de engajamento – formal/informal, urbano/rural, independente/dependente etc)? Quais são os termos de uma análise comparativa “descentrada” (Giraud, Lallement, 2022) com a finalidade de apreender similaridades e diferenças no interior de uma configuração global? Como pensar os processos de transformação que perpassam Norte e Sul, Suas idas e vindas atravessam sociedades e contextos pensados como laboratórios sociais do Sul e do Norte globais que experimentam tanto a emergência como o agravamento das desigualdades assim como as reconfigurações da informalidade (Huws, Surie, 2023; Casilli, 2017). Quais epistemologias seriam necessárias para interpretar efetivamente as “alteridades contextuais e causalidades endógenas” que são específicas dos territórios e contextos sócioeconômicos e culturais do chamado Sul Global? (Sadik, Soussi, 2020).
A renovação de paradigmas requerida pela pesquisa do trabalho plataformizado implica em uma reflexão sobre os sentidos e a localização geográficos de territórios físicos e simbólicos, o que é especialmente significativo para as plataformas location based. Nossa proposta de comparação tem como ponto de partida a investigação dos casos de motoristas de aplicativos na Região Metropolitana de Paris e de entregadores de compras e refeições na região metropolitana de São Paulo, projeto ANR – FAPESP ainda em curso até outubro de 2025. Comparar zonas cinzentas tem como desdobramento a ideia de evitar a essencialização das escalas macro Centro/Periferia em contraposição às micro escalas que confinam os atores locais à agência no espaço e no raio mais imediato da ação, excluindo as relações sociais historicamente constituídas (De Vito, 2019). O espaço urbano é concebido aqui como ator e palco das tensões e reconfigurações com as quais as plataformas interagem numa nova fase identificada como uberização, como “regulação produzida pelos criadores de regras no espaço público” (Azaïs, Dieuaide, Kesselman, 2017). Além dessas dimensões, a proposta se coloca ainda a pergunta que se segue: O trabalho de plataformas digitais exigiria uma epistemologia específica para sua investigação e compreensão?
Temário sugerido: Zonas cinzentas e territórios urbanos: Comparando os trabalhadores de Plataforma (França/ Brasil); Epistemologias da comparação: o trabalho plataformizado como disrupção no interior das zonas cinzentas; Motoristas de aplicativo e entregadores: uma abordagem quantitativa e qualitativa sobre o trabalho plataformizado no Rio de Janeiro; Cultura do empreendedorismo: Considerações sobre a informalidade plataformizada; Desigualdades urbanas e trabalho plataformizado: os usos da cidade e seu avesso em São Paulo; Raça, racismo e trabalho plataformizado – uma discussão necessária.
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SADIK Y., SOUSSI S.A., (dir.) (2020), « Épistémologies des Suds », Revue Interventions économiques, 64 | 2020, https://journals.openedition.org/interventionseconomiques/9889
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Coordenador(a): António Costa Pinto (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa / Portugal)
Coordenador(a): Francisco Carlos Palomanes Martinho (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo / Brasil)
As grandes mudanças nas direitas radicais na época contemporânea provocaram uma grande renovação nos estudos sobre o tema e os estudos das direitas políticas tem crescidos sistematicamente na literatura acadêmica. Esta mudança tem permitido uma renovação constante das investigações das direitas sob os mais diversos ângulos. Se, num primeiro momento, predominaram pesquisas em torno da ideologia, dos partidos políticos, da organização ou do Estado, uma nova literatura, sem desconsiderar os temas clássicos, tem buscado novos ângulos de abordagem, como o cotidiano, a cultura, os estudos de gênero e os movimentos sociais, etc. A presente proposta de painel se propõe discutir o fenômeno das direitas antiliberais no período compreendido entre as primeiras décadas do século 20 e o chamado Tempo Presente.
Caldeira Neto, Odilon. Sob o Signo do Sigma: Integralismo, Neointegralismo e o Antissemitismo. Maringá: Editora da Universidade Estadual de Maringá, 2014.
Caldeira Neto, Odilon; Grecco, Gabriela de Lima (Orgs). Autoritarismo em foco: política, cultura e controle social. Rio de Janeiro, Recife, Madrid: Autografia, Editora Universidade de Pernambuco, Ediciones Autónoma de Madrid, 2019.
Caldeira Neto, Odilon; Gonçalves, Leandro (Orgs). O fascismo em camisas verdes: do integralismo ao neointegralismo. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020.
Costa Pinto, António. Building the European ‘New Order’: Corporatism and Dictatorship under Axis Rule. Fascism, 12 (1), 27-54, 2023.
Costa Pinto, António. The Portuguese ‘New State’ and the Diffusion of Authoritarian Models in Interwar Latin America. Journal of Contemporary History, First published: 20 Dec 2021.
Costa Pinto, António. Os camisas azuis: Rolão Preto e o fascismo em Portugal. Lisboa: Edições 70, 2015.
Costa Pinto, António; Martinho, Francisco Palomanes (Org). Os intelectuais do antiliberalismo: alternativas à modernidade capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
Marchi, r.: Império, Nação, Revolução – as direitas radicais portuguesas no fim do Estado Novo [1959-1974]. Lisboa: Alfragide, 2009.
Martinho, Francisco Palomanes. A extrema direita portuguesa em dois momentos. Studia Historica, História Contemporánea. Universidad de Salamanca, 30, 2012, pp. 95-114.
Coordenador(a): Michele Freire Schiffler (Universidade Federal do Espírito Santo – UFES / Brasil)
Coordenador(a): Fiammetta Bonfigli (Universidade de Viena / Áustria)
O painel pretende discutir as possibilidades de transgressão e de discussão crítica sobre a realidade brasileira a partir de performances culturais que se construam em interface com o ativismo em prol dos Direitos Humanos. Desenha-se, pois, com caráter híbrido, transdisciplinar e crítico. Questões de gênero, raça e classe serão interseccionadas de modo a representar elementos éticos e estéticos performados na cultura brasileira contemporânea, a fim de questionar as bases da desigualdade, do patriarcado e do racismo estrutural sobre o qual se organiza a sociedade. Pensando em um tecido social conflitivo, visa-se a observar a integração de produções culturais com movimentos e atores sociais que se utilizam da Arte e do Direito como instrumentos de reivindicação política (Bonfligi; Schwartz, 2020).
A Arte e a Literatura, seja verbal, vocal ou visual, promovem problematizações com relação ao contexto que as engendram. Em conformidade com o pensamento de Benjamin (1985), afirma-se que a função da arte remete à reflexão, à historicidade e à criticidade. Logo, pode assumir-se como experiência de autonomia frente às forças de alienação e opressão, conforme afirma Compagnon (2010). A performance e as artes sempre foram, e seguem sendo, formas de ativismo sobretudo no campo dos Direitos Humanos e de denúncia à violência de Estado. São artistas que usam seus corpos para enfrentar regimes de poder e normas sociais (Taylor, 2012). Desse modo, o caráter político e o ativismo constituem-se como princípios norteadores do artivismo como, por exemplo, intervenções contra monumentos simbólicos do colonialismo (como a ação contra a estátua de Borba Gato); ações de grupos como o Desvio Coletivo de performances urbanas; saraus e slams, como o Sarau das Pretas; performances como o “o estuprador é você”, do coletivo feminista chileno LasTesis, que se espalhou pela América Latina.
O campo de estudos da performance visa a contribuir para uma proposta de leitura crítica de produções culturais brasileiras, a partir dos elementos constitutivos da performance, como o caráter reiterado, a corporeidade, a audiência, a irrepetibilidade e o fluxo arte-vida. Objetiva-se, a partir deste painel, fomentar discussões com base na compreensão do caráter dialógico de construção e compartilhamento de saberes, em que a escrita performática inscreve e atualiza subjetividades, identidades e saberes em um processo de armazenamento e transmissão de conhecimentos, sempre em perspectiva de enfrentamento às narrativas hegemônicas e às opressões historicamente reproduzidas (Schiffler, 2023).
Serão contemplados trabalhos que abordem, desde a perspectiva do ativismo, obras literárias, narrativas performáticas (Ravetti, 2002), poesia vocal (Zumthor, 1997, 2018), produções audiovisuais, performance arte, performance ação (Taylor, 2012), cultura popular e manifestações culturais contemporâneas que permitam abarcar a pluralidade e a diversidade da cultura brasileira. Segundo Richard Schechner (2000), algo “é” performance ou pode ser estudado “como” performance, de modo que os diálogos com diferentes formas estéticas e campos do saber são bem-vindos a reflexões do campo do “inter”, ou seja, intergenéricos, interdisciplinares e interculturais, conforme pontua o referido autor.
BENJAMIN, W. Magia e Técnica, Arte Política. Ensaios sobre Literatura e História da Cultura. In: Obras Escolhidas. v.1. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
BONFIGLI, Fiammetta; SCHWARTZ, Germano. Movimentos sociais e Direito: o GT (Grupo de Trabalho) jurídico e seu papel na ocupação da Câmara de Vereadores de Porto Alegre em 2013. RBSD – Revista Brasileira de Sociologia do Direito, v. 7, n. 2, p. 3-33, maio/ago. 2020.
COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria: literatura e senso comum. Trad. Cleonice Paes Barreto Mourão e Consuelo Fortes Santiago. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
RAVETTI, Graciela. Narrativas Performáticas. In: RAVETTI, Graciela; ARBEX, Marcia (Orgs.) Performance, exílio, fronteiras: errâncias territoriais e textuais. Belo Horizonte: UFMG, 2002.
SCHECHNER, Richard. Performance: teoría y prácticas interculturales. 1. ed. Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires, 2000.
SCHIFFLER, Michele Freire. Narrativa Performática e Escrevivência: uma contribuição dos estudos de performance à leitura crítica de Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo. Revista de Letras Norte@mentos, Sinop, v. 16, n. 44, p. 127-140, jul. 2023.
TAYLOR, Diana. Performance. 1. ed. Buenos Aires: Asunto Impreso, 2012.
ZUMTHOR, Paul. Introdução à Poesia Oral. São Paulo: Hucitec, 1997.
ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: Ubu, 2018.
Coordenador(a): Sarah Luna de Oliveira (Universidade de Coimbra / Portugal)
Coordenador(a): Sylvia Brandão Ramalho de Brito (Universidad de Salamanca / Espanha)
Considerando que a noção de patrimônio e seus significantes estão em contínua revisão e expansão, a educação patrimonial torna-se imprescindível para formar a consciência histórica de indivíduos e grupos sociais, assim como para impulsar a preservação de seus bens culturais (tangíveis e intangíveis) e naturais. Tendo isto em vista, o presente painel pretende fomentar trocas de experiências sobre educação patrimonial provocando a reflexão sobre as mesmas, tanto no contexto da realidade brasileira como de outros países. Considerando os desafios, possibilidades, avanços e retrocessos que as seleções de práticas educativas patrimoniais implicam, almejamos enriquecer e diversificar os pontos de vista sobre o patrimônio, seu valor histórico e pedagógico para a formação de identidades, alteridades e para a preservação da memória e cultura das comunidades humanas.
A proposta deste painel consiste em pôr em perspectiva dialógica diferentes experiências relacionadas com a educação patrimonial no âmbito do ensino da disciplina de História levadas a cabo no Brasil e em outros países. Neste caso, buscaremos respostas sobre como o ensino de História pode fomentar a educação patrimonial e como esta pode fortalecer a educação histórica. Ademais, o presente painel pretende reunir abordagens interdisciplinares sobre educação patrimonial integradas ao estudo do passado e que também sejam de interesse para outras áreas do conhecimento, como por exemplo, turismo, economia, arqueologia, antropologia, etnografia, sociologia, geografia, arquitetura, etc. Igualmente, pretendemos mapear tanto as iniciativas de letramento patrimonial desenvolvidas em contextos formais de educação, isto é, em instituições destinadas a gestão patrimonial, nas diferentes etapas da formação escolar e/ou universitária, quanto em contextos informais, como podem ser “(…) grupos, coletivos e movimentos sociais que mobilizam os sujeitos sociais na identificação, na valorização e na proteção de sua cultura” (SCIFONI, 2022, p. 4).
Ademais, incentivamos o envio de propostas de comunicação que enquadrem a educação patrimonial no processo de formação de uma consciência histórica e cidadã em diferentes sociedades. Neste sentido, por um lado, o painel pretende fomentar interseções entre práticas educativas relacionadas a divulgação, historicização, preservação, conservação e tombamento do patrimônio cultural material, e, por outro lado, da identificação, resgate e preservação do patrimônio imaterial, ou seja, “línguas, festas, rituais, danças, lendas, mitos, músicas, saberes, técnicas e fazeres diversificados” (ABREU; CHAGAS, 2003, p. 1). Também serão aceitos trabalhos sobre educação patrimonial atinentes ao patrimônio natural que destaquem as relações entre história, natureza e cultura.
Contudo, o painel também pretende abarcar questões de ordem mais epistemológica, como por exemplo, a aplicação de pedagogias críticas que possibilitem a problematização e descolonização do patrimônio e das patrimonializações que ressalvam memórias de certos grupos sociais em detrimento de outros. Neste sentido, encorajamos propostas que remetam a possíveis conexões entre patrimônio e estratégias de monopolização ou de “abusos da memória” (TODOROV, 2000). Complementarmente, instigamos o desenvolvimento de enfoques relacionados a uma educação patrimonial capaz de fomentar a autonomização dos sujeitos e grupos sociais, a interpretação e o estudo de passados traumáticos, assim como outras possiblidades de temas que transcendam as clássicas associações entre patrimônio, práticas conservacionistas e o mero culto à memória e história hegemônicas.
ABREU, Regina e CHAGAS, Mário (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro, FAPERJ / DP&A / UNI-RIO, 2003, p. 01.
TODOROV, Tzvetan. Los abusos de la memoria. Barcelona, Ediciones Paidós Ibérica, 2000.
SCIFONI, Simone. Patrimônio e educação no Brasil: o que há de novo? Educ. Soc., Campinas, v. 43, e255310, 2022, p. 1-13.
Coordenador(a): Denise Bernuzzi de Sant´Anna (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / Brasil)
Coordenador(a): Isabel Amaral (Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa / Portugal)
O painel propõe discutir as interações entre a história e a “medicina”, no contexto das políticas de saúde pública, abrangendo as diferentes formas de lidar com a doença e de promover a saúde, ao longo dos séculos XIX e XX. Além disso, busca refletir sobre a formação e a circulação de saberes médicos, considerando o papel da medicina/medicalização na organização política dos Estados e a sua associação com ideais de salubridade e progresso. Entre os campos temáticos que alimentam essa proposta destacam-se:
a circulação de saberes e práticas médicas entre diferentes espaços e territórios (metropolitano/colonial, urbano/rural, etc)
os confrontos e tensões entre as artes de curar e a medicina “científica”
a medicalização e as infraestruturas de saúde
a medicalização das emoções e a saúde mental
as políticas de higiene e controle social
a educação e a propaganda “sanitária”
as epidemias na história
A história da medicina e da saúde pública, conduzida por historiadores, antropólogos, sociólogos, filósofos e outros pesquisadores das ciências humanas, não cessa de ganhar relevância e a servir como sismógrafo para o entendimento do mundo contemporâneo. Assim, a proposta justifica-se porque busca contribuir para a discussão de abordagens críticas sobre a medicalização dos corpos, no contexto da saúde pública. Também se justifica na medida em que pretende promover a reflexão sobre uma intensa verticalização da medicina, especialmente ao longo dos dois últimos séculos, incluindo seus embates com as artes da cura e o progressivo deslocamento do tratamento das emoções para o domínio farmacológico, transformando profundamente as formas de compreender, viver e tratar as experiências do “eu” na sociedade.
Amaral, Isabel. “Hospitals and medical specialization in Lisbon, 1880-1933”. Revista História Ciência, Saúde-Manguinhos 31, (2024): https://www.scielo.br/j/hcsm/a/L3xQMS3MsVY3SLvHkdCDJKz/?format=pdf&lang=en.
. “Tropical medicine and the consolidation of the Empire: reflecting on the Portuguese case (1902-1960)”. In: In Empires, the Nation and Tropical Medicine (1885 – 1960), editado por Capocci, Mauro; Cozzolli, Daniele. London, Reino Unido: Palgrave-MacMillan, 2024.
Benchimol, J.L. História das leishmanioses no Novo Mundo (anos 1960 ao século XXI), Rio de Janeiro: Fiocruz, 2022.
. Uma história das lesishmanioses no Novo Mundo (fins do século XIX aos anos 1960), Rio de Janeiro: Fiocruz, 2020.
Carneiro, Ana; Amaral, Isabel; Sousa M. L.,(coord.) volumes 3 e 4; Ciência, Tecnologia e Medicina na construção de Portugal, (coord. geral, Diogo, Maria Paula e Simões Ana) Lisboa: Tinta da China, 2021.
Foucault, Michel. Naissance de la clinique. Paris: PUF, 1963.
Mota, A. e Marques, Maria Cristina C., (orgs.) História, saúde coletiva & medicina, S.Paulo: Hucitec, 2018.
e Pimenta, Tania S. Artes de curar e práticas de saúde. Circularidades, institucionalidades e repressão. São Paulo: Hucitec, 2022.
Sant´Anna, Denise B. de. “Da neurastenia ao estresse: notas para uma história das doenças nervosas” in: Revista de História, S.Paulo: USP, n.182, 2023.
. Gordos, magros e obesos. Uma história de peso no Brasil. S. Paulo: Estação Liberdade, 2016.
Santos, Nuno B. Os primeiros cinquenta anos da psiquiatria portuguesa (1835-1885), Lisboa: Lidel, 2019.
Vigarello, G. Le sain et le malsain, Paris: Seuil, 1993.
Coordenador(a): Marianne Wiesebron (Universidade de Leiden / Países Baixos)
Coordenador(a): Paulo Visentini (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Brasil)
O terceiro mandato do Presidente Lula, após os governos Dilma, Temer e Bolsonaro, levantou muitas expectativas sobre o retorno da política externa altiva e alternativa, agora com o chanceler Celso Amorim, como assessor para assuntos externos. O Itamaraty hoje tem interesse numa relação palatável para os Estados Unidos. A ideia do que haveria uma política externa que repetiria o perfil dos seus governos anteriores não está se realizando. Primeiro, porque o mundo mudou radicalmente depois da pandemia, das guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, mas, principalmente, das dificuldades econômicas que existem hoje, diferentemente daquela época. Em segundo lugar, inegavelmente os democratas norteamericanos preferiram que o Presidente Lula fosse eleito em lugar do Presidente Bolsonaro, que era mais ligado a Donald Trump. Nesse sentido, o Governo Lula tem praticado uma diplomacia que sinaliza em direção à autonomia, como no passado. Isso, em relação ao BRICS, à Rússia, à Israel e à Venezuela. Contudo, as declarações tem sido logo em seguida compensadas por ações no sentido contrário, e aceitando as agendas ambiental e democrática tal como formulada pelos Estados Unidos. Agora, Donald Trump volta à presidência americana e, como isso, alterará as bases dessa política até agora extremamente contraditória e vacilante.
Paulo Roberto de Almeida, Uma nova ‘arquitetura’ diplomática? – Interpretações divergentes sobre a política externa do governo Lula (2003-2006), Revista brasileira de política internacional, 2006 – SciELO Br
Thales Leonardo de Carvalho, Uma política mais estratégica? Perspectivas para a política externa de Lula III, Conjuntura Austral, 2023 – seer.ufrgs.br
Dawisson Belém Lopes, A política exterior no ano inaugural do governo Lula III CEBRI-Revista: Brazilian Journal of International Affairs …, 2024 – cebri-revista.emnuvens.com.br
Maria Regina Soares de Lima, Diogo Ives, Desafios políticos na implementação da política externa do governo Lula 3, CEBRI-Revista: Brazilian Journal of International Affairs, 2024 – cebrirevista. emnuvens.com.br
Coordenador(a): Rodrigo Cruz (Université Libre de Bruxelles / Universidade Nova de Lisboa / Bélgica)
Coordenador(a): Gustavo Gomes da Costa (Universidade Federal de Pernambuco / Université Libre de Bruxelles / Brasil)
Na tradição de estudos sobre movimentos sociais no Brasil, as interações entre os movimentos e o Estado sempre ocuparam um lugar de relevo. Nos últimos anos, especialmente após o ciclo de protestos de 2013, essa agenda tem se renovado, impulsionada por uma crescente diversificação empírica, teórica e metodológica. Dentre as diversas abordagens analíticas que ganharam destaque nesse período, três serão examinadas neste painel. Uma delas diz respeito à emergência de novos atores coletivos, pró e antidemocráticos, animados por uma profusão de conflitos (por território, redistribuição, reconhecimento), agendas (segurança pública, corrupção, gênero) e redes cívicas (autônomas, religiosas, empreendedoras) e mobilizados simultaneamente nas ruas, nos parlamentos e nas redes sociais online, sempre em tensão com as instituições políticas. Outra abordagem tem enfatizado as interações contenciosas entre movimentos, contramovimentos e Estado, com o último assumindo tanto o papel de objeto quanto o de espaço de disputa. Finalmente, uma terceira abordagem tem focalizado nas consequências dessas interações para os processos de institucionalização de políticas públicas e estruturas de participação historicamente impulsionadas pelos movimentos sociais, incluindo os processos de desmonte, descaracterização e reconstrução dessas políticas públicas. Embora distintas, essas abordagens convergem em uma perspectiva relacional que busca compreender as mobilizações sociais a partir das interações entre atores coletivos e das suas relações com as instituições políticas. Este painel propõe discutir as dinâmicas de mobilização dos movimentos sociais no Brasil contemporâneo com ênfase nos efeitos das interações contenciosas entre movimentos, contramovimentos e Estado para a sustentação do regime democrático. Sendo assim, o painel aceitará trabalhos que proponham reflexões sobre: i) atores, protestos, agendas, formas de ação, enquadramentos, identidades, coalizões e outras dimensões da ação coletiva de atores pró e antidemocráticos; ii) dinâmicas de interação entre movimentos, contramovimentos e o Estado, incluindo eleições, ativismo partidário e ativismo institucional/parlamentar; iii) impactos do confronto político nos processos de institucionalização de políticas públicas. Incentiva-se a submissão de propostas que apresentem perspectivas teóricas inovadoras, baseadas em evidências empíricas, e que contribuam para os debates teóricos e metodológicos sobre os desafios da pesquisa em movimentos sociais no contexto brasileiro.
A produção acadêmica sobre os movimentos sociais e a construção da democracia possui uma longa tradição teórica nas Ciências Sociais brasileiras. Desde os estudos clássicos sobre movimentos sociais urbanos na década de 1970 até as análises do ciclo de protestos de 2013 e o retorno da direita às ruas em 2015/2016, essa agenda de pesquisa tem se consolidado como um espaço interdisciplinar de diálogo entre sociologia, antropologia, ciência política, comunicação e psicologia social, destacando o caráter aberto e dinâmico das Ciências Sociais no Brasil. A complexa relação entre as ruas, a internet e as instituições, evidenciada pela campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff (2016), pela recente experiência de um governo de extrema-direita (2018-2022) e o ataque às instituições públicas federais em 8 de janeiro de 2022, reforça a atualidade da abordagem relacional, que analisa os movimentos sociais a partir das suas interações com oponentes, instituições e contexto político. O Congresso da ABRE tem sido um importante espaço de debate para pesquisadores da área atuantes na Europa, muitos dos quais deixaram o Brasil nos últimos anos em resposta ao desmonte das instituições de ensino superior e às ameaças da extrema-direita aos cientistas sociais. Essa relevância pode ser verificada tanto na recorrência de painéis sobre o tema nos últimos congressos da associação (2023, 2021) quanto nos trabalhos premiadas pela ABRE em seu último concurso de teses sobre o Brasil (2024). Nesse contexto, nosso painel busca reunir pesquisadores dedicados ao estudo dos movimentos sociais brasileiros que atuam na Europa, fortalecer esse debate nos espaços da associação e promover conexões mais robustas entre o que se produz nas instituições europeias e brasileiras.
Alonso, A. (2023). Treze: a política de rua de Lula a Dilma. Companhia das Letras.
Carlos, E. (2023). Interações entre movimentos sociais e Estado e seus efeitos: um desafio para as teorias dos movimentos sociais. Política & Sociedade.
Cruz, R. (2023). Rompendo o Armário Político na Internet e Nas Ruas: Os Ativismos LGBTQIA+ à Direita no Brasil (2013-2020). (Doctoral dissertation, Universidade NOVA de Lisboa (Portugal).
Feitosa, C. (2021). Do “Kit Gay” ao “Ministério da Família”: a desinstitucionalização das políticas públicas LGBTI+ no Brasil. Cadernos de Gênero e Tecnologia, 14(43), 74-89.
Lavalle, A. G., Carlos, E., Dowbor, M., & Szwako, J. (2019). Movimentos sociais, institucionalização e domínios de agência. In: Movimentos sociais e institucionalização: políticas sociais, raça e gênero no Brasil pós-transição, 21-88.
Perez, O. C., & da Costa Santos, G. G. (2023). Políticas públicas em âmbito federal para a população LGBTQIA+: do projeto participativo ao autoritário (Federal public policies for the LGBTQIA+ population: from a participatory to an authoritarian Project). Simbiótica. Revista Eletrônica, 10(2), 12-30.
Silva, M. K., & Pereira, M. M. (2020). Movimentos e contramovimentos sociais: o caráter relacional da conflitualidade social. Revista Brasileira de Sociologia, 8(20), 26-49.
Tatagiba, L., Almeida, D. R. D., Lavalle, A. G., & Silva, M. K. (2022). Participação e ativismos: entre retrocessos e resistências. Porto Alegre, Zouk.
Coordenador(a): Vinícius Carneiro (Université de Lille / França)
Coordenador(a): Maria Clara Braga Machado Campello (Unifesp / Brasil)
Em homenagem à professora, tradutora e crítica Inês Oseki-Dépré, convidamos pesquisadoras e pesquisadores a submeter propostas de trabalho sobre as relações entre tradução e literatura brasileira, relacionadas direta ou indiretamente com a obra da autora. Inês Oseki-Dépré é uma figura incontornável nos estudos tradutológicos e na promoção da literatura brasileira no exterior. Referência internacional como comparatista, tradutora e teórica da tradução, Oseki-Dépré tem seu trabalho reconhecido por articular prática e reflexão teórica, tradução e invenção, além de conceber projetos de grande impacto para a divulgação da cultura brasileira na França. Sua produção acadêmica inclui obras fundamentais como Théories et pratiques de la traduction littéraire (1999) e De Walter Benjamin à nos jours (2006), que oferecem reflexões inovadoras sobre a prática tradutória, o lugar da tradução no comparatismo literário e a relevância do Brasil nesse campo de estudo. O painel “Tradução e Literatura Brasileira: teoria, prática, ensino, recepção” convida à submissão de propostas que explorem temas fundamentais para a obra da autora, como teoria da tradução brasileira, projetos de internacionalização da literatura brasileira e as relações entre tradução, crítica e ensino. Serão aceitas também propostas que explorem as conexões entre literatura brasileira, tradução e estudos culturais.
O trabalho de Inês Oseki-Dépré é de grande relevância para os estudos tradutólogicos, pois sua contribuição transcende os limites acadêmicos, influenciando tanto a prática quanto a teoria da tradução. Ao propor reflexões sobre a tradução como invenção, ela trouxe contribuições únicas ao campo. Segundo Henri Meschonnic, a tradução é um ato de transformação que vai além da simples transferência linguística, implicando a recriação de ritmos, sentidos e formas no idioma de chegada. Essa perspectiva dialoga com o trabalho de Inês Oseki-Dépré, que também compreende a tradução como uma prática que envolve criatividade e reflexão crítica. Seu trabalho, permeado por uma reflexão constante sobre os desafios da tradução, elevou os padrões do campo tradutológico e trouxe maior visibilidade à literatura brasileira em um contexto internacional. Sua obra revela um compromisso não apenas com a precisão formal, mas também com a recriação literária, característica que marca sua trajetória e fez dela uma das maiores embaixadoras culturais do Brasil na Europa. O pensamento e a prática tradutória de Oseki-Dépré estão assim em consonância com o pensamento de Antoine Berman, para quem a tradução é um ato ético que, ao respeitar a alteridade, implica uma dimensão criativa no enfrentamento das diferenças culturais. Portanto, sua contribuição transcende as fronteiras do campo acadêmico, ao criar pontes entre culturas e línguas, abrindo espaço para novas formas de pensar e praticar a tradução.
O painel “Tradução e Literatura Brasileira: teoria, prática, ensino, recepção” convida à submissão de propostas de comunicações que dialoguem com os principais eixos que marcam a trajetória intelectual e acadêmica de Inês Oseki-Dépré: teoria da tradução brasileira; tradução como prática e como crítica; projetos de inserção da literatura brasileira no exterior através da tradução; tradução e invenção; e tradução e ensino da literatura brasileira. Esta é uma oportunidade de refletir sobre o impacto do trabalho de Oseki-Dépré na tradução literária e nos estudos de literatura comparada, bem como de incentivar reflexões e debates, que, na esteira da obra da autora, ofereçam perspectivas variadas sobre a intersecção entre tradução e literatura brasileira, ajudando, assim, a consolidar a presença brasileira nos debates tradutológicos internacionais.
Para celebrar sua contribuição multifacetada, este painel aceitará então propostas que abordem:
a teoria da tradução brasileira e seus diálogos com a prática tradutória;
a literatura brasileira e seus diálogos com a prática tradutória;
projetos de internacionalização da literatura brasileira e o papel da tradução;
projetos de tradução de literatura brasileira e questões de gênero, classe e raça;
a noção de tradução como invenção e suas implicações críticas e criativas;
o impacto do ensino de tradução e literatura brasileira em contextos acadêmicos;
estudos de caso sobre as traduções de Inês Oseki-Dépré e sua influência na formação do cânone brasileiro na França.
ALENCAR, José de. Iracéma: légende du Céara. Tradução de Inês Oseki-Dépré. Aix-en-Provence: Alinea-Unesco, 1985.
ALENCAR, Maria Eduarda dos Santos. Tradutoras brasileiras dos séculos XIX e XX. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Conversation extraordinaire avec une dame de ma connaissance. Trad. de Inês Oseki-Dépré. Paris: Éditions Anne Marie Métailié, 1983.
BENJAMIN, Walter. A tarefa do tradutor. Tradução de Susana Kampff Lages. In: HEIDERMANN, Werner. Antologia Bilíngue – Clássicos da Teoria da Tradução. vol. 1. 2a ed. Florianópolis: Núcleo de Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Tradução de Marie- Hélène C. Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. Revisão de tradução: Luana Ferreira de Freitas, Marie-Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Orlando Luiz de Araújo. 2a ed. Tubarão: Copiart; Florianópolis: PGET/UFSC, 2013.
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Coordenador(a): Thais Gaia Schüler (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) / Portugal)
Coordenador(a): Fredson Pedro Martins (Universidade Federal do Ceará / Brasil)
Superado o determinismo geográfico, as relações que os seres humanos estabelecem com o ambiente que habitam e com as diversas espécies que nele vivem têm se consolidado nas Ciências Humanas e Sociais enquanto um profícuo campo de estudos, especialmente a partir da Conferência de Estocolmo (1972). Dado o contexto global no qual a preocupação com as questões ambientais emerge em diversas áreas do conhecimento, insurgem termos e conceitos que atravessam as barreiras disciplinares, enquanto interpretam a realidade empírica através de métodos e modelos próprios de seus paradigmas científicos. É o caso das noções de Antropoceno, de paisagem, de memória ambiental, de topofilia e de perturbação, entre muitas outras possibilidades.
O painel propõe-se a acolher comunicações que adotem as relações humanas com o meio ambiente ou com espécies vegetais e animais em contextos brasileiros enquanto temática central através de abordagens metodológicas específicas das ciências humanas e sociais, de modo a privilegiar a cultura ambiental e a história ambiental, mas considerando a dialogia que estas áreas estabelecem com a educação, com a antropologia e com a sociologia ambiental.
Duarte, Regina Horta (2013). História e Natureza. Belo Horizonte: Autêntica.
Ingold, Timothy (2000). The perception of the environment: Essays in livelihood, dwelling and skill. Londres, Routledge.
Miranda Murillo, Luisa Margarita (2013). Cultura ambiental: un estudio desde las dimensiones de valor, creencias, actitudes y comportamientos ambientales. Producción + Límpia, v. 8, n. 2, pp- 94-105.
Pádua, José Augusto, Saramago, Victoria. O Antropoceno na perspectiva da análise histórica: uma introdução. Topoi, v. 24, n. 54, set./dez., pp.659-669.
Rocha, Ana Luiza Carvalho da. Eckert, Cornélia (Orgs.) (2021). Tempo e memória ambiental: etnografia da duração das paisagens citadinas. ABA Publicações.
Schama, Simon (1996). Paisagem e Memória. Companhia das Letras.
Tsing, Anna Lownhaupt (2019). Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. IEB/Mil Folhas.
Tuan, Yi-Fu (1980). Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. Difel.
Worster, Donald (1991). Para fazer História Ambiental. Estudos Históricos, v.4, n.8, pp.198-215.
Coordenador(a): Nelson Gomes de Sant’ana e Silva Junior (Universidade Federal da Paraíba / Brasil)
Coordenador(a): Marilize da Silva Bentes (Universidad de Salamanca / Espanha)
O tema da segurança pública no Brasil nos parece muito atual e relevante, principalmente por ser constantemente apresentado como um problema crônico em nossa região. Muitos problemas têm sido discutidos por organizações, governos e pesquisadores, tais como: a violência urbana, o superencarceramento, a violência policial, o racismo punitivo, as práticas de tortura, o número excessivo de mortes por armas de fogo e, sobretudo, os problemas ligados ao tráfico de drogas e crimes correlatos.
Nesse sentido, nossa pesquisa a partir de uma perspetiva de gênero tem nos ajudado a compreender muitos pontos sobre a relação entre a chamada “guerra às drogas” e seu impacto sobre as mulheres, os altos números de encarceramento feminino por crimes de drogas, bem como aspectos relacionados à inserção e atuação das mulheres no tráfico de drogas em diferentes países da América Latina e no Brasil, é claro.
A política de drogas subjaz à atual crise penitenciária no Brasil, caracterizada por prisões superlotadas e violentas, condições de vida indignas e falta de acesso a bens e serviços básicos. Afetam tanto a população interna quanto a “população carcerária externa”, formada pelas famílias das pessoas privadas de liberdade, em especial mulheres, crianças e adolescentes, que reconfiguram suas vidas e suas possibilidades econômicas para fornecer à população interna os insumos básicos para a sobrevivência na prisão.
A América Latina y Caribe registraram em 2022 cerca de 95.000 mulheres presas, computando um aumento de cerca de 150% a mais quando comparada aos dados de 2000 (37.000 presas). A população da região, no mesmo período, cresceu somente 24,5%. Em números absolutos, o Brasil configura-se como o país latinoamericano que mais encarcera mulheres, tendo registrado 42.694 presas em 2024.
É de suma importância congregar debates sobre os impactos da política criminal brasileira sobre as mulheres, dando ênfase à política de drogas como elemento central do encarceramento de mulheres no Brasil. Nesse sentido, pretendemos reunir trabalhos que versem sobre mulheres e crime organizado, encarceramento feminino, inserção e atuação feminina no tráfico de drogas, letalidade de mulheres junto ao crime e perspectivas punitivas sobre as mulheres no Brasil. Portanto, trabalhos que analisem prisões femininas além das grades, como prisões domiciliares, uso de tornozeleiras eletrônicas por mulheres, experiências de mulheres sobreviventes do cárcere e de familiares de pessoas presas também compõem o escopo deste painel.
Consideramos que a abordagem da interseccionalidade tem se mostrado uma ferramenta fundamental para a análise teórica, principalmente no sentido de ampliar as análises sobre as questões de raça, classe e gênero associadas à política criminal brasileira.
BRASIL, 2024. Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Departamento Peninentiário Nacional. Sistema de informações do Departamento Nacional, 2024. Disponível em: . Acesso em: 18 nov.2024.
CARVALHO, S. de. A política Criminal de drogas no Brasil: estudo criminólogico e dogmáticoda lei nº 11. 343/2006. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
ESTRELA, M. L. P.; LEITE, M. L. Q. G.; SILVA JUNIOR, N. G. DE S.; TANNUS, R. W. Mulheres e Tráfico de Drogas: Registros criminológicos-críticos. João pessoa: Editora do CCTA, 2023.
GARCIA, R. M.; SILVA JUNIOR, N. G. DE S.; TANNUS, R. W. Mulheres, guerra às drogas e necropolítica. João pessoa: Editora do CCTA, 2024.
GARCIA, R. M.; SILVA JUNIOR, N. G. DE S.; TANNUS, R. W. Mulheres, sistema de justiça criminal e e guerras às drogas na América Latina. João pessoa: Editora do CCTA, 2024.
GIACOMELLO, C. Mujeres, delitos de drogas y sistemas penitenciários en América Latina. London: IDPC, 2013.
WACCQUANT, Loic. As prisões da miséria. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
Coordenador(a): Amanda Guerreirio (ISCSP – ULisboa / Portugal)
Coordenador(a): Ângelo Martins Junior (University of Birmingham / Inglaterra)
As jornadas migratórias implicam uma multiplicidade de desafios a serem enfrentados cotidianamente por aqueles que migram. A questão linguística compreende um destes desafios, ocupando um lugar central nas estratégias de integração e adaptação que perfazem experiências de migração.
A nossa proposta para o painel Usos e experiências da língua portuguesa do Brasil em contextos migratórios contemporâneos centra-se nos diferentes desafios cotidianos que migrantes brasileiros enfrentam em termos linguísticos. Neste sentido, buscamos desenvolver debates interdisciplinares sobre os usos e experiências da língua portuguesa do Brasil no atual contexto das migrações brasileiras na Europa, conjugando diferentes áreas como antropologia, sociologia, educação, linguística, comunicação, entre outras.
A articulação entre o foco na multidisciplinaridade e no mundo contemporâneo tem como objetivo equacionar a questão da língua em contextos migratórios – que se revela em diferentes momentos, tais como processos de diferenciação social, esforços de adaptação ao mercado laboral, transmissão da língua às gerações subsequentes, o alinhamento com a escola formal e o contato com linguagens que não pertencem ao mainstream etc. – identificando as transformações pelas quais a língua portuguesa do Brasil passa quando é transportada para outros territórios. Deve-se salientar que pensamos a língua nas suas diferentes dimensões de uso, oral e escrito e, portanto, esperamos travar diálogos com trabalhos que tratem destas diversas dimensões e possibilidades do seu uso: literatura, traduções, ensino, interações cotidianas e práticas de cultura expressiva.
Assim, tencionamos discutir estas transformações das práticas linguísticas na experiência do dia-a-dia: o que se ganha e o que se perde, os desafios que se enfrenta, a adequação e criatividade, esforços de transmissão e permanência, expressões corporais que se reajustam (sonoridade, pausas, respiração, postura corporal), relações de poder, processos de distinção social, estratégias de inserção no mercado laboral e o multilinguismo.
No cenário das migrações brasileiras contemporâneas para países europeus, o caso português ocupa um lugar específico no campo dos usos e experiências cotidianas da língua portuguesa do Brasil. As relações coloniais e históricas (Pina-Cabral, 2010) que unem (e, muitas vezes, dividem) os dois países revelam-se muito claramente no plano linguístico, acionando noções próprias de valor relativas à língua onde passado e presente se cruzam e se fundem (Almeida, 2004; Medeiros, 2006). Contudo, as práticas linguísticas do português do Brasil noutros países europeus também abarcam desafios à vida dos migrantes que se confrontam com a necessidade de aprender a língua hegemônica do país em que residem, que se esforçam em preservar e transmitir a sua língua materna apesar dos processos de distinção e valoração social que tais práticas engendram.
Deste modo, vislumbramos a existência de dois cenários distintos: o contexto migratório na Europa e o contexto migratório pós-colonial compreendido pela comunidade de brasileiros residentes em Portugal. Contudo, apesar de distintos, estes cenários tocam-se de diferentes formas, nomeadamente em outros contextos migratórios europeus partilhados por portugueses, brasileiros e migrantes de outros países lusófonos, nos quais a partilha da língua portuguesa pode ser tanto um ponto de união quanto de fricção. As contradições que emergem destes encontros revelam como a língua, em contextos migratórios, engendra relações de poder e históricas que resvalam na experiência dos migrantes.
Esta proposta, portanto, justifica-se diante da relevância dos usos e experiências da língua portuguesa do Brasil num momento histórico em que as comunidades migrantes brasileiras tornam-se cada vez mais numerosas e significativas em diferentes países europeus, trazendo a necessidade de pensar, a partir de abordagens multidisciplinares, como a dimensão linguística informa e transforma a experiência cotidiana dos migrantes.
Almeida, Miguel Vale de. 2004. «Crioulidade e Fantasmagoria». Comunicação apresentada na sessão de trabalhos Pós-colonialismo, pós-nacionalismo, pós-socialismo: a democracia como suspensão e a demanda por uma nova normalidade, do XXVIII Encontro Anual da Anpocs, Caxambu, Minas Gerais, Brasil.
Canagarajah, Suresh (ed.). 2017. The Routledge Handbook of Migration and Language. Routledge: London & New York.
Koven, Michele. 2013. «Speaking French in Portugal: An analysis of contested models of emigrant personhood in narratives about return migration and language use». Journal of Sociolinguistics, 17(3): 324-354.
Martin-Jones, Marilyn et al. 2019. «Literacy in the study of social change: Lusophone perspectives ». International Journal of the Sociology of Language, 259: 1-13.
Medeiros, Paula Cristina Pacheco. 2006. «Lusofonia: discursos e representações». O Cabo dos Trabalhos: Revista Electrónica dos Programas de Mestrado e Doutoramento do CES/FEUC, nº1.
Pina-Cabral, João de. 2010. «Lusotopia como Ecumene». Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo. 25 (74): 5-20.
Coordenador(a): Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti (Universidade Federal da Bahia / Brasil)
Coordenador(a): Maria Isabel Correia Dias (Universidade do Porto / Portugal)
A educação é campo de conhecimento, práticas e experiências coletivas. No contexto brasileiro, tem sido também delimitação de investigações acadêmicas e criação de ações em prol da diversidade, do bem-viver e de projetos no Presente-Futuro. O objetivo desse painel é trazer sujeitos, epistemologias e abordagens empíricas a partir de experiências educativas e sociais de viés crítico na realização de pesquisas de mestrado, doutorado e docência, tomando dinâmicas educativas e categorias multireferenciadas como eixo. Formação docente, livros didáticos, questões identitárias e metodologias ativas e coletivas são os recursos delimitados pelas integrantes dessa sessão.
Abrir diálogos, ampliar visões e interpretações, acervos e fontes documentais, incentivar a ancoragem em produção de conhecimentos e saberes sobre a realidade brasileira no Tempo Presente. Valorizar e circular resultados de investigações acadêmicas com delimitação no campo da educação (formal, não formal), fomentando também a criação de ações em prol da diversidade e do bem-viver. Narrativas e experiências que adotaram metodologias ativas, planejamento a partir da trilogia movimento=ação=aprendizagem e pesquisa empírica retratando percursos coletivos são mais do que descrições, mas intervenções e ações educativas no que se refere às condições de aprendizagens nos múltiplos processos e espaços destinados ao campo educacional.
BALLESTEROS, María de la Paz Pando; RAMÍREZ, Alicia Muñoz & RODRÍGUEZ, Pedro Garrido (Eds.). Pasado y presente de los derechos humanos: Mirando al futuro. Salamanca: Ediciones de la Universidad de Salamanca, 2018.
CAVALCANTI, Vanessa Ribeiro Simon. Quando Ser e Conviver é a única Resposta: Direitos Humanos como Possibilidade Educativa. In: Educação, Justiça e Direitos Humanos: Num Mundo Em Transformação, ed. Carlos V. Estêvão et al., Axioma Series in Pedagogy and Philosophy of Education 4 (Braga: Axioma, 2023), 73–90.
ESTÊVÃO, Carlos Alberto Vilar. Amores incertos em tempos de desassossego. Uma reflexão sobre direitos humanos, justiça e educação. Famalicão: Humus, 2021.
EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2017.
FEDERICI, Silvia. Reencantando o mundo. São Paulo: Coletivo Sycorax, 2022.